* Editado do original e publicado no Coletiva.net em 10/12/2018
Está aberta a temporada de chatices de fim de ano. Com isso
é cada vez maior o número de pessoas que se deprimem, ficam melancólicas nesta
época e admitem publicamente que detestam as chamadas festas
natalinas. A estatística de desgostosos cresce na proporção direta em que
o comércio antecipa suas campanhas de Natal, com o objetivo de vender mais e
quanto mais cedo melhor. Os shoppings, esses templos do consumo, se
enfeitam como se disputassem um campeonato de ornamentação natalina.
Particularmente já curti menos o Natal,
mas voltei a me entusiasmar por causa das netas e neto, Maria Clara, Rafaela,
Lívia e Augusto. Natal é a grande festa da criançada que adora as tais
casas do Papai Noel nos shoppings , mesmo que os pequeninos ainda se assustem
com o velho gordo, de barbas brancas e vestido de vermelho. Mas, como diz minha
faceamiga Monica Goulart, acabar com a fantasia das crianças é crime
inafiançável.
Eu prefiro olhar as assistentes do personagem, mas
não pensem que é um olhar de más
intenções, apenas um gesto fraterno de solidariedade, creiam-me, às moças
que lidam com crianças irrequietas ou assustadas e pais ansiosos. Pois
é assim que se estabelece o ciclo que vai impulsionar ao consumo:
atraindo a criança para o ambiente repleto de ofertas de produtos e serviços é
inevitável que os mais velhos sejam levados ao ato da compra. Os números
variam conforme a pesquisa, mas de 50 a 60% dos brasileiros admitem fazer
compras por impulso. E a roda da economia anda.
Frequentar os shoppings nessas circunstâncias não é a pior
chatice do período. Tem coisas que nem o CD natalino da Simone (ainda
existe?) ou o show do RC conseguem bater em termos de malice. O
noticiário esportivo, por exemplo, se esmera em nos torturar com teses sobre o
bom ou mau desempenho dos nossos clubes, o futuro incerto nas competições que
virão e as especulações sobre reforços e dispensas. E as retrospectivas
repletas de pequenos e grandes dramas; e as previsões para o próximo ano,
repletas de obviedades. E os comerciais piegas; e a programação de
fim de ano das TVs. Ah, e tem a festa da firma e o inevitável Amigo
Secreto, que por si só já mereceriam uma boa dose de Prozac.
É quando sobrevém aquele sentimento de impotência e
incompetência pelo que foi planejado e não realizado. Sempre fica algo para
trás, inconcluso, desafiador, a debochar da nossa capacidade de entrega, como
se os 12 meses passados não fossem mero recorte de um tempo que
prossegue, um tempo em que nem tudo precisa ser renovação, mas sim um espaço
para continuidades e retomadas.
Relaxemos, pois, porque há vida após o Natal . O ciclo
recomeça logo adiante, na passagem para mais um ano, uma etapa que, como as
outras anteriores e as que virão, nada mais é do que representação de uma
convenção. Perdão pelo reducionismo, mas é simples assim. Portanto,
não precisa forçar a alegria.
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