As duas funções que mais evoluíram no futebol foram as
do goleiro e do árbitro. Por motivos diferentes, é óbvio. O goleiro é o mais
privilegiado dos jogadores porque é o
único que pode jogar com as mãos e também é
o único a contar com um treinador só para ele, o que talvez explique a evolução desses
profissionais da bola. Entretanto, é no uso dos pés em saídas de bola mais
qualificadas, ao invés dos chutões a
deus dará, que ocorreu mais um fator de diferenciação
dos goleiros. O futsal já usava essa
estratégia do goleiro-linha e no futebol acredito que o alemão Neuer a
consagrou na Copa de 2014. Pelo menos,
foi a primeira vez que assisti a um goleiro tão adiantado e tão desenvolvo nas saídas da área, no jogo Alemanha x Argélia,
no Beira-Rio.
Segundo os estudiosos do tema, a grande transformação
que fez com que o goleiro fosse visto como um jogador a mais, começa a partir de 1993 quando a Fifa proíbe que ele agarre
com a mão as bolas recuadas pelos companheiros.
O objetivo era acabar com o antijogo, mas o resultado superou a isso,
obrigando o goleiro a ser hábil com os pés e gerando novas possibilidades para
seu time.
Antes disso, o futebol brasileiro já começara a se
livrar da fama de não ser um grande formador
de goleiros, fama originada talvez no histórico de duas excepcionais
seleções nacionais contarem como
titulares no gol com profissionais inconfiáveis, para dizer o mínimo, no
caso Félix (1970) e Valdir Peres (1982).
É bem verdade, também, que desde as peladas na infância nossa vocação
ofensivista reservava aos “perebas” a alternativa de ser goleiro, exceto se o garoto fosse o dono da bola.
Aí veio a era “vai que é tua Taffarel” nas três copas
dos anos 1990 e o Brasil passou a ser exportador de craques no gol, a começar
pelo próprio Taffarel, hoje o treinador
de goleiros da seleção, que saiu do Inter para os italianos Parma, depois
Reggiana e mais tarde o Galatasaray (Turquia). Não dá para esquecer de Rogério Ceni, o goleiro
artilheiro do São Paulo. Essa geração
resultou numa linhagem de grandes goleiros, que se dá ao luxo de deixar Marcelo
Grohe fora da seleção. Vale lembrar que
dois dos três convocados para a posição atuam no exterior, Alisson no Roma e Éderson no Manchester City.
Já o árbitro ganhou nova dimensão graças a tecnologia,
que, afinal, chegou ao futebol, vencendo a resistência dos velhinhos da
International Board, o órgão da FIFA que dita as regras do futebol. O VAR (o
árbitro assistente de vídeo, em tradução livre)
e o chip, que alerta se a bola ultrapassou ou não a linha de gol, já foram apelidados de “paraquedas das
arbitragens”, embora para os críticos seja mais gente cometendo erros.
Graças a interferência do VAR quatro pênaltis foram
confirmados pelos árbitros na Copa até agora. A aplicação do sistema, entretanto, ainda é controversa e as incidências do jogo
Brasil x Suíça servem de exemplo, no caso pela omissão. Por outro lado, a controvérsia reduz o temor dos mais fanáticos de que essa
tecnologia acabaria com as acaloradas polêmicas em torno de lances duvidosos. E,
dessa forma, os árbitros que deveriam ser figuras secundárias no jogo (“árbitro bom é o que não aparece”, é uma das máximas do futebol), foram
guindados à posição de grandes destaques, merecedores, já há um bom tempo, de credenciados observadores da sua atuação
nas coberturas esportivas de rádio e tv.
A verdade é que todos os méritos dos goleiros e os eventuais acertos do arbitro caem por terra quando um e outro falha. No caso do goleiro,
vale de novo o exemplo do Brasil: Alisson, de grandes atuações até aqui, teve
a reputação arranhada por não ter saído
do gol e interceptado o cruzamento que resultou no empate da Suíça. Já os árbitros são historicamente responsabilizados quando o resultado não favorece
ao time para o qual se torce. O VAR pode ajudar, mas não resolve tudo, porque a
decisão da arbitragem em campo sempre estará sujeita ao fator humano, até mesmo se deve ou não acionar o sistema.
Assim, o arbitro e o goleiro não escapam à grandeza ou
à desdita do futebol, ditadas sempre pela emoção que move milhões de entusiastas
pelo mundo todo.
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