* Publicado nesta data em coletiva.net.
Tenho um certo fascínio
por estes programas de tv sobre viagens e turismo. Existem até canais com uma
grade totalmente dedicada ao tema, entre eles o Modo Viagem na tv por
assinatura. O que me chama a atenção nessas atrações é que invariavelmente
dedicam boa parte do tempo da produção à culinária do local visitado. Até
parece que o programa é feito por esfomeados. É só conferir, por exemplo, o “Ruas
pelo Mundo”, do viajante profissional Rodrigo Ruas, que também
aproveita as incursões, enquanto degusta uma iguaria nativa qualquer, para gravar em paralelo outro programa, “O Mundo é uma Passagem”, com Anne Bueno, a
mulher dele. E ela também aprecia uma boa comilança.
O Globo Repórter, que
apelidei de Globo CVC Repórter devido a quantidade de viagens empreendidas pela
inesquecível Glória Maria, igualmente reservava sempre um segmento do programa
a uma mesa farta servida à repórter, seja numa tenda de beduínos no deserto,
seja numa cidade de nome e culinária estranhos, lá no círculo ártico. Glória
fazia caras e bocas diante do rango oferecido e, invariavelmente, acrescentava
um “que delicia!”.
Em certos casos, a gastronomia se sobrepunha às
obrigatórias visitas à locais históricos, às paisagens tidas como de tirar o fôlego,
ou às manifestações culturais dos povos visitados. De repente, uma
indescritível aurora boreal é sucedida pela degustação de um prato com gosmentos
moluscos.
A minha fascinação e
eventuais implicâncias por tais programas talvez se deva ao fato de que sou um
viajante muito ocasional – fiz minha primeira viagem à Europa só aos 60 anos - e sem
qualquer propensão a experimentos culinários.
Quase tive engulhos quando assisti num extinto Manhatan Connection, ao apresentador
Pedro Andrade descrever os tipos de comidas exóticas que tinha provado – e gostado!
,– nas viagens para seu programa solo, “Pedro Pelo Mundo”.
As viagens televisivas
servem para mexer com a imaginação e as papilas gustativas de quem não pode sair
mundo a fora, e aí me incluo na
categoria Invejoso Assumido. Como já
revelei, sou um viajante de modestos roteiros
e absolutamente conservador à mesa, por
isso já defini minhas preferências culinárias fora de casa: no Brasil, a
inigualável à la minuta e, no exterior, a sempre presente comida italiana, pizzas
e massas. Não tem erro, nem programa de viagem na TV que mude meu cardápio.