*Publicado hoje em coletiva.net
Uma cápsula especial da
Nasa coletou no asteroide Bennu e trouxe para ser estudada em laboratório, 250
gramas de rochas e poeira, a primeira amostra desse tipo de material obtida
pela agência espacial americana. A análise do material
vai aprofundar a compreensão sobre a origem do Sistema Solar, a formação dos
planetas, dos produtos orgânicos e da água que resultaram em vida na Terra.
O asteroide Bannu tem 500
metros de diâmetro e é considerado um mensageiro do tempo, a circular pela
órbita da Terra de seis em seis anos. Assim, é plausível imaginar que lá na
imensidão do cosmos, um ser superior, que vamos apelidar de Ele, direciona o
Bannu para espionar, a fim de que não escape de controle, um experimento muito
instável: a Humanidade.
Milhões de anos atrás, Ele ainda estava no início de
sua eternidade, quando começou a criar o Universo. Era uma brincadeira de guri, para preencher os
longos vazios da existência celestial. Primeiro ele fez detonar uma grande
explosão e, a partir disso, com o surgimento de muita matéria e energia, moldou
estrelas e galáxias, planetas e seus satélites, e distribuiu tudo pelo espaço
infinito, cuidando de hierarquizar os astros. Para dar uma animada à escuridão do
Universo, inventou os asteroides e os meteoros, estes dotados de longas caudas
incandescentes, deixando os brinquedos
passearem pra lá e pra cá. desde que obedecessem a trajetória programada por
Ele.
Estava o jovem Senhor
Supremo tão entretido com sua criação de sete dias celestiais que preferiu não
acabar com um experimento, surgido por alguma falha no processo criativo. Em um
planeta insignificante, na galáxia de 200 bilhões de estrelas, ocorreu uma
inusitada combinação de matérias. que se
apresentava de forma diferente em relação aos outros corpos celestiais. A
“coisa” não era inerte e parecia se modificar, evoluindo com o passar dos
milênios, até surgirem pequenos seres. Mesmo que um meteoro desobediente tivesse
atingido o insignificante planeta, dizimando os outros seres ali existentes, aqueles bichões enormes
e desengonçados, o generoso Senhor Supremo decidiu manter o experimento pra ver
no que ia dar. Nem na sua onisciência Ele conseguia imaginar o que poderia suceder
na Terra com o crescimento exponencial em quantidade dos pequenos seres, por
isso decidiu ficar de olho e escalou o Bannu como seu espião. ”Será que eles
levaram a sério quando falei aquela vez ‘crescei e multiplicai-vos’?”, pensou,
enquanto meditava na sua nuvem preferida.
De vez em quando o Ser
Supremo avalia o relatório enviado pelo asteroide e se diverte e as vezes se
irrita (Ele pode!) com as descrições do que vem observando na Terra. “Que gente
sem noção”, pensa o Todo Poderoso. “Onde estava com minha divina cabeça quando
deixei essa coisa prosperar?”.
Corta para tempos
terrenos, em que cresce o temor de que Ele possa se distrair (afinal., está
ficando velhinho) e daqui a 150 anos, um pentelésimo no tempo celestial, quando
o Bannu estiver na trajetória mais próxima da Terra, o espião se desvie de sua rota e se choque com o nosso planeta. Ai o criativo
Criador vai ter que arranjar outro brinquedo para se distrair. Antes vai ter que
administrar as longas filas para o Juízo Final, mas aí certamente vai terceirizar
para o assessor Pedro, que é um parceirão de mais de dois mil anos e já tem
experiência em seleção de pessoal. “Quem sabe uma civilização em Marte não
funciona melhor?”, Ele conjecturou, antes de se entregar a uma celestial soneca
de dois séculos.
(Este texto-viagem vai para a série O que faz a Ociosidade)
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