*Publicado nesta data em coletiva.net
Já registrei aqui e nas
redes sociais o caso da moldura com fotos de formatura que foi jogada no lixo (https://coletiva.net/colunas/a-formatura-na-lata-de-lixo,433404.jhtml). A maioria dos que interagiram apostou que o
ato teria sido de um advogado frustrado com a profissão. De fato, a formatura era
do curso de Direito. Mas sobrou também
para o Jornalismo, que anda em baixa na avaliação do distinto público e mais
ainda dos aspirantes a jornalistas. Tanto assim que recente pesquisa da
plataforma ZipRecruiter, especializada em recrutamento, contratação e
publicação de vagas, revela que o Jornalismo lidera com 87% a taxa de
arrependimento entre os cursos superiores que não valem mais a pena começar*.
A alta taxa estaria
relacionada à instabilidade da profissão, à evolução do jornalismo digital e à
remuneração insatisfatória. No caso do Brasil acrescento o fim da obrigatoriedade
do diploma para o exercício profissional, que infestou os veículos de
picaretas, a disputar espaço e ganhos salariais com os diplomados, precarizando
ainda mais a atividade jornalística.
No RS, os efeitos desse arrependimento
é sentido nos cursos de Jornalismo, com
classes reduzidas nas 23 faculdades espalhadas por 15 cidades, e isso é outra
distorção. Vinte e três cursos em 15 cidades! Não há mercado para a quantidade
de jornalistas despejados pelos cursos todos os anos, mesmo que estejam
minguando os formandos a cada ciclo. Em Porto Alegre, a Faculdade Metodista
(IPA) e a ESPN tomaram decisões extremas e já anunciaram a descontinuidade de
seus cursos de Jornalismo. Nos outros estabelecimentos, principalmente nas
grandes universidades privadas, a orientação das reitorias é para que aqueles
alunos ainda sobreviventes nas aulas sejam cortejados e eventuais faltas e
falhas tratadas com condescendência. É preciso manter a clientela. Foi a queixa
que ouvi de experientes professores, que também estão frustrados com os cursos.
Essa é mais uma faceta da
crise do Jornalismo, que se acentua gradativamente, com a perda de consumidores
e de novos profissionais. A questão mereceria
simpósios e mais simpósios, não apenas para avaliar suas causas, mas sobretudo
para indicar caminhos futuros para a profissão que se funda na vocação e exige
dedicação como poucas. Deixo para os especialistas aprofundarem a análise, mas acredito que as
mudanças ou a retomada do melhor Jornalismo ou, ainda, a contenção do
esvaziamento da atividade, devem começar
pela formação dos futuros jornalistas e aí o papel da academia é fundamental. .
Com isso, espero que não
se torne realidade uma brincadeira feita nas redações em tempos idos. Quando
alguém era apresentado como Jornalista, reagia com fingida veemência.
- Jornalista é você!
*Vale registar os outros
cursos no ranking dos arrependidos: Sociologia e Artes, 72% de taxa de arrependimento;
Comunicações (RP e Publicidade), 64%; Educação, 61%; Marketing, 60%; Assistência Médica, 58%; Ciências Políticas,
56%; Letras e Biologia. 52%.
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