* Publicada originalmente em 23/12/2016
Há uma certa melancolia, quase deprê, neste período
de festas. Talvez seja pela obrigatoriedade de mostrar felicidade, enquanto a
realidade é desanimadora. Culpa também das revisões que o fim de uma etapa
impõe e a conclusão de que muito foi sonhado e pouco concretizado e isso vale
tanto para a vida pessoal como para o lado profissional. Se pelo menos os presentes compensassem as
frustrações, mas nem isso tem ajudado.
Foi-se o tempo das cestas de Natal repletas de
produtos importados, ou das bebidas finas ou, ainda, dos eletrônicos de última
geração oferecidos como mimos por clientes e fornecedores. No Jornalismo tal
prática é conhecida como “toco”. Escapa ao meu conhecimento a origem da
expressão. Talvez represente coisa pequena e o uso parece ser exclusivo dos jornalistas
gaúchos.
Hoje o recebimento dos regalos é visto com restrições ou tratado como
folclore, mesmo porque a operação Lava Jato desnudou o toma lá, da cá em nível
bilionário. E, assim, ofertantes e
recebedores foram para a retranca, com os toqueiros bagrinhos, aqueles que
recebem um misero espumante moscatel ou um panettone, pagando pelos peixes grandes,
pós graduados em mamarem nos recursos públicos.
Não estou aqui para lamentar por nenhum deles. Na
verdade, quero deixar meu protesto veemente, em nome de todos os capricornianos
que fazem aniversário no Natal ou nos dias próximos. Não são poucos, garanto,
mas a maioria alega que é discriminada quanto aos presentes, recebendo um que
vale por dois devido a coincidência de datas. Por muito tempo fui vitima dessa
sovinice, eis que nasci em 6 de janeiro, dia de Reis (mera coincidência),
embora a data seja referencia a chegada
dos reis Magos Melchior, Baltasar e Gaspar à gruta de Belém para presentear o
Menino Jesus com ouro, incenso e mirra. No
Uruguai a troca de presentes ocorre nesse dia. Mesmo assim, apesar de todo
esse respaldo bíblico e de tradição, muitas vezes eu ficava sem o presente de aniversário.
Nem por isso precisei apelar para o divã dos
analistas a fim de curar minha frustração por não ser presenteado e olha que
nem precisava ser ouro, mirra e
incenso, bastava um carrinho, uma bola, um joguinho qualquer.
Não vão faltar línguas maldosas para dizer que estou
aqui apelando para o coitadismo e insinuando a necessidade de ser presenteado no
aniversário próximo - com vinhos importados, espumantes de boa cepa, cervejas artesanais, camisas azuis de grife,
utensílios para churrascos. Não, gente, não
precisa se incomodar.
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