quarta-feira, 11 de abril de 2018

Troca de Identidade


Os representantes federais petistas decidiram trocar seus nomes parlamentares, incorporando Lula às identidades. Cada um escolheu uma forma de incluir o nome pelo qual o líder maior do partido ficou conhecido e o resultado não deixa de ser estranho, caso a caso, como em todas as mudanças forçadas. Só o senador Paim, prudentemente, se absteve. 
A homenagem ao ex-presidente, encarcerado em Curitiba depois de sucessivas condenações e derrotas nas instâncias jurídicas, não deixa, porém, de ter seus méritos.  É preferível protestar dessa forma do que incentivar o vandalismo e os conflitos, como os que ocorreram, com maior frequência, a partir da ordem de prisão para Lula.

Só que não tardou para vir o troco e um deputado do DEM resolveu agregar Moro ao nome dele e já oficiou a mudança à mesa da Câmara. Se eu fosse o Moro pedia para suspender a homenagem.  O deputado se chama Sostenes...
Enquanto isso,  na Câmara de Porto Alegre  um vereador decidiu homenagear a Lava Jato e na TV Câmara o nome dele já é creditado junto com o título da operação anticorrupção. E deve vir mais renomeações por  aí.
Na real, a tais homenagem não chegam a ser inéditas. Nas redes sociais, no Facebook especialmente, volta e meia surgem  campanhas, como a que teve grande adesão, quatro ou cinco anos atrás,  com o acréscimo da tribo Guarani-Kaiowa aos nomes de registro.  Isso porque os Guarani-Kaoiwa estariam ameaçados de genocídio pela invasão de suas terras e destruição de sua cultura. À época fiz um deboche,  postando no FB que preferia o bravo Guarani de Bagé ao Guarani-Kaiowa. Quase fui linchado digitalmente por minha demonstração explícita de insensibilidade.  Porém,  já não se fala mais nas graves ameaças à tribo do Mato Grosso do Sul que, pelo  jeito, sobrevive firme e forte a todas as investidas, inclusive as que usam em vão o belo nome composto pela qual é conhecida.  Assim, sou tentado a concordar com o editor Júlio Ribeiro quando  afirma que essas manifestações não passam de um ativismo tão romântico como inócuo.

Porém, o “efeito boiada” funciona nesses  casos e basta um ativista postar um card em defesa de uma causa qualquer que a coisa logo viraliza. O  que me preocupa  é que daqui a pouco possam  aparecer gaiatices do tipo “Somos Gilmar Mendes”,  ou “Somos Gleisi”, embora apareçam perfis como “Time Gleisi Hoffmann” (deve ser o Ibis da política).  Imaginem agora uma  mobilização em torno de um árbitro de futebol, criticado depois da atuação em um clássico. Quem se arriscaria a estampar um “Somos todos Vuaden”?  Ué, se para a Gleisi pode, o Vuaden também merece.  Radicalizando, quem duvida de um “Somos Piffero”, ou de um “Somos Celso Roth”? O  futebol, pelos antagonismos que gera, como na politica, também se presta a esses posicionamentos.  Também não duvido o surgimento de um “Somos Globo” que seria ferozmente atacado com comentários de “mídia golpista”. 
Prefiro mesmo a opção do amigo  Caco Belmonte, que é mais debochado que eu e que se anuncia como “Caco Ninguém Belmonte”, mas não concordo com o Ninguém.  Nessa linha, estou pensando em passar a me assinar como “Flávio da Mesa ao Lado Dutra”.  O que acham?

Olha, não é má vontade nem  rabugice da minha parte, mas é que não acredito na eficácia  e desconfio da sinceridade dessas entre aspas homenagens. Além disso, tem que ter muito  desapego para trocar de identidade  por  causas tão contestadas. 

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