segunda-feira, 14 de junho de 2010

No mundo da Copa

Nasci em ano de Copa do Mundo, em 1950. Portanto, diferente do que dizem alguns dos meus detratores, não assisti aos jogos daquela Copa. Na verdade, só tive consciência do que era a competição em 1958 quando, numa manhã fria de julho, ouvi pelo rádio, na narração compassada de Mendes Ribeiro, a vitória do Brasil sobre a Suécia na final.

“Pelê, Pelê”, gritava o Mendes Ribeiro, trocando os acentos. Não sei se era bossa do narrador ou desconhecimento do verdadeiro apelido daquele que viria a ser o Rei do Futebol. O som do velho rádio valvulado era instável, vinha e fugia, de repente se expandia para logo depois ficar quase inaudível. Aquilo era magia pura para o garoto de 8 anos. Como era possível o som chegar desde a longínqua Suécia até minha casa na rua Bagé, em Porto Alegre e ser capturado pelo aparelho estrategicamente instalado na sala? Só anos mais tarde vim a comprender como funcionava a transmissão via SSB (single side band), o sistema que o mago engenheiro Homero Carlos Simon pôs a funcionar e que catapultou a recém inaugurada Rádio Guaíba à condição de principal emissora dos gaúchos. (No Google devem ter explicações técnicas melhores do que as que eu poderia fornecer).

O advento das transmissões via satélite, a partir da década de 70, acabou com a jornada épica que eram até então as coberturas de Copas do Mundo, tanto por TV como por rádio. Na TV, só em 1970, na Copa do México, tivemos transmissões diretas, ao vivo, mas ainda sem cores. Até então, assistir aos principais jogos só em VT que nem sempre eram fidedignos em relação às transmissões de rádio. Ficávamos desconcertados porque aquele pênalti inquestionável para o Brasil, denunciado no rádio, não era bem assim na exibição da TV. Alguma coisa estava errada. Os narradores e comentaristas certamente exageravam no conceito de que o rádio é o teatro da mente e não poucas vezes apelaram para a ficção em nome do patriotismo. Mas o rádio tinha credibilidade, por isso acreditava mais no que era narrado do que no que no era visto depois.

A partir de 1974, com a Copa ao vivo e a cores direto da Alemanha, participei de todas as coberturas dos mundiais de futebol, sempre na retaguarda, até 1994, quando fui escalado pela Rádio Gaúcha para coordenar a equipe da RBS em Dallas. Passei longos 52 dias em Dallas, uma cidade inóspita, cuja maior atração é o depósito de livros de onde Lee Oswald teria disparado o tiro mortal no presidente Kennedy. Teria tantas histórias para contar daquela experiência única, mas vou poupá-los de reminiscências saudosistas. O que eu observei na verdade, foi uma copa sem brilho, inclusive em relação ao futebol brasileiro, que conquistou o tetra com uma equipe pouco mais do que aplicada, onde despontavam a liderança de Dunga e o talento de Romário.

Depois de 94, virei telespectador de copas do mundo e confesso já não curto os jogos com o mesmo entusiasmo. Acho que todos estes anos ligadíssimo provocaram uma saturação. A overdose está cobrando tributo. O efeito colateral é que assisto à Copa de sangue doce, feliz a cada vitória brasileira, mas sem depressão em caso de fracasso.

Ajo, talvez, à semelhança da seleção do Dunga: nada de emoções extremadas, nada de grandes surpresas. Mas diferente de mim, um mero telespectador, a seleção tem uma missão a cumprir e aposto minhas fichas como o Brasil, com este time mediano ao estilo de Dunga, vai chegar lá, repetindo 94. Se isso acontecer, minha gente, mudo de atitude, vou explodir de alegria, estourar foguetes e sou capaz até de sair gritando “Brasiiiilllll”. Não me cobrem coerência nessa hora.

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