segunda-feira, 23 de outubro de 2023

O supérfluo nas campanhas eleitorais

*Publicado nesta data em coletiva,net

Falta menos de um ano para a nova eleição municipal e lembro que em todas as campanhas majoritárias que tenho acompanhado sempre é pautado um tema aparentemente charmoso,  sem que possa ser considerado prioritário para os investimentos de uma prefeitura. O tal tema parece relevante, a classe média é aderente a ele, mas, na verdade, acaba desviando a atenção do que é realmente necessário para a cidade e sua população.

Sem muita  pesquisa, recordo do que foi gasto em discussões e promessas em torno de criar uma Rua 24 horas em Poeto Alegre, o modismo da vez naquela campanha, como foi a implantação dos calçadões nos mais inusitados espaços, em outra campanha. Nos dois casos, as propostas visavam dar a ideia de uma cidade cosmopolita e que priorizava a convivência entre as pessoas. Só que a  Rua 24 horas, na Travessa Acilino de Carvalho. não funcionou nem 24 horas.

Campanha vai, campanha vem e o muro da Mauá sempre aparece. Se os candidatos não tratam do assunto, não falta um comunicador para cobrar uma posição, normalmente induzindo para a derrubada do muro. A alegação principal é de que enfeia o Centro, a proteção contra as inundações que vá pras cucuias e, também, de que impede a visão do Guaíba, uma bobagem,  já que o muro tem apenas 2,6 km de extensão, sobrando outros 70 km de orla fluvial para apreciação do lago e do nosso belo por de sol.  O debate vira ideológico envolvendo os radicais de sempre. Para um lado, o muro é uma manifestação fascista, que impede a contemplação dos armazéns e a fruição das águas; para o outro lado, é uma obra comunista, que cerceia a liberdade e o ir e vir das pessoas naquela área. A polêmica voltou com força e certamente vai estar presente na campanha que se avizinha por conta da ameaça de inundação deste ano.

 

Ciclovias, outra figurinha carimbada das questões dispersivas em campanhas eleitorais. Clamam por mais pistas para bicicletas em nome da saúde de quem pedala e do meio ambiente devido a  diminuição da emissão de poluentes pelos automóveis. Outra corrente detona a obsessão pelas ciclovias porque são pouco acessadas e ocupam espaços que facilitariam a circulação de veículos, o que resultaria em menos uso e gastos em combustíveis.  O cicloativismo esteve atuante também,  tempos atrás, quando um comunicador de rádio implicou com a estética das cercas que separavam a ciclovia da Ipiranga do arroio Dilúvio e lá se foi prefeitura promover um concurso para escolher um novo design para as cerquinhas, vê se pode.

Temos ainda a discussão sobre o cercamento de praças e parques na cidade, defendida por uns e rejeitada por outros, num debate de viés ideológico, como aquele sobre o muro da Mauá. É para maior segurança dos usuários, dizem os defensores; é uma maneira de restringir o acesso das pessoas às áreas verdes, condenam os do contra. Nem a proposta inovadora de cercamento eletrônico dos espaços acaba com  essa discussão estéril.

A colega de colunas Elis Radmann, respeitada cientista social e politica do Instituto Pesquisa de Opinião/IPO, poderia discorrer com muito mais base sobre as irrelevâncias das campanhas eleitorais. Fica a provocação, Elis, para tratares dessas propostas de raiz charmosa, falsamente inovadoras, a contagiar os candidatos à prefeito, imaginando eles que vão contribuir para a autoestima da população e garantir votos na próxima eleição, quando novos e descabidos projetos surgirão, serão debatidos e prometidos.

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