domingo, 21 de janeiro de 2018

Um tributo aos assessores de imprensa


Cada vez que um órgão público é cobrado porque falhou no cumprimento da sua missão, ou é provocado a  dar explicações sobre o inexplicável, juro que me compadeço dos assessores de imprensa dessas instituições. Imagino os  coitados  se debatendo, aflitos e desamparados, buscando formas para enfrentar a crise do momento.  Fico penalizado até mesmo com a assessoria do Instituto Lula, a emitir  notas oficiais quase diariamente para contrapor às  denuncias, tantas e tão  frequentes, contra o ex-presidente. O  Jornal Nacional chegou a criar uma vinheta gráfica para demarcar as versões dos acusados e, assim, justificar que ouviu ou tentou ouvir todos  os lados, uma prática ainda válida  para  o jornalismo.

Agora mesmo acompanho a  tentativa do Detran do Rio de Janeiro de explicar porque  o sujeito que atropelou os caminhantes do calçadão de Ipanema, mesmo com mais de 60 pontos  em multas, abriu processo  para ter uma nova carteira de motorista. Vão explicar, explicar e não vai adiantar nada. Mesmo  que tivessem uma explicação convincente - e  não é  o caso – a versão que vai ficar é de um órgão burocrático, ineficiente e sem controle sobre os processos de sua responsabilidade. 

Na raiz da minha solidariedade à aguerrida tribo dos assessores de imprensa de órgãos públicas está o fato de que já  frequentei esse lado do  balcão. Na Prefeitura  de Porto Alegre, no governo do Estado e na Assembleia  Legislativa tive  experiências enriquecedoras, a maioria, mas traumáticas muitas vezes.  No âmbito municipal, prestador  de serviços por  natureza, um bico de luz apagado na frente da sua casa pode virar crise, o  que dirá dos buracos nas ruas, da água que falta,  da capina atrasada e das obras paradas. No governo do Estado e na Assembleia a cobrança é direcionada mais  para as questões políticas, terreno igualmente  minado.  Os  governantes e os parlamentares são, permanentemente, grandes vidraças.

Confesso que fico aliviado quando não  estou envolvido com os  rolos que aparecem na mídia dia sim, outro também.  Pode  ser um sentimento  menor, mas é assim que funciona. Até tentei, tempos atrás, contribuir com a  categoria, ao produzir um TCC no final do MBA em Jornalismo Empresarial, na então Esade, que intitulei pretensiosamente de Vida real em assessoria de imprensa de gestão pública:  pragmatismo em dez mandamentos.  

Pra resumir, diria  que me agradam especialmente dois mandamentos. Um deles é  o sexto, mas deveria ser o primeiro: "Tenhas consciência de que se o governo é bem avaliado, o mérito é do governante; caso contrário, a culpa é da comunicação".  Esse mandamento foi inspirado numa frase parecida, que ouvi de Ibsen Pinheiro, a quem tive a honra de substituir na Comunicação do Palácio Piratini, no governo Rigotto. O outro é o quarto mandamento: "Estejas sempre alerta porque alguém, em algum lugar, está provocando problemas sobre os quais você terá que responder",  dando conta de que serviço público tem costas largas e responde por suas mazelas e, muitas vezes, por  outras que lhe dizem respeito apenas secundariamente. Mas a cobrança vem igual e é preciso estar  atento e forte.

Para que este textão não vire um novo TCC, encerro como conclui o trabalho acadêmico: caberia incluir o 11º mandamento, talvez  o mais importante - "No serviço público, de tédio não  se morre".


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