O caso da jurada que tirou um cochilo em pleno depoimento do acusado de
atropelar os ciclistas na Cidade Baixa e, com isso, obrigou o atropelador a
refazer sua defesa, me remete aos constrangimentos que já passei por dormir em
público e em situações as mais inusitadas.
Lembro que em determinado período era forçado a participar de demoradas
discussões salariais com sindicalistas e eventualmente dormia no meio do
encontro. Só era acordado quando o ronco ultrapassava os decibéis dos
bate-bocas entre as partes. Outro caso: como assessor comparecia aos
debates eleitorais de um candidato a cargo no executivo e desenvolvi uma
técnica que sempre deu certo, eis que conseguia despertar do soninho assim que
meu candidato devia perguntar ou responder. Em uma dessas situações, o assessor
de outro candidato fotografou a dormida e postou nas redes sociais, com um
comentário malicioso. Quando fui acordado parti para cima do sujeito, que era
mais alto, mais forte e bem mais jovem do que eu, enchi ele de desaforos, sem
que o cacalhão reagisse. Baixinho enfezado é fogo.
Já fui flagrado cochilando no Tá na Mesa da Federasul e olha que o
palestrante era dos bons, além de apagões em reuniões de diretoria e de
comitês. Num congresso em Canela, em que o presidente da empresa ia palestrar,
resolvi sentar na segunda fileira, só que o baba ovo aqui não levou em conta
que a apresentação se dava logo após o lauto almoço. Aí aconteceu o inevitável,
uma vontade quase insuperável de jiboiar quando as luzes foram reduzidas
durante as projeções da palestra. O companheiro ao meu lado não resistiu e se
entregou a Morfeu, aumentando a minha aflição, ao imaginar que o presidente
poderia pensar que, naquele escurinho, era eu o roncador. Mas bravamente consegui
superar aquele momento de puxa-saquismo explicito na fila do gargarejo.
Pior mesmo foi o período em que dormia com o carro parado em sinaleiras,
aproveitando aqueles 30 segundos de sinal vermelho, até ser acordado pelas
insistentes buzinadas dos outros motoristas.
Esses casos confirmam que sou bom de sono, o popular ¨bom de cama¨. À
noite, deito e logo durmo, mesmo que quase sempre dê uma “pescada” durante a
novela, ainda mais se a janta foi acompanhada de uma taça de vinho. É que cada
vez mais não consigo resistir aquele apelo ao soninho que vem vindo lá do fundo,
os olhos pesam e, de repente, apago.
Contando assim até parece que sempre tive o melhor dos sonos. Ledo
engano. Meu sono era pesado, interrompido várias vezes, até que no laboratório,
onde a gente passa a noite cheio de fios conectados, os exames registraram que
eu era recordista em apneias, ou seja, tinha qualquer coisa como umas 50
paradas repetidas ou temporárias da respiração por hora. Sobrevivi porque devo
ser um forte. Agora aderi ao tratamento recomendado, uso um aparelho que me
devolveu a tranquilidade do sono e acabou com os resmungos da Santa, que não
conseguia dormir por causa dos meus roncos.
Gostaria de saber mais sobre o caso da jurada dorminhoca. Vai ver a
coitada está casada com um sujeito que assumiu o posto de recordista em
apneias.
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