O jornalista Carlos Bastos é uma fonte inesgotável de histórias a respeito
de Fábio Koff, com o qual tinha grande afinidade. Algumas histórias até podem
parecer desabonadoras, como as reveladas na postagem anterior, O mais vitorioso
dos corneteiros ( https://viadutras.blogspot.com.br/2018/05/vitorioso-corneteiro.html),
mas que, na verdade, mostram uma
dimensão mais humana do grande líder esportivo falecido nesta semana. No segundo
tempo dessa saga, Bastos resgata pelo menos quatro episódios que contribuíram
para que Koff conquistasse a fama de dirigente pra lá de competente, conhecedor
de futebol, coisa rara entre a cartolagem e, em consequência, levantador
de taças como poucos.
Os primeiros episódios remontam às conquistas de 1983. Uma decisão de
Koff acabou sendo fundamental para que o Grêmio chegasse ao título mundial.
Contra tudo e contra todos, ele decidiu investir num único jogador os 80 mil
dólares (uma grana para a época) que o Flamengo pagou de multa por exigir,
antes do prazo, a devolução de Tita, que estava emprestado ao tricolor. O jogador visado era Mário Sérgio, contratado
ao Guarani de Campinas, que foi peça fundamental no jogo contra o Hamburgo, em
Tóquio. “O pessoal do Grêmio achava que
ele tinha cometido uma loucura, mas o Koff manteve sua decisão e, como sempre,
estava certo”, lembra Bastos.
Outro caso envolveu o técnico Menotti, campeão mundial com a Argentina
em 78, que veio a Porto Alegre a convite da RBS. Num almoço com profissionais
da empresa, Koff, também convidado, passou a contar, queixoso, as dificuldades
enfrentadas pelo Grêmio para vencer a Libertadores de 83, tanto assim que foi
decidida em jogos dificílimos contra o
Penharol, sem falar na célebre batalha de La Plata contra o Estudiantes.
Menotti trinchou sua carne, sorveu um gole de malbec, e comentou em resposta,
entre irônico e reconhecido à capacidade de articulação de Koff : “Quem tem Renato no time e conta com Samuel
Ratinoff para garantir na Conmebol juízes ‘isentos’ merece ser campeão”.
Ratinoff, para quem não sabe, era um esperto e influente argentino, empresário
de futebol, com conexões poderosas, desde os anos 1960, com os clubes
brasileiros e na América Latina em geral. Menotti sabia das coisas.
O conhecedor de futebol ficou evidenciado, em outro episódio recordado
por Bastos, quando Koff, ao assistir a um treino dos juniores gremistas, não
resistiu a uma corneta, com uma ressalva: “Pode pegar toda essa gurizada e
mandar embora, menos aquele lateral-esquerdo ali .” O tal lateral-esquerdo era Roger,
até hoje reconhecido como um dos melhores da posição que já defendeu a camisa
tricolor, chegando a treinador do time principal – hoje está no Palmeiras.
“Koff tinha olha clinico para futuros craques”, reforça Bastos, antes de fazer
o último registro sobre a qualificação do dirigente gremista: “A capacidade de gestor dele era reconhecida
nacionalmente, por isso os dirigentes de clubes decidiram alterar os
estatutos do Clube dos 13 para que ele continuasse como presidente, mesmo não
sendo mais presidente do Grêmio”. E assim Koff foi o dirigente máximo
do Clube dos 13 de 1996 a 2011, quando a entidade foi extinta. Foram seis
mandatos em 15 anos. Nesse período, Koff multiplicou por dez os ganhos dos
clubes nas cotas pagas pelas redes de TV.
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