Conheço gente que tem justificativa para tudo. Um deles, depois de ter experimentado todas
as venturas da vida, decidiu realizar um sonho de infância e comprar o ultimo
modelo da Mercedes Benz – um conversível flamante. Já entrado em anos, mas em boa forma, saiu-se
com essa para evitar cobranças
familiares pela ostentação desnecessária:
- Pode ser meu último carro...
Quase provocou um vale de lágrimas na família, o
cínico gastador. O episódio vale uma
breve e rasteira reflexão, enquanto me faz lembrar
a estratégia de um parceiro das antigas, assessor de imprensa de um
órgão público que, diante de uma crise e
da cobrança da mídia, pedia apenas:
- Me arranjem uma desculpa, qualquer desculpa, e deixem o resto comigo.
A desculpa, boa ou ruim, consistente ou fajuta, é
isso: uma muleta a nos apoiar nos momentos de aprêmio, ou uma mentira palatável, eu diria até
inofensiva, dependendo da proporção do que tenta justificar.
Só não vale a mais fácil de todas, a mais usada nos tempos da escola quando a
professora questionava por que o tema de casa não fora entregue:
- Esqueci, fessora.
Tem gente que ainda hoje lança mão dessa autentica
desculpa esfarrapada no ambiente profissional, após a cobrança de uma tarefa ou missão não
concretizada. Só muda o interlocutor:
- Esqueci, chefia.
E tem a variação também muito usada, especialmente
pelos que não são chegados ao batente:
“Não deu tempo, chefia”
Interessante é que ninguém esquece o dia do
pagamento, assim como nenhum jovem chega atrasado aos shows de rock, diferente
do que ocorre nos exames do Enem. Ouvi cada desculpa da gurizada que ficou de
fora!
A desculpa pressupõe condescendência e absolvição,
por isso peço tolerância e perdão a
todos, porque vou ficar por aqui já que minhas ideias se
esgotaram.