domingo, 12 de fevereiro de 2017

Futebol americano. Futebol?

Sem  precisar de muita reflexão constato que a cada temporada o futebol americano ganha mais e mais adeptos entre nós da terra do verdadeiro futebol, aquele jogado com os pés. E aí começam minhas contrariedades, pois futebol deriva do inglês foot (pé), enquanto o esporte dos gringos é jogado preferencialmente com as mãos e eventualmente um daqueles gigantes dá um chutão na goleira em forma de H.
Admito que desconheço o que representa o chutão e qualquer outra regra do futebol americano e fiquei confortado ao ouvir, dias atrás, um especialista explicar que acompanhando os jogos de uma temporada ao final a gente adquire razoável domínio daqueles correrias,  dos empurra, empurra e das pirâmides humanas que suspendem momentaneamente a  partida. Aliás, o que tem de paralisação  no futebol americano e assim as disputas chegam a durar três horas ou mais.  Por isso, mais do que um jogo, especialmente as finais da NFL (a CBF deles), o Super  Bowl,  precisam transformar-se em um grande evento, com direito a show  de Lady Gaga, como aconteceu domingo passado no intervalo de New England Patriots x Atlanta Falcons (vitória de virada do time do marido de Gisele Bundchen , Tom Brady,  por 34 a 28).
Apesar de  tudo, não sou de brigar com os fatos e observo que gente importante aderiu ao futebol americano. Destaco o mestre André Arnt,  o consagrado jornalista Felipe Vieira e uma gurizada da Rádio Gaúcha que alimenta os espaços dedicados ao esporte na programação da emissora. Quanto ao pessoal da Gaúcha não sei, mas suspeito que a adesão do André e do  Felipe  está diretamente relacionada à má fase do futebol colorado, eles que são  - ou eram – torcedores de não perder jogo no Beira-Rio.  Ambos tem equipes de preferencia na NFL e dia desses flagrei o André acompanhando – com entusiasmo, via Facebook  - um match do seu american team em detrimento do Colorado, que, no mesmo horário, disputava mais uma partida do seu calvário.
Acho  que está  nesse desencanto a raiz da crescente interesse por  aqui pelo futebol americano. Não vejo outra  razão. O futebol  brasileiro, com suas mazelas fora de campo e sua mesmice nas quatro linhas,  está  deixando de ser paixão e a oferta pela TV dos  campeonatos  europeus, acompanhados com atenção pela plateia brasileira, já  era um forte  indício  de um distanciamento que se amplia.
Para quem gosta mesmo de competição e antagonismos, o futebol americano, do pouco que sei, propõe um  jogo que nada mais é  do que conquista de território e para isso são realizadas verdadeiras batalhas  em campo, com os jogadores envergando uniformes que lembram armaduras . Nada  retrata mais o espírito americano,  nada mais colonialista do que isso, se me  permitem a tese geopolítica  ou sociológica, sei lá.
Pra  concluir, não  posso deixar de fazer referência a outro  esporte  chatérrimo , também muito apreciado nos EUA, o tal de beisebol. Razão  tem meu amigo Cezar Freitas, da RBS TV, ao afirmar que o beisebol é tão chato que dá sono,  por isso os jogadores usam uniformes tipo pijama. O jogo de taco da nossa infância certamente tinha muito  mais emoção.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Contos da Mesa ao Lado: Contagem regressiva

* Publicado originalmente em novembro de 2011

“ Agora faltam cinco dias...”

A frase enigmática postada no Facebook causou alvoroço entre os amigos. O que estaria acontecendo com ele, todos se questionavam. Alguma doença grave? Vai se demitir ? Viajar para longe? Abandonar o lar? Ganhar uma bolada de herança? As especulações se sucediam e se ampliavam diante do silêncio dele. No dia seguinte, outra frase para deixar o pessoal mais aturdido: “ Faltam só quatro...” E mais não acrescentou.

Houve quem apostasse que era uma jogada de marketing do amigo: “Sabe como é, jornalista, mente imaginativa, deve estar preparando alguma coisa bombástica”. Também é nessas situações que sempre surge uma ave de mau agouro: “Deve ser algo muito grave e a gente sem poder fazer nada, coitado”.

“Três dias...” foi a mensagem seguinte, mais lacônica e, ainda, instigantemente enigmática. Os amigos decidiram convocá-lo para um encontro e escolheram um boteco que costumavam frequentar, mas ele não apareceu. A essa altura começaram a entrar em pânico. Não havia explicação para o estranho e preocupante comportamento dele.

O pânico aumentou com a mensagem do dia seguinte: “Dois...”, assim, uma única palavra, um número apenas, escondendo um grande enigma. Aí os amigos se deram conta de que conheciam muito pouco da vida privada dele, embora a convivência de anos. Ele nunca falara de sua família e vagamente se referia a um grupo que denominava de “o pessoal aquele”, sem entrar em outros detalhes. Ou seja, não tinham a quem apelar.

“Fim!” era a postagem que todos temiam. Agora estavam em contato permanente e revezavam-se nos telefonemas a ele, mas quem respondia era a caixa postal, que já nem era mais personalizada, como haviam se acostumado. Encurralados pela impotência, estavam preparados para o pior. Naquela noite nenhum deles conseguiu dormir, à espera do telefonema esclarecedor e certamente fatídico. Mas a vigília se mostrou inútil, aumentando a ansiedade dos amigos.

Na manhã seguinte, o perfil dele sumira do Facebook.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Contos da Mesa ao Lado: A Maldição de Eros

Este despretensioso conto foi publicado originalmente em 2010, com o título Midas Moderno, mas sem um final. Apesar dos apelos pela contribuição por um desfecho só agora o conto está completo e, por isso, republicado com um novo título, abrindo um novo espaço no ViaDutra, os Contos da Mesa ao Lado.

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Ele sempre sonhara em ter nos braços e depois na cama as mais belas mulheres. Nas caminhadas pela cidade, já fazia uma seleção das que lhe interessavam e buscava a diversidade na quantidade. Altas, baixas, magras, mais cheinhas, loiras, morenas, mulheres com cabelos chapinhados ou crespos, ninfetas e trintonas.  Na dúvida se escalaria para seu elenco fictício, dava preferência para as de bumbum bem torneados. Cada uma das selecionadas merecia um enredo e aí a imaginação corria solta. Com a loira de jeans apertado e cintura baixa, sonhou com uma transa naquelas praias paradisíacas do Caribe. Com a morena de lábios carnudos, imaginou mil situações à beira de uma piscina e depois o clímax dentro da água. A baixinha seria personagem de grandes contorcionismos no banco de trás do carro. A mais gordinha teria o privilégio de um pernoite no motel, onde ele poderia percorrer com calma toda a geografia daquele corpo mais avantajado. Para a moça com carinha virginal, reservava os jogos eróticos menos convencionais e para aquela outra, com jeito de safadinha, se entregaria sem pudores, deixando que ela comandasse a brincadeira.

Estava virando obsessão e eram recorrentes os sonhos de conquistas que, na real, jamais aconteceram. Ele achava mesmo que tinha pouco a oferecer: não era bonito, para atlético não servia e ainda penava com o salário magro que o impediria de fazer uma presença às deusas escolhidas. Faltava-lhe, sobretudo, coragem para abordá-las porque não saberia o que dizer depois do primeiro contato. Assim, sem outros predicados, ele queria ser ungido com os poderes mágicos, como os do Rei Midas, o personagem da mitologia grega que recebeu do deus Baco o dom de transformar em ouro tudo o que tocava. Mas seria um Midas moderno porque o ouro de seu desejo seriam as belas garotas que faziam parte da sua galeria de conquistas potenciais. Bastaria um toque, um aperto de mão, um beijo mais carinhoso, e elas se prostrariam aos seus pés, prontas para se transformarem em escravas sexuais, ávidas para satisfazer todos os seus desejos e fantasias, incondicionalmente suas, e sem muito dispêndio de energia na conquista.

No verão, na véspera do seu aniversário, ele passou a noite sonhando que seu desejo se tornara realidade. Foi um sonho contínuo, onde desfilaram todas as mulheres dos seus desejos e mais algumas que o inconsciente ofereceu – celebridades, amiguinhas de adolescência, primas interessantes, atrizes pornôs e até representantes da realeza européia.  Acordou banhado em suor e exausto, como se tivesse compartilhado a cama com todas elas, uma de cada vez, é claro. Foi um prazeroso, mas cansativo presente de aniversário, pensou. E ainda havia aquela estranha criatura interferindo no sonho, que se apresentou como Eros e que se vangloriava, porque fora deus na antiguidade, de poder mudar a vida dele para melhor.

O sonho fez dele um homem perturbado a caminho do trabalho. Ele queria entender o significado das imagens que povoaram seu sono e nas divagações de uma manhã num ônibus lotado nem percebeu que sua vizinha de banco passou a pressionar suas coxas e se insinuar por olhares e mais movimentos corporais invasivos do seu espaço. Quando percebeu a movimentação da moça, diferente do usual, ficou constrangido e procurou se afastar. Mas a moça, bonitinha nos seus presumíveis 25 anos, insistia em se aproximar mais e mais e ele começou a ficar preocupado. Temia ser acusado de assédio, logo ele que era a timidez em pessoa. E a moça se achegava cada vez mais e ele estava quase fora do banco quando decidiu descer para evitar maiores problemas. Ao levantar, a vizinha de banco veio atrás e desceu junto do coletivo. Agora ele já estava assustado, certo de que estava sendo vítima de um assalto, na pior das hipóteses, ou de uma pegadinha dessas que ridicularizam as pessoas na tv, na menos pior das hipóteses. A moça veio decidida ao encontro dele no ponto de ônibus, mas ele saiu em disparada e entrou no primeiro táxi que encontrou.

Chegou esbaforido ao escritório e foi direto ao banheiro para molhar o rosto e enxugar o suor. O que viu no espelho foi um homem a beira de um ataque de nervos e precisou de alguns minutos para se recompor. Na saída do banheiro esbarrou na estagiária do Departamento Jurídico e antes que pedisse desculpas foi arrastado pela moça para a sala do arquivo. O local era pouco frequentado naquele horário e a moça, uma belezinha de 21 aninhos, não demorou muito para despir-se completamente e avançar sobre ele. Acuado e atônito ele ficou sem reação e se deixou levar pela voracidade da parceira. Entre arquivos e pastas de documentos se entregaram a uma transa rápida, mas intensa. Ao final, sem dizer uma só palavra ela recolocou as roupas e, parecendo plenamente saciada, se despediu mandando beijinhos. “Que loucura foi essa”, ele se perguntou, enquanto recolhia suas roupas e tratava de se ajeitar minimamente para enfrentar o dia de trabalho.

O episódio logo se espalhou, não por iniciativa dele, mas porque a moça não resistiu em compartilhar as emoções do encontro transgressor, logo ela sempre tão recatada. O resultado é que ele passou a ser requisitado para experiências semelhantes por todo o naipe de estagiárias, dos Recursos Humanos às da diretoria, passando pelo Marketing e os Serviços Gerais. A fama de garanhão corria solta e já não havia mais hora nem lugar vedado às peripécias sexuais. Sem dúvida era uma nova fase na vida dele e ele estava gostando até porque seu horizonte de conquistas começou a se alargar. As secretárias da diretoria e de outros setores exigiram espaços na sua agenda e ele os co ncedeu com prazer. Eram moças e senhoras mais sofisticadas e dotadas de bons conteúdos, mas quem disse que elas queriam conversa. Tudo o que elas desejavam era desfrutar dos prazeres que ele proporcionava e para isso não poupavam recursos, proporcionando ótimos jantares, locações nos melhores motéis e viagens e maratonas sexuais nos fins de semana. Ele dava um jeito de atender a todas, inclusive de outras empresas, além das vizinhas e eventualmente de alguma desconhecida, já a fama estava cada vez mais disseminada.

Envolvido nesse reino de fantasias e prazer, ele já não questionava mais porque tudo aquilo estava acontecendo. Achava que devia se conceder o máximo desfrute, afinal, o que antes era obsessão e sonho, agora se tornara realidade. A única preocupação era manter distância de insinuações indesejadas, como a do diretor financeiro, gay assumido, que propôs trocar seus favores sexuais por um carro zero quilômetro. Aí já era demais, como excedeu também a investida da mulher do presidente da empresa, uma matrona plastificada dos seus 60 anos, que passou a persegui-lo de todas as formas e com todas as propostas. Foi difícil desvencilhar-se dela, mas aos encantos da filha, uma loira desinibida beirando os 30, ele n&ati lde;o resistiu, até para ter um ponto de apoio familiar na casa do presidente, caso a mãe, despeitada, resolvesse intrigá-lo.

Eram tantas as pretendentes ao seu toque mágico que ele passou a ser mais seletivo nas suas escolhas. Já não havia diversidade nas que compartilhavam a sua cama. Ele claramente optou pelas mais jovens e mais exuberantes, deixando de lado as maduronas, sem os mesmos atrativos das garotinhas escolhidas, mas mais generosas nas contrapartidas materiais. A seletividade - e ele só se deu conta mais tarde - trouxe dissabores. As rejeitadas passaram a hostilizá-lo. Na seqüência, começaram a espalhar boatos e maledicências a respeito dele e do seu desempenho sexual.

- Aquilo? Foi uma decepção: é muito pequeno.

- Dá apenas uminha e já quer dormir.

- Ouvi dizer que agora está pegando rapazes.

- Achei estranho ele estar usando uma calcinha feminina.

- Só sabe fazer “papai e mamãe”.

- Olha, cheguei a ficar com saudado do meu ex.

 A confraria das rejeitadas era formado exclusivamente por mulheres já com boa quilometragem, experientes nas tramas que só as mulheres sabem urdir, casadas, descasadas e recasadas, enfim, senhoras a que se deve dar crédito e, sobretudo, temer. Ele não fazia ideia da energia negativa gerada pela rejeição e o estrago na sua reputação que isso provocaria. A injusta má fama logo se espalhou, mas ele não estava nem aí porque ainda tinha uma missão a cumprir. Faltava conquistar a recepcionista da empresa que o evitava, mantendo prudente distância física. Era uma morena sem maiores atributos físicos, mas o fato de ela se manter invicta passou a desafiá-lo. 

 Só que agora ela era um homem determinado e autoconfiante, por isso direcionou seus esforços para vencer a resistência da moça. Até que um dia precisou trabalhar além do horário para compensar as escapadas e...

 - Fazendo hora extra?

 Quem perguntava era a morena da da recepção, livros à mão indicando que estava de saída para a faculdade.

 - Não, já estou de saída também.

 Saíram juntos do escritório e no elevador os dois tocaram ao mesmo tempo o botão para o térreo. Foi o recepção, livros à mão indicando que estava de saída para a faculdade.suficiente para que a recepcionista, a exemplo de suas outras colegas, começasse a despir-se enquanto fazia o mesmo com ele, beijando-o de alto a baixo. Dessa vez ele não reagiu e se entregou a transa com prazer, sem se importar com a câmara espiã que espreitava o casal em êxtase no sobe e desce do elevador. Sempre sonhara em transar no elevador e agora estava realizando o desejo, por isso curtiu cada momento.  Quando finalmente decidiram que era hora de chegar ao térreo, o guarda da portaria, mais preocupado em jogar paciência no computador do que vigiar as câmeras de segurança, não prestou maior atenção a eles. Despediu-se da moça e ficou com gostinho de quero mais.

 Mas não houve uma segunda vez, nem terceira nem outras. O seu toque parecia não funcionar mais, pelo menos com a recepcionista. E olha que ele bem que tentou, cercando-a de todas as maneiras. Mas a moça se mantinha irredutível, erguendo uma barreira intransponível entre eles. Tornara-se obsessão para ele reconquistar aquele corpo e repetir os prazeres que o sobe e desce do elevador proporcionara naquele dia do primeiro e único encontro.  O Midas erótico estava perdendo o encanto e ele mesmo já não sentia prazer nas conquistas, tão fáceis e tão descartáveis. Em paralelo, enfrentava a pressão das rejeitadas, que tratavam de miná-lo de todas as formas.  O emprego dele agora estava por um fio p orque a filha do presidente passou a integrar, junto com a mãe, o clube das rejeitadas e pedira o cargo dele ao pai. Envolvido nesse turbilhão, ele maldizia o sonho que o empoderara com o toque do prazer. Como no Midas da mitologia queria voltar a ser o que era antes.

Quando voltou a sonhar com o deus Eros, seus problemas acabaram. Eros atendeu seus apelos, mas impôs um alto preço. A divindade manteve nele o dom de atrair todas as mulheres, mas ao mesmo tempo concedeu-lhe indesejada impotência sexual. As benesses que havia conquistado ficaram no passado e agora vivia atormentado por um mal pior do que o assédio de que era alvo na situação anterior. Ao acordar do pesadelo, resignou-se

- Fui acometido da Maldição de Eros. Tenho todas as mulheres que gostaria, mas não sinto qualquer prazer. Agora sou um midas broxa.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Um monte de histórias bobas e outras histórias

"O livro do vô é um monte de histórias bobas que os amigos contaram pra ele..." foi a manifestação da neta, super sincera e que deu o que falar na postagem no Facebook. Por um lado, alguns detratores aproveitaram a deixa para fazer provocações rasteiras, disfarçadas de elogios à pequena traíra. De outro, apareceram aqueles menos cínicos e mais contundentes que, sim, acharam o livro uma boa porcaria. A estes e aos outros contraponho com pelo menos duas opiniões favoráveis na postagem, gente do calibre da eterna musa intelectual Tânia Carvalho (“Eu ADOREI o livro do "vÔ", que tal?!) e do jornalista e escritor Leo Gerchmann, autor da tríade que resgata momentos épicos do Imortal Tricolor. O livro em questão, o do vô, é o Crônicas da Mesa ao Lado.

No primeiro momento pensei em deserdar a neta, a quem dediquei quando nasceu, há exatos sete anos, um dos textos mais emotivos que já cometi ( http://viadutras.blogspot.com.br/2010/01/bem-vinda-maria-clara.html )- era a primeira da terceira geração dos Brandão Dutra. Não lhe concederia  um lote da minha apreciada coleção de canecas, mas já perdoei a pequena ingrata, até porque acredito que ela foi induzida por pessoa adulta, do círculo familiar.  Vou acabar descobrindo quem é.

Enquanto isso, fico com a posição do generoso Gerchmann que afirma que receber contribuições é ótimo. Sem elas os escritores estariam perdidos, especialmente os iniciantes como eu, mas vale  também para quem já  está na lida há  mais tempo. Que o digam meus amigos Gustavo Machado, festejado autor  de  Sob o Céu de Agosto e Marcha de Inverno, Lucas Barroso que depois do romance Virose lança agora o livro de contos  Um Silencio Avassalador ou o Auber Lopes de Almeida, poeta e cronista com três obras já publicadas – Estética  da Tristeza, Nós e Memórias de Uma Vida Hilária.

Até parece que desviei do tema central deste texto para promover a produção literária dos amigos jornalistas e  é verdade. Por  isso,  preciso destacar também a grata surpresa que foi o livro Sala  de Embarque, de um amigo da juventude, o Leo Ustarroz,  o divertido Pândegas & Galhofas  do não menos espirituoso Paulo Motta, o Afonso Licks com seu resgate histórico Octavio, O Civil dos  18 do Forte de Copacabana. Isso sem falar no que vem por aí, o DezMiolados  em suas versões masculina e feminina. 

Volto a afirmativa da neta e assalta-me  a dúvida, que é a dúvida  de  todos os  que se arriscam a cometer literatura: e se ela tiver razão e tudo não passar de um monte de bobagens? Preciso abrir uma cerveja e refletir a respeito.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Provocações eróticas

A provocação continua. Acho mesmo que estou sendo vítima de uma quadrilha organizada para me desestabilizar. É que todos os dias  meus e-mails pessoais são infestados por  mensagens que relatam maravilhas de aditivos para turbinar  a relação sexual.  Ainda não entendi porque sou alvo deste insidioso marketing erótico. Suspeito que pela faixa etária o algoritmo - ou  será logaritmo? – escolhe a quem direcionar a mensagem. Quanto mais idade,  mais  necessidade de um incentivo químico, deve ser a lógica dos logaritmos – ou será algoritmos? –,  só que no meu caso quebraram a  cara.  Garanto que não preciso e  quando declaro isso publicamente sempre  tem alguém maldoso para acrescentar ...”claro, não pratica mais!”.  De fato, a maldade humana não tem limites.

Apenas a título de ilustração e, reafirmo, só por isso, vale a pena publicizar algumas dessas mensagens provocativas. Exemplos: “Tenha  DUREZA (assim, com caixa alta) que as mulheres  gostam”, postagem de um tal de Jair Ribeiro, que convida para conhecer a erva afrodisíaca  Maca Peruana. O produto deve ser uma maravilha porque promete corrigir a impotência e a disfunção erétil, aumenta a fertilidade, proporciona reposição hormonal natural, com ganhos de energias, força e vigor, isso para resumir os benefícios da Maca Peruana.

Outro exemplo: “Uma noite com mais intensidade e prazer na sua cama”, mensagem de Rodrigo Escobar, parecida com a de da Carolina Correa “Suas noite (sim, maltratando a concordância) com mais intensidade e prazer na sua cama”.  O que não faltam são mensagens apelativas, tipo “Sexoando pra valer sem murchar”, de Rebeca Amaral; “Jamais seja debochado  por falta de desempenho”, de Camila Ribeiro e uma bem direta : “Sua cama vai pegar fogo”, de Salete Duarte. Interessante notar que são todos nomes comuns, como se dessem depoimentos d e usuários  ou beneficiários de um mesmo  produto, comercializado pela mesma empresa.

Já o Rodrigo Duarte apela  para o depoimento do que seria um especialista de credibilidade, o cientista e  endocrinologista Gustavo  Gonzales, de uma  tal Universidade Cayetano Heredia, que trata a Maca Peruana como “milagre dos Andes”, afirmando que “no Peru, muitos homens e mulheres usam a planta para  melhorarem sua vida sexual.” 

Apesar de toda publicidade não me arrisco a usar os produtos anunciados que, repito, aparecem nos meus e-mails para me provocar e desestabilizar.
Alias, é tanto o bombardeio sobre a tal Maca Peruana que não resisto a fazer ilações de mau gosto entre o nome do país de origem da planta e o órgão genital  masculino, reconhecendo que foi uma  bobagem do Peru...
É a minha vingança.


sábado, 7 de janeiro de 2017

Coisas que ainda preciso aprender

Chego aos 6.7 meio lanhado,  aqui e ali, mas inteiro nas funções vitais. Entretanto, estou a dever para o meu dia a dia algumas coisas que nunca aprendi a exercitar e que dificilmente vou incorporar à gama de meus conhecimentos. Esse passivo compreende um rol de coisas simples, prosaicas até, que fazem parte da existência de cada um de nós. É verdade que consegui sobreviver sem elas, se bem que um tanto envergonhado pelo despreparo.

Um exemplo clássico é fazer nó de gravata. Já tentei mil vezes, mas o resultado final fica tão diferente dos arranjos conhecidos que até pensei em patentear o Nó Flávio Dutra, assim mesmo, em caixa alta, como se  fosse nome próprio.  Continuo, porém, sendo um Sem Nó, que só adquire gravata com nó pronto.  Igualmente não consigo dar nó duplo nos cadarços de sapatos e tênis e sou obrigado e cortar os cordões mais longos. A inabilidade manual se estende até a caligrafia, que é incompreensível às vezes até pra mim e que me deu uma trabalheira danada quando tive que autografar o Crônicas da Mesa ao Lado, pois fui obrigado a traduzir, caso a caso, as mensagens que escrevia.  
  
Usar o potencial dos celulares, suas funções e aplicativos, então, nem pensar. Morro de inveja daqueles nerds que sabem tudo e todas as operações dos eletrônicos, enquanto eu me limito as funções de telefone, mensagens, internet e tirar retrato.  Outro dia assisti a minha mulher pagando contas por telefone e descobri que isso é possível, além de outras operações bancárias, mas não me arrisco  com medo de causar enormes complicações ao sistema financeiro nacional e quiçá internacional. 

Gostaria também de saber cozinhar  para preparar do trivial variado à pratos sofisticados, porém, não passo do ovo frito e da torrada, embora seja um competente e elogiado churrasqueiro.

Teria outros projetos a cumprir, alguns deles inconfessáveis, diria escabrosos em alto teor. Mas até mesmo um vô de 6.7 tem direito a sonhar com metas, digamos, diferenciadas. E se, de repente, eu aparecer mais sorridente do que de costume, podem crer que não foi porque aprendi a fazer nó de gravata.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Reflexões natalinas

Há uma certa melancolia, quase deprê, neste período de festas. Talvez seja pela obrigatoriedade de mostrar felicidade, enquanto a realidade é desanimadora. Culpa também das revisões que o fim de uma etapa impõe e a conclusão de que muito foi sonhado e pouco concretizado e isso vale tanto para a vida pessoal como para o lado profissional.  Se pelo menos os presentes compensassem as frustrações, mas nem isso tem ajudado.

Foi-se o tempo das cestas de Natal repletas de produtos importados, ou das bebidas finas ou, ainda, dos eletrônicos de última geração oferecidos como mimos por clientes e fornecedores. No Jornalismo tal prática é conhecida como “toco”. Escapa ao meu conhecimento a origem da expressão. Talvez represente coisa pequena e o uso  parece ser exclusivo dos jornalistas gaúchos.

Hoje o recebimento dos regalos é visto com restrições ou tratado como folclore, mesmo porque a operação Lava Jato desnudou o toma lá, da cá em nível bilionário.  E, assim, ofertantes e recebedores foram para a retranca, com os toqueiros bagrinhos, aqueles que recebem um misero espumante moscatel ou um panettone, pagando pelos peixes grandes, pós graduados em mamarem nos recursos públicos.

Não estou aqui para lamentar por nenhum deles. Na verdade, quero deixar meu protesto veemente, em nome de todos os capricornianos que fazem aniversário no Natal ou nos dias próximos. Não são poucos, garanto, mas a maioria alega que é discriminada quanto aos presentes, recebendo um que vale por dois devido a coincidência de datas. Por muito tempo fui vitima dessa sovinice, eis que nasci em 6 de janeiro, dia de Reis (mera coincidência), embora  a data seja referencia a chegada dos reis Magos Melchior, Baltasar e Gaspar à gruta de Belém para presentear o Menino Jesus com ouro, incenso e mirra. No  Uruguai a troca de presentes ocorre nesse dia. Mesmo assim, apesar  de  todo esse respaldo bíblico e de tradição, muitas vezes eu ficava sem o  presente de aniversário.

Nem por isso precisei apelar para o divã dos analistas a fim de curar minha frustração por não ser presenteado  e olha que   nem precisava ser ouro, mirra e incenso, bastava um carrinho, uma bola, um joguinho qualquer.


Não vão faltar línguas maldosas para dizer que estou aqui apelando para o coitadismo e  insinuando  a necessidade de ser presenteado no aniversário próximo -  com vinhos importados, espumantes de boa cepa, cervejas  artesanais, camisas azuis de grife, utensílios para churrascos. Não, gente,  não precisa se incomodar. 

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Autofagia colorada

Se algo de bom aconteceu ao Inter neste ano foi ter jogado fora de casa a última e decisiva partida que confirmou o descenso. Imaginem se o jogo fosse no Beira-Rio: não haveria grade que segurasse a torcida e os gomos do estádio correriam sérios riscos.  Se bem que o time, diante da sua massa torcedora, não seria passivo nem conformista como o que enfrentou o Fluminense. Se...

Nada pode ser pior para um clube da grandeza do Inter do que frequentar a Série B e seus adversários aguerridos e campos que deixam a desejar, Brasil afora. Mas nada pode ser melhor para a coesão de uma grande torcida do que o desafio de empurrar o time para voltar ao convívio dos maiorais.  E vamos combinar que o rebaixamento não é o fim do mundo, ainda mais se cotejarmos com outros acontecimentos trágicos deste 2016 e com toda a agitação do cenário político brasileiro durante o ano.

O que fica do episódio, além da inevitável busca dos culpados pela derrocada –  temos obsessão por apontar culpados, como se isso resolvesse -   é que alguns dos principais personagens do drama vivido pelos colorados ficarão marcados para todo o sempre, assim como o foram Rafael Bandeira dos Santos e Flávio Obino nas quedas gremistas.

Como a confirmar a máxima do velho Marx de que a história só se repete em forma de tragédia e farsa, nem Celso Roth, nem Fernando Carvalho conseguiram honrar seus currículos na hora do cai-não-cai. O resultado  esteve mais para  tragédia do que farsa.  Pior ficou a situação de Fernando Carvalho, o mais vitorioso dirigente colorado de todos os tempos, que acabou sendo uma nova vítima de uma certa autofagia que tem contaminado o Inter e que consome a reputação de personagens colorados icônicos.  Ocorreu com Dunga e Falcão, antes e recentemente, e com Fernandão, este felizmente já resgatado e agora imortalizado no pátio do Beira-Rio.

Nesta hora vale para o Inter e para todos os que amargam reveses no esporte e na vida, uma crônica memorável do mestre Drumond, “Perder, Ganhar, Viver”, a propósito da inesperada eliminação do Brasil para a Itália, na Copa de 82: “(...) chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida.(...) Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos: começar de novo.”


Fica essa modesta, porém sincera, colaboração de um gremista que já penou duas vezes pela Segundona.

sábado, 26 de novembro de 2016

Bom de cama

O caso da jurada que tirou um cochilo em pleno depoimento do acusado de atropelar os ciclistas na Cidade Baixa e, com isso, obrigou o atropelador a refazer sua defesa, me remete aos constrangimentos que já passei por dormir em público e em situações as mais inusitadas.

Lembro que em determinado período era forçado a participar de demoradas discussões salariais com sindicalistas e eventualmente dormia no meio do encontro. Só era acordado quando o ronco ultrapassava os decibéis dos bate-bocas entre as partes.  Outro caso: como assessor comparecia aos debates eleitorais de um candidato a cargo no executivo e desenvolvi uma técnica que sempre deu certo, eis que conseguia despertar do soninho assim que meu candidato devia perguntar ou responder. Em uma dessas situações, o assessor de outro candidato fotografou a dormida e postou nas redes sociais, com um comentário malicioso. Quando fui acordado parti para cima do sujeito, que era mais alto, mais forte e bem mais jovem do que eu, enchi ele de desaforos, sem que o cacalhão reagisse. Baixinho enfezado é fogo.

Já fui flagrado cochilando no Tá na Mesa da Federasul e olha que o palestrante era dos bons, além de apagões em reuniões de diretoria e de comitês. Num congresso em Canela, em que o presidente da empresa ia palestrar, resolvi sentar na segunda fileira, só que o baba ovo aqui não levou em conta que a apresentação se dava logo após o lauto almoço. Aí aconteceu o inevitável, uma vontade quase insuperável de jiboiar quando as luzes foram reduzidas durante as projeções da palestra. O companheiro ao meu lado não resistiu e se entregou a Morfeu, aumentando a minha aflição, ao imaginar que o presidente poderia pensar que, naquele escurinho, era eu o roncador. Mas bravamente consegui superar aquele momento de puxa-saquismo explicito na fila do gargarejo.

Pior mesmo foi o período em que dormia com o carro parado em sinaleiras, aproveitando aqueles 30 segundos de sinal vermelho, até ser acordado pelas insistentes buzinadas dos outros motoristas. 

Esses casos confirmam que sou bom de sono, o popular ¨bom de cama¨. À noite, deito e logo durmo, mesmo que quase sempre dê uma “pescada” durante a novela, ainda mais se a janta foi acompanhada de uma taça de vinho. É que cada vez mais não consigo resistir aquele apelo ao soninho que vem vindo lá do fundo, os olhos pesam e, de repente, apago. 

Contando assim até parece que sempre tive o melhor dos sonos. Ledo engano. Meu sono era pesado, interrompido várias vezes, até que no laboratório, onde a gente passa a noite cheio de fios conectados, os exames registraram que eu era recordista em apneias, ou seja, tinha qualquer coisa como umas 50 paradas repetidas ou temporárias da respiração por hora. Sobrevivi porque devo ser um forte. Agora aderi ao tratamento recomendado, uso um aparelho que me devolveu a tranquilidade do sono e acabou com os resmungos da Santa, que não conseguia dormir por causa dos meus roncos.


Gostaria de saber mais sobre o caso da jurada dorminhoca. Vai ver a coitada está casada com um sujeito que assumiu o posto de recordista em apneias.

sábado, 19 de novembro de 2016

Enfrentando o medo pânico

Das poucas coisas que me desestabilizam a principal é ter que falar em público. Beira o medo pânico, mas já foi pior. Nos tempos de ginásio no Rosário nas aulas de português o grêmio literário era uma atração para quem gostava de brilhar frente aos colegas, declamando poesia, discursando ou recitando uma redação. Todos os alunos deviam se apresentar pelo menos uma vez e quando chegava a minha era como se fosse para o patíbulo. E lá ia eu para a frente da turma gaguejando um texto, enquanto o pessoal do fundão da aula se divertia com minha timidez em público, diante do olhar reprovador do mestre.  E olha que eu era um estudante bem integrado com os outros colegas, já escrevia razoavelmente bem para aquele período escolar, fazia redações para os outros, mas no dia do malfadado grêmio literário tinha um bloqueio.

Mais tarde, essa dificuldade de me expressar em público contribuí certamente para que não tentasse falar no microfone nos tempos em que atuei em rádio, deixando de investir numa carreira que poderia me ampliar as ofertas no mercado de trabalho da comunicação.  Preferi a retaguarda, um tanto invejoso dos colegas que dominavam a arte de tagarelar  para grandes e pequenas audiências.

Quando assumi certas funções públicas que eventualmente exigiam que fizesse algum pronunciamento não tinha como escapar. Assim que o pessoal do cerimonial informava que deveria obrigatoriamente dirigir algumas palavras à assistência em determinado evento eu queria me enfiar num buraco, sair pela janela, fugar pelos bastidores ou torcer para que uma catástrofe natural qualquer interrompesse a cerimônia. Mas isso nunca aconteceu e aí tive que dominar minha timidez e o bloqueio e inventar alguns artifícios para enfrentar as situações com um mínimo de dignidade.

A primeira lição que ofereço a quem padece do mesmo mal é falar pouco e já anunciar essa disposição no início, especialmente naqueles atos de muitos discursos.  Sempre que possível, pedia ao cerimonial para ser o primeiro a falar,  na esperança de que o meu titubeante pronunciamento seria esquecido na sequência das outras participações, normalmente de cobras criadas na arte de discursar. Além disso, sendo o primeiro, poderia apresentar uma ou outra ideia original, sem o risco de ficar repetitivo.

Também fazia ´parte do meu repertório de enganação, quando representava algum figurão, abrir com o anuncio de que trazia o ¨fraterno abraço¨ e o ¨reconhecimento dele ao valoroso¨ (aqui pode haver uma variação de termos, tipo generoso, aguerrido, corajoso, etc) ¨ao trabalho desenvolvido¨ pelo segmento presente e sua inestimável (aqui também cabem variações como importante, imprescindível,  indispensável, etc) ¨contribuição ao  desenvolvimento da nossa terra¨, ou ¨para beneficiar nossa gente , ou ¨para o pleno exercício da democracia¨, e por aí vai.

Depois era só alinhar mais duas ou três ideias bem básicas, agradecer a acolhida, elogiar os organizadores, sempre olhando em rodízio para a plateia à esquerda, à direita e ao fundo. Quando estava mais seguro, até tentava fazer uma graça. Só que,  como não tinha muito jeito para bancar o engraçado, passei por saias justas, como quando tive que falar num evento promocional pré Copa do Mundo em Punta del Este, diante de representantes do corpo consular. Ao destacar o esforço dos uruguaios para realizar a Copa de 30, fiz referência ao fato de que, naquele tempo, ¨vejam vocês, nem existiam celulares ainda¨, uma bobagem que ninguém entendeu e nem sei porque inclui na peça oratória. Pelo menos me obrigou a abreviar a lengalenga.   

Por fim, sempre que era possível, acrescentava um entusiasta desejo de ¨longa vida à...¨, e customizava à atividade ou aos profissionais presentes. Funcionou sempre e, em contrapartida, até mereci aplausos mais prolongados de plateias menos exigentes.

E assim consegui sobreviver a essa provação que é enfrentar o público, mesmo admitindo que ainda não me livrei de um  incômodo ¨tᨠao final das frases, tá, que não sei quando começou, tá, mas que provavelmente incorporei como bengala, tá, para emendar a frase seguinte, tá.