* Reeditada do original publicado em fevereiro/2013.
Já fui um folião militante,
do tempo em que existiam carnavais nos bairros e imperavam os bailes
de salão. Lembro como se fosse hoje os blocos e tribos descendo a rua Ijuí, no
bairro Petrópolis, onde o chefe dos correios local e sua mulher
promoviam, lá no início dos anos 60 do século passado, um animado
desfile.
Depois, passei
a frequentar clubes de primeira linha e outros nem tanto, sempre à
procura de uma colombina para uma noite. Inesquecíveis carnavais no Petrópole
Tênis Clube, na Sogipa, no Gondoleiros, no Clube Farrapos, no Caminho do Meio, no
União e Progresso, nas sociedades de praia e uma memorável noitada
no Rio Branco, de Cachoeira do Sul – espero que as testemunhas silenciem à
respeito. Mais tarde, fuzarquei nos pré-carnavalescos e, à época, o
Vermelho e Branco do Internacional, no Gigantinho, era imbatível.
Foi lá que deparei a menos de dois
metros com uma Xuxa em início de carreira, seminua, fantasiada de libélula. Era
a grande atração daquele ano, contratada pelo Salim (de saudosa
memória) e o Fernando Vieira, os promotores do Vermelho e Branco. Era bom! Ou
nem tanto, pois foi na volta pra casa de um desses bailarecos que capotei
meu Fusca Fafa, na curva da Estrada da Serraria que meus detratores apelidaram
de "curva Flávio Dutra". Meu Anjo da Guarda estava de plantão e
ele e as mamonas, sobre as quais virou o carro, garantiram que nada me
acontecesse, além do susto.
Depois, passei a ser um carnavalesco
mais comedido e menos participativo, Não
escapei de acompanhar os filhos nos bailes infantis e, mais tarde, por dever de
ofício, ia ao Porto Seco ou assistia pela TV aos desfiles do Rio,
com uma discreta preferência pela União da Ilha e pela Vila Isabel. Aqui sempre torci pela Praiana.
Apesar da
experiência acumulada ainda hoje fico intrigado com algumas coisas
do Carnaval, verdadeiros mistérios que perduram. É o caso da cuíca. Pra que
serve a cuíca? Não faz percussão, não dita ritmo, apenas chora sem ser notada
no meio da bateria. E por que nas baterias às mulheres só são
reservados os chocalhos, aquele instrumentos cheios de rodelinhas de
metal? Por que as baterias, diferentemente das bandas que animam os bailes, não
usam metais que dão um colorido todo especial às músicas?
Também me intriga o fato de os
carros alegóricos quebrarem sempre na entrada da avenida, atrapalhando a
harmonia e a evolução da escola. As escolas fazem um enorme investimento e
ficam reféns de uns cacos- velhos. Pode isso, Arnaldo? Não consigo entender,
ainda, porque determinadas alas insistem em usar fantasias pesadonas, com
adereços difíceis de carregar e equilibrar, quando o ideal seria a leveza das
vestes para permitir um desfile sem incômodos. E quem é que sai com
aquelas mulatas maravilhosas? E será que o Rei Momo, findo o
Carnaval, devolve ao prefeito as chaves da cidade? Dúvidas, mistérios!
Até hoje tento entender outro
mistério: porque as moças da Secretaria da Saúde faziam questão de
me oferecer camisinhas quando me encontravam no Sambódromo. Não que eu fosse
contra a campanha educativa, mas é que meu prazo de validade esta vencido,
tanto quanto um preservativo não usado há muito tempo. O detalhe é
que sempre guardava as camisinhas. Vai que...