sábado, 23 de junho de 2018

Pra não dizer que não falei no Neymar


As atuações e o comportamento de Neymar estão dividindo mais os  brasileiros do que coxinhas e petralhas. Por isso mesmo não tenho dúvida em escalá-lo, ao lado de Cristiano Ronaldo e Messi, nas figurinhas douradas do meu álbum da Copa até  aqui. O CR7 dispensa justificativas e Messi figura neste pódio  porque sua trajetória em copas tem a dramaticidade de um tango, com o perdão do clichê. E aí a comparação com seu predecessor Maradona é inevitável. Carreira por carreira, sem maledicência, a de Maradona na seleção argentina dá de dez na de Messi.

Mas falemos de Neymar, o menino Ney como passou a ser chamado, não sei se carinhosamente ou de forma debochada. É assim a vida de Neymar no momento: motivo de acaloradas opiniões contra a e favor. O pênalti desmarcado contra a Costa Rica existiu ou foi mais teatro? O choro após o jogo foi sincero ou mais uma encenação? São apenas dois exemplos das polêmicas que as atitudes de Neymar provocam.

Fui buscar nas redes sociais, ainda sob a adrenalina do sufoco que foi o jogo contra a Costa Rica, uma seleção de frases sobre o desempenho do menino Ney, frases espirituosas algumas, cruéis  outras, de gente que não quer saber se ele  ainda está fora de ritmo ou se ressentindo das pancadas dos adversários.

A maioria das postagens faz referência ao cai-cai do craque, como esta, cujo autor desconheço: “A sorte de Neymar é que ele joga ao lado de Jesus. Cada vez que ele cai, Jesus fala: ‘Levanta-te e anda’. Mais esta: “Esse meu Brasil é um cai, cai, quando o Ney não cai, o Tite cai”. (Euzebio Francisco). ” O Neymar em pé faz um gooooool!!!!”(Luiz Gustavo Bordin). Mais uma nessa linha, dura não apenas com o  jogador: “Neymar cai. Tite cai. Temer que é bom, nada.” (Niria Steckel). 
Aproveito o gancho da postagem da Niria para lembrar a postagem que cometi: “Desse jeito o Neymar vai bater o Temer em rejeição.” Meu amigo Claudio Mércio pegou mais pesado ainda: “Eu não tenho vergonha de ser brasileiro. Eu tenho vergonha é do Neymar “. Nada, porém, superou a imprensa britânica que classificou o comportamento do atacante com quatro adjetivos depreciativos: “Mimado, resmungão, dramático e trapaceiro”

De minha parte ainda tentei ser condescendente, comentando numa postagem do Juremir Machado, que “o problema do Neymar é  que  não tem consciência da grandeza dele”. Para comprovar  que o assunto divide opiniões, fui contraditado em seguida num comentário de Silvana Superti: "O problema do Neymar  é que ele não tem consciência da pequenez dele. Infantil, arrogante e desonesto".  Na linha dos britânicos...
O caso recebeu inclusive versões ideológicas nas redes. Tem gente garantindo que Neymar age como um direitista fanfarrão e, para outros, por ser muito reclamão só pode ser esquerdista.

A verdade é que o menino Ney tem boas chances de se recuperar diante de seus mais ferozes críticos. Basta se manter mais tempo em pé, marcar mais alguns gols e contribuir decisivamente para o hexa. Já o Temer, citado e comparado aqui, nem a seleção campeã salva.





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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Reflexões em tempo de Copa


As duas funções que mais evoluíram no futebol foram as do goleiro e do árbitro. Por motivos diferentes, é óbvio. O goleiro é o mais privilegiado dos  jogadores porque é o único que pode jogar com as mãos  e  também é  o único a contar com um treinador só para ele,  o que talvez explique a evolução desses profissionais da bola. Entretanto, é no uso dos pés em saídas de bola mais qualificadas, ao invés dos chutões  a deus dará, que ocorreu mais um fator  de diferenciação dos goleiros. O futsal já  usava essa estratégia do goleiro-linha e no futebol acredito que o alemão Neuer a consagrou na Copa  de 2014. Pelo menos, foi a primeira vez que assisti a um goleiro tão adiantado e tão desenvolvo  nas saídas da área, no jogo Alemanha x Argélia, no Beira-Rio.

Segundo os estudiosos do tema, a grande transformação que fez com que o goleiro fosse visto como um jogador a mais, começa a partir  de 1993 quando a Fifa proíbe que ele agarre com a mão as bolas recuadas pelos companheiros.  O objetivo era acabar com o antijogo, mas o resultado superou a isso, obrigando o goleiro a ser hábil com os pés e gerando novas possibilidades para seu time.

Antes disso, o futebol brasileiro já começara a se livrar da fama de não ser um grande formador  de goleiros, fama originada talvez no histórico de duas excepcionais seleções  nacionais contarem como titulares no gol com profissionais inconfiáveis, para dizer o mínimo, no caso  Félix (1970) e Valdir Peres (1982). É bem verdade, também, que desde as peladas na infância nossa vocação ofensivista reservava aos “perebas” a alternativa de ser goleiro, exceto se o garoto fosse o dono da bola.

Aí veio a era “vai que é tua Taffarel” nas três copas dos anos 1990 e o Brasil passou a ser exportador de craques no gol, a começar pelo próprio Taffarel,  hoje o treinador de goleiros da seleção, que saiu do Inter para os italianos Parma, depois Reggiana e mais tarde o Galatasaray (Turquia).  Não dá para esquecer de Rogério Ceni, o goleiro artilheiro do São Paulo.  Essa geração resultou numa linhagem de grandes goleiros, que se dá ao luxo de deixar Marcelo Grohe fora da seleção. Vale  lembrar que dois dos três convocados para a posição atuam no exterior, Alisson no Roma  e Éderson no Manchester  City.

Já o árbitro ganhou nova dimensão graças a tecnologia, que, afinal, chegou ao futebol, vencendo a resistência dos velhinhos da International Board, o órgão da FIFA que dita as regras do futebol. O VAR (o árbitro assistente de vídeo, em tradução livre)  e o chip, que alerta se a bola ultrapassou ou não a linha de  gol, já foram apelidados de “paraquedas das arbitragens”, embora para os críticos seja mais gente cometendo erros.

Graças a interferência do VAR quatro pênaltis foram confirmados pelos árbitros na Copa até agora.  A aplicação do sistema, entretanto,  ainda é controversa e as incidências do jogo Brasil x Suíça servem de exemplo, no caso pela omissão.  Por outro lado, a controvérsia reduz  o temor dos mais fanáticos de que essa tecnologia acabaria com as acaloradas polêmicas em torno de lances duvidosos. E, dessa forma, os árbitros que deveriam ser figuras secundárias no jogo  (“árbitro bom é o que  não aparece”, é uma das máximas do futebol), foram guindados à posição de grandes destaques, merecedores, já há um bom tempo,  de credenciados observadores da sua atuação nas coberturas esportivas de rádio e tv.

A verdade é que todos os méritos dos goleiros e  os eventuais acertos do arbitro caem por terra  quando um e outro falha. No caso do goleiro, vale de novo o exemplo do Brasil: Alisson, de grandes atuações até aqui, teve a  reputação arranhada por não ter saído do gol e interceptado o cruzamento que resultou no empate  da Suíça. Já os árbitros são historicamente  responsabilizados quando o resultado não favorece ao time para  o qual se torce. O VAR pode  ajudar, mas não resolve tudo, porque a decisão da arbitragem em campo sempre estará sujeita ao fator humano, até  mesmo se deve ou não acionar o sistema.

Assim, o arbitro e o goleiro não escapam à grandeza ou à desdita do futebol, ditadas sempre pela emoção que move milhões de entusiastas pelo mundo todo.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Anotações da Copa de 94


Texto resgatado e atualizado a partir do original publicado em 28/06/2012. A propósito, vai ter Copa novamente nos EUA.

O repórter de campo anuncia no meio do jogo Grêmio x Flamengo, naquele 24 de junho de 2012:

- Vai entrar Matheus. Ele é filho de Bebeto e era o recém nascido saudado no gesto do “nana, nenê” pelo pai,  no jogo contra a Holanda na Copa de  94.

A informação foi suficiente para  voltar  no tempo e avivar minha memória, eu que era um dos tantos brasileiros presentes no velho estádio Cotton Bowl, de Dallas, e me vi torcendo descaradamente pela seleção do Parreira, contrariando minha índole de cronista esportivo sempre tão contido. Estava a serviço, pela Rádio Gaúcha,  e o jogo Brasil x Holanda, pelas quartas de final,  foi um dos dois únicos a que assisti ao vivo, em estádio em uma Copa, e que jogo! – o outro foi Arábia Saudita x Suécia, no mesmo Cotton Bowl, com Renato Marsiglia no apito.

1994: depois de coordenar quatro copas do mundo na retaguarda fui finalmente escalado para a Copa dos Estados Unidos.  Quase não cheguei lá.  No voo intercontinental , ainda no tempo da saudosa Varig, Varig, Varig tive uma  queda de pressão tão forte que pensei que ia retornar  ao Brasil num pijama de madeira, encoberto pelo pavilhão nacional e da RBS. Em frações de segundos passou o filme da minha vida e eu me desesperei só de pensar que não veria mais meus filhos.  O atendimento dos comissários, entretanto, foi eficiente e eu ainda contei com a assistência de uma verdadeira junta médica, um grupo de profissionais paulistas reunidos a bordo rumo a um congresso nos EUA.  Logo me recuperei, mas o companheiro de viagem e de uma jornada de 52 dias em Dallas não sossegou. A cada movimento meu, nos desconfortáveis bancos da classe econômica, o engenheiro Gilberto Kussler tinha um  sobressalto.  Mas sobrevivemos os dois.

Durante a Copa, convivendo a toda hora no nosso estúdio do Centro Internacional de Radiodifusão, em  Dallas , o nosso Giba, gringão de Casca, profissional dos bons, tanto assim que hoje presta serviços a rede Globo de rádios,  tinha, porém, momentos de rabugice especialmente quando eu escapava para fumar.  Mas quando os trabalhos se encerravam lá pelas 10 da noite,  era um grande parceiro para jantar e tomar uma cervejinha.

Numa dessas incursões noturnas descobrimos o London, London ,um restaurante ao lado do nosso hotel com uma comida maravilhosa, cerveja sempre gelada e atendimento atencioso.  Atencioso até demais, eu diria.  Já na primeira noite, o garçom perguntou se gostaríamos de ficar num lugar mais reservado. Recusamos a oferta e tratamos de comer, beber e, cansados da longa jornada, nos recolhemos logo ao hotel.  No segundo dia, voltamos ao restaurante e foi aí que notamos a estranha movimentação de casais do mesmo sexo nas mesas. Homem com homem, mulher com mulher em discretas mas intensas confraternizações.  A essa altura o garçom já estava imaginando que o alemão Kussler e eu formávamos mais um casal gay. A verdade é que a comida e a bebida do London, London caíram no nosso gosto e, até pela conveniência  e pelo preço da refeição, continuamos a frequentar o local, se bem que evitávamos manifestações mais expansivas, mantendo sempre uma postura circunspecta, como convinha.

Nosso hotel era o Melrose,  uma construção vitoriana na entrada do bairro que lhe empresta o nome. O bairro de Melrose é uma espécie de mistura de Cidade Baixa com Bom Fim de antigamente, zona boêmia de Dallas, de muita diversidade em todos os sentidos.  O hotel tinha um dos melhores bares do gênero em todos os EUA, frequentado pela fina flor de Dallas, mas nas sextas e sábados transformava-se num treme-treme pelas festas particulares e de empresas, que bloqueavam um andar inteiro para os executivos e suas acompanhantes.  Se aqueles corredores, elevadores e quartos falassem...

Minhas reminiscências daquela Copa   da estada no Texas me obrigam a voltar ao jogo Brasil x Holanda para afirmar, sem dúvida, que o juiz da Costa Rica garfeou o time laranja, não marcando pênalti de concurso do Mauro Silva.  Na real, seria uma injustiça perder aquele jogo épico, depois dos belos gols de Romário, Bebeto – o gol da cena do “nana,nenê” – e daquela falta cobrada pelo Branco, um canhonaço que garantiu a vitória.

À noite, as ruas centrais de Dallas foram invadidas por torcedores do Brasil e da Holanda,  estes com suas lindas loiras e homens de cabeleiras laranjas, numa saudável confraternização, regada a muita cerveja.

Hoje, passadas cinco Copas, pergunto  quantos estádios os Estados Unidos construíram para o mundial de 94? Depois da hesitação do interlocutor, respondo: Nenhum! Os americanos deram um trato em seus velhos estádios, adaptaram para o futebol os campos destinados a outros esportes, enveloparam antigas instalações e a sempre exigente FIFA não chiou na época, aceitando tudo em nome da abertura de um novo e promissor mercado para o futebol.

Em compensação, os aeroportos, a hotelaria, os outros serviços dos EUA...

domingo, 10 de junho de 2018

O misterioso KA

A  rua Osmar Meletti, onde moro há mais de 35 anos no bairro Espírito Santo, é uma via sem saída, de um lado cinco casas e do outro a praça Lagos, que deve ser uma homenagem à capital da Nigéria.  A morada dos Dutra é  a última da rua, em frente a um largo que serve de espaço para o estacionamento de um bom número de carros, especialmente  quando recebemos visitantes para o churrasco dominical.  Quando  nos mudamos era a rua 8 da Vila Esplanada, mas achava de péssimo gosto morar numa rua com nome de número, por isso consegui por meio de meu irmão Luiz Vicente, então vereador, homenagear meu ex-colega de rádio Guaíba, recém falecido, com o nome da charmosa rua.

Nada de mais acontece na Osmar Meleti, sumiram até  os maconheiros que se reuniam todas as noites sobre a figueira na calçada da praça e garantiam, pela presença ostensiva, uma boa segurança ao local.  Hoje, a movimentação se resume ao caminhão do lixo e ao segurança com sua moto, cada vez menos  frequente nas suas rondas, além é claro do entra e sai dos poucos moradores.

Essa monotonia tem sido quebrada de um  tempo para cá pela presença de um misterioso automóvel KA.  Cinza perolizado, modelo dos antigos, tipo Kinderovo, o pequeno carro não tem hora para estacionar junto aos  três pinheiros  que  fazem as  vezes de portal para a praça. Num fim de tarde, em dia de semana,  penso ter visto um rapaz rondando o veículo e se esgueirando para o matagal da área verde. Outra vez acredito que era uma moça, vestindo calça jeans e camiseta, a figura  que saiu da porta do motorista, deu volta no carro pela traseira e retornou pelo lado do  carona. Mas foi só essa a exposição que tiveram aqueles que, por minhas observações, concluí  tratar-se de um casal nos moldes tradicionais, ou seja, homem  e mulher. Um misterioso casal, que escolheu meu canto no mundo para seu relacionamento quase diário.

O que fazem quando estão juntos, compartilhando o exíguo espaço do KA por mais de hora? Deduzi, pelas sacudidelas frenéticas do carro, em outra observação do alto da minha janela, que a dupla estava se exercitando sexualmente. E exercitando é uma definição adequada para o evento, na opinião abalizada de quem adquiriu alguma experiência nessa prática em Fucas, o avô dos Kas no ítem desconforto. Só que isso foi no passado e em locais que hoje até forças de segurança frequentam  com o devido cuidado. Os tempos mudaram desde então e os motéis se disseminaram pela cidade, não havendo, portanto, razão conhecida para encontros tão insólitos e em ambientes tão naturais.  

Por que o casal do KA insiste em desafiar as convenções e em agir assim? Que são eles? De  onde vem? A relação implica infidelidade? De  qual dos  parceiros? A escolha do local e a forma como transam é uma espécie de fetiche?

Faço esses questionamentos cada vez que observo o KA estacionado e imagino o casal, digamos, interagindo corporalmente. Até pensei em abordar a dupla e tentar descobrir o mistério que  envolve a presença dela, com tanta frequência,  junto a minha morada. Desisti, porém, da abordagem,  um tanto por  respeito à privacidade que todos os amantes merecem e outro tanto para não me privar de exercitar a ficção que a presença deles está me proporcionando.

Na verdade, preciso confessar que ajo assim como um tributo ao amor, transgressor que seja. Não parece, mas lá  no fundo sou um romântico.

domingo, 27 de maio de 2018

A professora de lingua


A gamação de jovens alunos por suas professoras é fato comprovado e mais real e intenso  quanto mais jovem for a professora e mais taludo for o estudante.   Usei o termo gamação, das antigas, porque o fenômeno não é novo.  A recíproca - professora com aluno – também é verdadeira e até filme já foi produzido com essa temática. O premiado Notas sobre um escândalo (2005), protagonizado pela bela e talentosa Cate Blanchett, conta a história de uma jovem professora que vive um romance secreto com um dos seus  alunos, até serem descobertos por outra professora,  interpretada por Judi Drech.

Pois, meu amigo Rossano viveu uma experiência semelhante com sua professora de Inglês do ensino médio.  O caso se deu numa pequena cidade do interior e, diferente do filme em que o romance virou escândalo, a única testemunha é um amigo de fé, que mantém até hoje um silêncio obsequioso sobre o assunto, embora faça insinuações cada vez que se encontram.  É importante explicar também que os finalmente entre aluno e professora ocorreram poucos anos depois dos tempos em que ambos frequentavam a mesma sala de aula, na escola pública da comunidade.   Naquela época, o garoto se encantava com a jovem e charmosa professora, o que, aliás, não era privilégio só dele, porque a moça merecia homenagens de toda a gurizada da classe.  A mestra, porém, dedicava especial atenção ao Rossano, que era um dedicado aluno de Inglês. Anos depois, é com uma ponta de emoção que ele relembra a abordagem que virou episódio:

- Era um fim de festa e eu, ao contrário de outros fins de semana, não havia pegado ninguém. Aí avistei a professorinha, junto com outra moça e um amigo. Eu já havia bebido um pouco além da conta e tomei coragem para encarar a professora.  Foi o que fiz.

Para alegria do Rossano, a jovem senhora, com seus 35 anos, descasada e muito competitiva, não o dispensou.  Foi seu erro, ou seu acerto.  Rossano tanto insistiu que conseguiu arrastá-la para tomarem uma ultima bebida e da mesa partiram para a cama, na casa dele, após um ultimato irrecusável (“Essa é a nossa hora, vamos!”) do jovem.

- Olha, eu estava com 20, 21 anos e nessa altura da vida já tinha uma boa experiência sexual, mas o que a professora fez comigo foi uma pós graduação! Parecia faminta de sexo!–  conta Rossano, agora visivelmente excitado com a lembrança,

 Mas não revelou outros detalhes da transa, além da novelesca  “faminta de sexo ”,  apenas alusões do tipo “ela era professora de língua...”

Voltando no tempo, lembrou que a manhã já ia alta quando despertaram e, papo vai, papo vem, Rossano descobriu que a professora tinha entre as alunas a namoradinha de ocasião dele, uma recatada jovem dos seus 17 aninhos, que jamais imaginaria as escapulidas de fim de semana do seu amado parceiro, o que dirá um affair com a mestra dos conhecimentos linguísticos.

A descoberta provocou uma inesperada reação da professora;

- A Fulana, é? Ela nem é tudo isso -, o que soou como um “sou mais eu”.

A verdade é que professora e ex-alunos não voltaram a se encontrar nas mesmas circunstâncias. Rossano mudou de ares, virou homem sério, comprometido e fidelíssimo, mas jamais esqueceu a maneira como a professorinha tratou sua aluna na conversa pós-transa:

- Era como se já estivesse competindo.  Como explicar isso?

Também não tive resposta à indagação. Pensando bem, cabeça de mulher é coisa muito complexa, ainda mais quando está em disputa contra uma competidora mais jovem. Aí, pelo que deduzi, só a experiência acumulada para fazer frente à juventude. E uma professora de  língua tem uma vantagem a mais.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Tempo de Copa do Mundo


* Publicado originalmente no Coletiva.net, em 23/05/2018
Claudio Coutinho era capitão do exército e foi preparador físico na vitoriosa campanha do tricampeonato da Seleção Brasileira no México, em 1970. Depois, assumiu como treinador da Seleção em 78, na Argentina, quando cometeu a sandice de deixar Falcão de fora, em detrimento do brucutu Chicão. Essa opção contribuiu para que o Brasil ficasse fora das finais, se bem que até hoje permanecem as suspeitas de que os peruanos arreglaram para os argentinos decidirem o título.
Maracutaias e equívocos a parte, Coutinho (gaúcho de Dom Pedrito) deixou sua marca no futebol brasileiro, nem tanto pelo estilo europeu que defendia, mas pela terminologia que passou a empregar e que contribuiu para renovar o futebolês. Exemplo é  overlaping, ou ponto futuro, que descrevia o procedimento em que o jogador combinava o lance com um companheiro, já se posicionando para receber a bola mais à frente. Introduziu também o conceito de polivalência, baseado no futebol total da Holanda da Copa de 74, em que cada jogador se desdobrava em mais de uma função em campo.

Coutinho estava adiante do seu tempo, mas foi ridicularizado pela mídia conservadora daquela época e não teve o devido reconhecimento ao falecer, precocemente, aos 42 anos, quando praticava pesca submarina.
Atuei por mais de 25 anos nas editorias de Esportes e acompanhei de perto a evolução do futebol nesse período e as mudanças na linguagem da chamada crônica esportiva. O rádio, por lidar com a emoção da instantaneidade, continuou grandiloquente. A imprensa escrita, porém, modernizou em muito seus conteúdos nas matérias de esportes, desapegando-se da terminologia inglesa que impregnava, especialmente, a cobertura do futebol com seus corner, match, team, goal e outros tantos. A TV, por seu lado, conseguiu livrar-se da influência do rádio e o primado da imagem é que condiciona a linguagem, misto de emoção e fala mais elaborada. 
Hoje o futebolês alterna modernidade e singularidades. Nas posições dos jogadores talvez tenham ocorrido as maiores mudanças, dos originais ingleses beck, center halfcenter foward, para volantes, armadores, alas, passando antes pelos centromédios, laterais, meias, com apelo à polivalência na escolha das posições, como Coutinho pregava.

O Coutinho do futebol moderno incorporou no gaúcho Tite, com seu palavreado que beira a discurseira da autoajuda e conceitos como treinabilidade, flutuação, potenciar individualidades e outros termos que lembram os programas de gestão. Já os jogadores adoram afirmar que estão focados e os jovens repórteres abusam do termo desconforto, que substituiu o que se conhecia por lesão. O time quando passa a jogar bem encaixou, com?os setores bem conectados. Até a segurança privada nos estádios, isto é, nas arenas, trocou de nome: agora atendem por stewards (guardiões em tradução livre), o que, de certa forma, representa um retorno aos termos ingleses originais.

No caso das singularidades nada supera o cascudo e seu sinônimo, rodado, jargões usados para identificar os jogadores experientes, enquanto o brucutu, referido antes, é ofensa reservada aos jogadores desqualificados tecnicamente.

Até aqui resgatei parte de um texto de três anos atrás, porque acredito que continua atual e porque a Copa da Rússia está próxima. Acrescento que o que chama atenção neste momento é exatamente a desatenção, quase geral, à Seleção Brasileira. O tal de 'clima de Copa' ainda não se fez presente na população, diferentemente de edições anteriores, quando, a esta altura, estávamos todos imbuídos do 'já ganhou'. Até mesmo a convocação final para a Copa, sempre motivo de muitas polêmicas, só aqui gerou mais controvérsias, porque o assunto grenalizou com a presença na lista de Tite de ex-colorados e a ausência de mais gremistas.
A constatação mais simplória é de que o desencanto do brasileiro com tudo o que represente poder chegou ao futebol - a seleção é a pátria de chuteiras, dizia Nelson Rodrigues. Prefiro acreditar que este desencanto, que leva à apatia do torcedor, tem mais a ver com o vexame na Copa de 2014, especialmente o trágico 7 x 1 para os alemães, combinados à revelação de toda a roubalheira nas obras dos estádios e à corrupção dos cartolas da CBF. Em parte, Tite recuperou nossa confiança na Seleção, mesmo que, por questões ideológicas, setores à esquerda torçam, sem constrangimento, contra tudo o que seja verde e amarelo. Já eu aposto que, quando a bola rolar, a conexão torcida-seleção vai se dar. Isso, aliás, me lembra o enredo do filme Fé de Etarras (disponível na Netflix), em que terroristas bascos, enquanto aguardam uma nova missão ao mesmo tempo em que se desenrolava a Copa da África, acabam por deixar de lado sua histórica luta conta o governo de Madri e passam a torcer fervorosamente pela seleção espanhola na final diante da Holanda. Que a ficção de Fé de Etarras sirva de exemplo por aqui, com a certeza de que o Brasil não vai mudar, nem pra mais nem pra menos, com vitória ou derrota da Seleção.



quarta-feira, 16 de maio de 2018

Bullyng na terceira idade


Depois de uma certa idade, cidadãos de bem como eu ficam sujeitos à brincadeiras, no mínimo, de  mau gosto. Diria mais, indo ao encontro destes tempos de atitudes politicamente corretas: somos alvo de verdadeiros casos de bullyng. Bullyng na terceira idade. 

Fui vitima dessa insidiosa manifestação ao participar da abertura da exposição Do Fotograma ao Cinema que marca uma nova etapa do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, agora  sob a garra, a energia e a liderança de Beth Corbetta. Pois,  foi só adentrar ao recinto onde ocorreria a cerimônia e encontro o Márcio Pinheiro, jornalista com grande inserção na área  da Cultura. Nos saudamos efusivamente como dois companheiros de antigas jornadas, mas, ato seguinte, o safado do Márcio, fez uma advertência:

- Não deixa eles te etiquetarem.

- Como assim, Márcio?

- É que estamos num museu, num museu de Comunicação e, de repente, o pessoal da casa  pode achar que já tens idade para fazer parte do acervo. Aí te colocam uma etiqueta explicativa...

Sorte do Márcio é que eu estava de sangue doce, tanto assim que repassei a brincadeira adiante, identificando, entre os presentes, outras potenciais figuras para o acervo.

- Poiss jeu ssou no  maxxximo peçça da área kidsss dessse  achceervo, -  se incluiu o Márcio, com sua inconfundível língua presa,  que faz a alegria  do nosso comum amigo Jorge André Brites em memoráveis imitações e, para mim, funciona agora como retaliação à maldade cometida.

Maldades e brincadeiras à parte, é importante registrar o trabalho da Beth e da equipe que conseguiu reunir e mobilizar no Hipólito da Costa, situado ali na rua da Praia com Caldas Junior e que homenageia o patrono da imprensa brasileira.  Com parcerias e apoios públicos e privados o pessoal conseguiu recuperar o histórico prédio e reabrir a instituição para os visitantes e especialmente para os pesquisadores.


sábado, 12 de maio de 2018

Bastos e Koff, segundo tempo


O jornalista Carlos Bastos é uma fonte inesgotável de histórias a respeito de Fábio Koff, com o qual tinha grande afinidade. Algumas histórias até podem parecer desabonadoras, como as reveladas na postagem anterior, O mais vitorioso dos corneteiros ( https://viadutras.blogspot.com.br/2018/05/vitorioso-corneteiro.html),  mas que, na verdade, mostram uma dimensão mais humana do grande líder esportivo falecido nesta semana. No segundo tempo dessa saga, Bastos resgata pelo menos quatro episódios que contribuíram para que Koff conquistasse a fama de dirigente pra lá de competente, conhecedor de futebol, coisa rara entre a cartolagem e, em consequência, levantador de  taças como poucos.

Os primeiros episódios remontam às conquistas de 1983. Uma decisão de Koff acabou sendo fundamental para que o Grêmio chegasse ao título mundial. Contra tudo e contra todos, ele decidiu investir num único jogador os 80 mil dólares (uma grana para a época) que o Flamengo pagou de multa por exigir, antes do prazo, a devolução de Tita, que estava emprestado ao tricolor.  O jogador visado era Mário Sérgio, contratado ao Guarani de Campinas, que foi peça fundamental no jogo contra o Hamburgo, em Tóquio.  “O pessoal do Grêmio achava que ele tinha cometido uma loucura, mas o Koff manteve sua decisão e, como sempre, estava certo”, lembra Bastos.

Outro caso envolveu o técnico Menotti, campeão mundial com a Argentina em 78, que veio a Porto Alegre a convite da RBS. Num almoço com profissionais da empresa, Koff, também convidado, passou a contar, queixoso, as dificuldades enfrentadas pelo Grêmio para vencer a Libertadores de 83, tanto assim que foi decidida em jogos dificílimos   contra o Penharol, sem falar na célebre batalha de La Plata contra o Estudiantes. Menotti trinchou sua carne, sorveu um gole de malbec, e comentou em resposta, entre irônico e reconhecido à capacidade de articulação de Koff :  “Quem tem Renato no time e conta com Samuel Ratinoff para garantir na Conmebol juízes ‘isentos’ merece ser campeão”. Ratinoff, para quem não sabe, era um esperto e influente argentino, empresário de futebol, com conexões poderosas, desde os anos 1960, com os clubes brasileiros e na América Latina em geral.  Menotti sabia das coisas.

O conhecedor de futebol ficou evidenciado, em outro episódio recordado por Bastos, quando Koff, ao assistir a um treino dos juniores gremistas, não resistiu a uma corneta, com uma ressalva: “Pode pegar toda essa gurizada e mandar embora, menos aquele lateral-esquerdo ali .” O tal lateral-esquerdo era Roger, até hoje reconhecido como um dos melhores da posição que já defendeu a camisa tricolor, chegando a treinador do time principal – hoje está no Palmeiras. “Koff tinha olha clinico para futuros craques”, reforça Bastos, antes de fazer o último registro sobre a qualificação do dirigente gremista:  “A capacidade de gestor dele era reconhecida nacionalmente, por isso os dirigentes de clubes decidiram alterar os estatutos do Clube dos 13 para que ele continuasse como presidente, mesmo não sendo mais  presidente do  Grêmio”. E assim Koff foi o dirigente máximo do Clube dos 13 de 1996 a 2011, quando a entidade foi extinta. Foram seis mandatos em 15 anos. Nesse período, Koff multiplicou por dez os ganhos dos clubes nas cotas pagas pelas redes de TV.










quinta-feira, 10 de maio de 2018

O mais vitorioso corneteiro


Um dos amigos mais próximos do recém falecido Fábio Koff era o jornalista Carlos Bastos.  Além de serem ícones das atividades que os projetaram publicamente, ambos tinham no amor pelo Grêmio uma afinidade desmedida. Assim, conviviam diariamente nos períodos em que Koff presidiu o clube. O dirigente sempre se valia dos conselhos e das observações do Bastinhos quando precisava enfrentar uma disputa eleitoral no tricolor. Bastos conhecia como ninguém o perfil da maioria dos conselheiros, suas inclinações e comprometimentos na intrincada politica clubística e nunca errou um prognóstico. ‘É o meu guru na politica”, alardeava Koff.

Ao mesmo tempo, Bastos era um ouvinte frequente dos desabafos do presidente. Como  todo o grande líder, Koff padecia de momentos de fragilidade e insegurança, que compensava  criticando seus pares ou os profissionais contratados pelo clube. Era como se tivesse uma metralhadora giratória:

- Bah, este nosso vice de futebol não entende nada de futebol. Desse jeito vai nos enterrar.

- O que é este nosso departamento médico? Parece mais um hospital e não libera ninguém!

- O nosso massagista nos faz passar cada vergonha quando entra em campo balançando aquela pança toda!

- O técnico continua escalando mal, mas que que eu posso fazer? Sou presidente, não vou interferir no trabalho dele.

Bastos a tudo ouvia, concordando às vezes, discordando outras. Até que em determinada ocasião, Koff fez uma confissão sobre um jogador recém contratado.

- Sabe aquele novo lateral esquerdo? Cometi um erro monumental. Não joga nada e fui eu quem indicou. Se arrependimento matasse...

Bastos caiu na risada, diante da indignação de Koff.

- Rindo por quê, Bastos? Está debochando de mim?

- E que tu conseguiu te superar desta vez. Tu corneteou a ti mesmo!

O episódio em nada alterou a fraterna relação que estes dois gigantes mantiveram ao longo dos anos e só relembro os fatos, devidamente autorizado pelo Bastos, sem qualquer interesse em desqualificar a trajetória vitoriosa de Koff, mas como um tributo a quem, movido pela paixão, dedicou parte de sua vida a proporcionar os mais felizes momentos celebrados pela imensa massa gremista,.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Será o fim dos chargistas?

“Os memes estão acabando com os chargistas”.  A conclusão é do companheiro jornalista Irineu Guarnier, em uma conversa paralela num evento matinal.  Especialista nas questões do campo e, mais ainda, na vinicultura, o Irineu integrou por muito tempo a equipe do Canal Rural quando este ainda era da RBS. Agora atua na Assembleia Legislativa e mantém o blog www.caveguarnier.com.br, -  “vinhos e outros prazeres”- , onde revela toda a sua paixão pelo que define como “o mundo do Baco”.  Com frequência é convidado para ser jurado em concursos internacionais, o que faz de mim um invejoso dele nesse particular. 


Registrei o ligeiro perfil do Irineu apenas para dar conta de que se trata de um arguto observador de cenários, até em função da assessoria que presta no legislativo.  Além disso, sempre é um bom papo sobre variados temas, como esse que coloca em xeque o futuro dos chargistas.

A propósito, o talentosíssimo e premiado Neltair Rebes Abreu, mais conhecido por Santiago, entre manifestações em defesa de Lula e críticas à postura anti Lula do ex-idolo Jaguar, decretou, em postagem recente, o fim da profissão de desenhista de humor.  O Santiago listou todos os cartunistas que ficaram desempregados em curto período - e não foram poucos -, na esteira de crise que impacta fortemente os veículos impressos, como ele mesmo observa como causa do pé-na-bunda em massa. Entretanto, a crítica maior do pai do Macanudo Taurino vai contra Mark Zuckerberger, o pai do Facebook, considerado “explorador de mão de obra criativa para sua bilionária revista eletrônica”. “Paraíso dos digrátis”, denuncia.  Só que o desabafo do Santiago é feito no mesmo execrado Facebook, mas vamos combinar que não se deve cobrar coerência de quem faz do humor, especialmente aquele baseado em fatos políticos, a sua forma de expressão.


Por outro viés, Santiago acaba concordando que os memes  e seu principal veículo de difusão, o Facebook, estão exterminando os desenhistas de humor enquanto profissionais do ramo.  Acrescentaria ainda o WhatsApp como mídia em ascensão pró-memes, tanto assim que recebo por ele, todos os dias, 5 ou 6 artes desse tipo de humor, a maioria das quais compartilho.  O que me impressiona é a capacidade dos autores de sacar o detalhe, relacionar alhos com bugalhos, investir contra os ícones contrários e, com isso, garantir que a postagem viralize pelas redes. Se bem que aparece muita baixaria também e aí o negócio é ignorar.

Ainda vou pesquisar para saber como funciona tal processo, se são manifestações isoladas de criativos em momento de ociosidade ou se existem uma estrutura e equipes por trás da série de memes.  Ou se se são as duas coisas.   O Irineu chama a atenção para outro detalhe, a conspirar contra os chargistas e a favor do humor nas redes:  as possibilidades multimídias, com postagens que incluem movimento e áudio, enquanto os veículos impressos limitam os espaços ao traço e ao texto.  Poucos desenhistas de humor conseguiram migrar para esse formato mais abrangente, conclui o companheiro.

A verdade é que nunca se produziu tantos e tão engraçados memes. A condenação e prisão de Lula provocaram uma onda criativa, inundando as redes em pouco tempo. Cheguei a reunir um conjunto desses memes em duas postagens no FB que intitulei como Memerotecas. Tinha material para mais inserções tratando das trapalhadas verbais da Dilma, dos hábitos do Lula ou das mortadelices dos militantes petistas, mas o humor do pessoal campo democrático de esquerda, pelas  razões  já conhecidas, está em viés de  baixa.  Assim, fiquei com receio que a Gleise decretasse, em represália, um  boicote ao ViaDutra (www.viadutras.blogspot.com.br), como já ocorreu com a Globo, a Veja, O Globo, o Netflix e agora até o cine Guion, no Nova Olaria Shopping.    aviso que o ViaDutra é imortal como um certo time.