*Publicado nesta data em coletiva.net
Sou do tempo em que os
governantes em início de mandato ganhavam 100 dias de isenção à críticas,
depois dos quais tinham necessariamente de mostrar os primeiros resultados de
sua administração. Desconheço qual o critério para estabelecer que uma centena
de dias seja o prazo adequado para que os projetos comecem a sair do papel e
virem programas e políticas de governo, mas, enfim, era a pauta obrigatória da
mídia.
O que observo agora no
governo que assume em Brasília que os tais 100 dias foram desrespeitados já no
primeiro dia de gestão. Não teve lua de mel. É cobrança desde já, não é governo
de continuidade, muito pelo contrário, e a polarização que vem marcando as
disputas eleitorais e dividindo o país, se refletem na mobilização contrária, até
mesmo com episódios radicais como o do domingo retrasado.
A grande mídia, viciada
na crítica permanente durante o governo Bolsonaro – que contribuía para isso,
sem dúvida – agora precisa satisfazer, por um lado, essa necessidade de cobrança,
e, por outro, mostrar que é independente e exerce seu senso crítico, não importando
quem são os poderosos do momento.
O governo Lula padece nesta
arrancada porque não consegue uma comunicação uniforme, nem integração imediata.
Com seus 37 ministros, representando 12 diferentes
partidos, isso fica bem difícil. E o deus Mercado de olho, desconfiado. Haja
reunião ministerial para alinhamento!
Aí os bolsonaristas
radicais, bando de aloprados, decidem depredar os prédios dos Três Poderes, num
simulacro de golpe e entregam ao governo o que ele não estava conseguindo:
coesão interna e apoio externo. Um verdadeiro. tiro no pé para os vândalos. Mesmo assim, o governo paga um preço pela benesse,
pois ela tirou o foco do que estava para ser anunciado nos primeiros dias e trouxe
desgaste pela repercussão das prisões em massa, inclusive de crianças e idosos,
além do jogo de empurra sobre quem foi mais omisso.
Assim, o capital de boa
vontade, tolerância e adesão conquistado, pode se esgotar rapidamente, se a
ação governamental não colocar a máquina estatal a funcionar; se não cumprir,
de alguma forma, as promessas de campanha, como, por exemplo, um salário mínimo
ligeiramente turbinado. Caso contrário, vai precisar de mais de 100 dias para
mostrar alguma coisa. E a data cabalística, ao invés de uma meta, passa a ser
uma arapuca.
Deixo o aprofundamento da
análise para os especialistas, sabendo que, na real, vamos apelar para o
chamado distanciamento histórico, a fim de avaliar melhor o que significou, em
toda a sua extensão, o 8 de janeiro com seus desdobramentos. Talvez em 100 dias
se possa ter as devidas respostas.
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