Publicado nesta data em coletiva.net
Sou um sommelier
fajuto. Os especialistas diriam que sou mesmo um enófilo, aquele que gosta de
vinho, apenas isso, como se fosse pouco. Não canso de apregoar que tenho
dificuldades de distinguir um vinho de
qualidade, mas que reconheço os ruins, especialmente no dia seguinte. Sei bem
que a verdade está na taça e no paladar, mas em se tratando dessa bebida me
oriento por outros referenciais, que batizei de Princípios para a Escolha do
Vinho, a saber:
Princípio do Rótulo Atraente:
O rótulo é determinante
na escolha. Pra mim, vinho de rótulo preto é, sem dúvida, um vinho fino e tem preferência na escolha sobre os de rótulo
branco ou de outras cores opacas. Se as letras do rótulo forem em dourado,
então, trata-se de um espécime muito nobre. Fica a dica aos designers de
rótulos.
Princípio da Medalha no
Rótulo:
Rótulos com aquelas
medalhas que remetem à premiações, mesmo
em eventos sobre os quais nunca ouvimos
falar, merecem meu respeito e meu impulso consumista. Soma pontos se a
premiação for num país europeu. Aliás,
fico impressionado com a quantidade de medalhas com as quais se vangloriam
quase todas as vinícolas.
Princípio da Teia de Cordinha:
Vinhos com invólucro
daquelas teias de cordinha de arame fino é produto de qualidade superior. É
como se fosse uma camisinha do vinho, garantindo sua integridade e pureza. Não são fáceis de encontrar , mas ao se
deparar com alguns deles compre todos sem pestanejar e depois me fala se tenho ou não razão.
Princípio da Nobreza no
Nome:
Vinho que tem Marques
ou Barão no rótulo é vinho nobre até no
nome, além de remeterem à tradição, valor importante na escolha. Um Marques de
Montemor ou um Barão de Rothschild devem
ser coisa muito fina.. Não sinto a mesma empatia pelos Condes. Entre um
vinho nobre e outro de nome
plebeu , faça como eu: coloque nobreza na taça.
Princípio da Rolha de Cortiça:
Essa não tem discussão:
vinho com dignidade tem que ter rolha de cortiça. Desconfio muito dos vinhos
com rolhas de outro material e mais ainda daqueles com tampas de roscas, mesmo com a justificativa
de que são adequadas para vinhos jovens.
Se for o caso, fiquem com a jovialidade e me repassem os veteranos com
rolha de cortiça.
Princípio da Primazia
da Garrafa:
Essa também é sem
controvérsia: recipiente de vinho tem
que ser a velha e boa garrafa, de
preferência com paredes bem robustas.
Latinha é pra cerveja e caixinha tetra pak é pra leite e suco. O esforço dos marketeiros para impor
esses formatos descabidos, dizendo que são a nova tendência, é pra enganar
bobo. É coisa de quem não ama o vinho.
Princípio da Exclusão
do Reservado:
Desconfio também dos
vinhos que se apresentam como Reservado
para se passarem por Reserva. Vinhos Reservados são misturanças que
argentinos e chilenos fazem para enganar enófilos de primeiras garrafas. Os
Reservas são mais elaborados e produzidos com as melhores uvas.Superior ainda é
o Gran Reserva, tipo aquele jogador famoso que o técnico não escala.
Principio do Vinho
Encorpado:
Os encorpados Cabernet
Sauvignon, Malbec, Merlot, Tannat tem preferência sobre os leves, com exceção
do Pinot Noir. Os especialistas dizem que são vinhos “estruturados”, para serem degustados no frio, como prefiro. Os
brancos e os espumantes caem bem nos dias mais quentes. O rose não tem vez na
minha mesa e os suaves, vinho de missa, menos ainda.
Na verdade, mesmo que
seja papo de enochato, morro de inveja
de quem discorre, com naturalidade e alguma empáfia, sobre safras e cepas, harmonizações e
retrogosto, identifica notas de canela, café torrado , morango silvestre ou
caramelo, sabe a quantidade de sulfitos
e a graduação alcoólica adequadas. Como
não tenho esse alcance enológico, me permito as ironias e as brincadeiras que
fiz em cada referêncial. Sem esnobismo, continuo sendo apenas um consumidor,
aliás, um enófilo com princípios. Aos sommeliers de verdade, vai um brinde e
meus respeitos,