*Publicado em 30/01/23 em coletiva.net
Já revelei que sou altamente
sugestionável, isto é, os amigos me recomendam as coisas mais estapafúrdias, no
popular, me botam pilha, e eu acabo
acolhendo as besteiras. A mais recente – e escabrosa – é para que intitulasse o próximos livro com
uma variante do Kamasutra, aproveitando a sonoridade que rima com meu honrado
sobrenome. Nasceu daí o título Kamadutra. O que mais surpreende é que a sugestão
partiu de um amigo ultraconservador em relação aos costumes, sinal desses controversos
tempos em que vivemos, de valores tão fugazes. Tempos líquidos, diria Bauman.
Aí recorri a Wikipedia
para detalhar do que se trata o
Kamasutra, ou Kamasutram em sânscrito, uma vez que nunca precisei recorrer a
essa fonte para me inspirar eroticamente.
Optei por usar Kamasutra na versão de duas palavras juntas, como a união de
dois corpos, bem de acordo com o tema.
O texto indiano sobre o
comportamento sexual na antiguidade foi escrito
por Vatsvayana que, surpreendentemente, seria um estudante celibatário, que
viveu em Paliputra (olha aí, outra rima provocando Dutra) no início do século IV. Pelo jeito, Vatsvayana era um grande voyer por
ter descrito, em detalhes, tantas formas de um casal chegar ao prazer.
Consta que ao contrário
do que se pensava na época, o Kamasutra não foi um manual de sexo, mas teve por
objetivo estabelecer o kama, ou o “gozo
dos sentidos”, nos objetivos da antiga vida hindu. Mais de quinze séculos
depois, acho que dá na mesma. As chamadas dos textos numa simples googlada na
internet reforçam a impressão de que o
Kamasutra que chegou até os dias atuais é erotismo puro com exaltação do velho
e bom sexo. Alguns exemplos dessas chamadas, escolhidas aleatoriamente: “Kamasutra:
sete posições sexuais que mais estimulam o prazer da mulher”; “Kamasutra: 12
posições que garantem orgasmos inesquecíveis”; “As 50 posições do Kamasutra que
todos os homens tem que experimentar”. Parei por aí a pesquisa porque o número
de posições indicadas estava aumentando de forma exponencial.
Se fosse lançada hoje, a
obra e seu autor seriam certamente cancelados
por só contemplarem as relações entre homem e mulher, ignorando a diversidade
de todas as formas de amor, acolhidas com naturalidade nestes tempos
pós-modernos. Mas não contem comigo para
julgar um texto de séculos atrás. E, vamos combinar, o Kamasutra não tem nada para ensinar aos amantes nos dias
de hoje. Se bem que no meu caso não teria preparo físico, nem flexibilidade
para algumas práticas, só não me peçam detalhes.
Fico por aqui porque não
vai faltar quem, pudicamente, me acuse: “Este velho devasso só pensa naquilo”. Pensando bem, acho que
preciso colocar um filtro nas sugestões que recebo.
(Os prazeres do Kamadutra,
o livro, estão reservados para o segundo semestre)
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