¨Na mocidade frequentava todas as noites o Maipu¨. Foi assim que o Neni abriu a conversa na mesa
ao lado. Embora a presença feminina fosse maioria naquele fórum etílico e gastronômico,
a sentença do Neni foi a deixa para que os talheres e as taças de espumante
ficassem de lado e toda a atenção concentrada no que seria relatado depois.
Aqui convém esclarecer que o Maipu era um afamado cabaret que marcou
época nos anos 40 e 50 do século passado, com diversificado e qualificado
elenco de moças. Ficava no Centro de Porto Alegre e tocava tangos e boleros. Exceto pelo cardápio musical, seria um
Carmen´s Clube de hoje.
O fato de recordar o Maipu e de usar o termo mocidade
são reveladores da senioridade do Neni, ele que já foi um guerreiro pegador dos
mais bem-sucedidos.
Pois na mocidade o nosso amigo batia ponto todas as
noites e arrastava uma asa para uma das moças mais bonitas da casa, mas não era
correspondido.
- Eu era um pelado, vivia de mesada e ela dizia que de
graça nem pensar.
O tempo foi passando e o Neni curtindo aquele desejo
reprimido e rejeitado, até que um dia a sorte lhe sorriu.
- A moça aquela me procurou e disse que queria passar
uma noite comigo.
Parece que ouvi um ohh de aprovação das colegas de
mesa, enquanto o Neni continuava sua narrativa:
- Eu ainda expliquei para a moça que não tinha
dinheiro para ela, nem para o quarto e o táxi, que era o mínimo que a gente
oferecia nessas circunstâncias...
De novo parece que ouvi um outro ohh, mas em tom de
frustração, até que Neni retomou o assunto em tom triunfal.
- Aí ela disse que eu não me preocupasse porque
naquela noite era tudo com ela.
E lá se foram para um hotelzinho de encontros que
existia no Menino Deus. Era o clímax da
história e dava para sentir uma tensão quase física no ar, ao redor da mesa ao
lado. O clímax virou anticlímax diante da revelação de Neni:
- Na hora H, tudo pronto para uma grande noitada, eu
vacilei...
O tal vacilo foi a forma atenuada de dizer que havia
brochado, o que arrancou ohhs solidários de um lado e decepcionados de outro.
Pior foi enfrentar a ira da parceira, como contou.
- Eu banquei tudo, motel, táxi e nem estou cobrando a
minha grana e a única coisa que não podia acontecer era tua brochada. Que papelão, não me procura mais.
Aliás, nem me olha mais, - teria dito a moça, diante de um Neni envergonhado e
à beira de uma depressão.
Ficou tão abatido e de tal forma preocupado com o
episódio que decidiu consultar um psicólogo, pai de um amigo também
frequentador do Maipu.
- Olha, acho que a não ereção se deveu a tua
ansiedade, meu rapaz, - ensinou o especialista. E sugeriu:
- Faz o seguinte: consegue dinheiro com teu pai e parentes
e tenta de novo com outra moça. Se não funcionar, volta aqui.
Neni seguiu à risca a receita e garante que dessa vez
funcionou, sem dar maiores detalhes, obtendo mesmo assim ohhs vitoriosos das
senhoras e senhoritas da mesa.
Foi então que me dei conta que tinha começado lá
atrás, com um enorme fracasso, a trajetória de grandes e variadas conquistas
amorosas do querido Neni. As derrotas, como se sabe, podem ser pedagógicas para
os que sabem tirar delas lições para outros enfrentamentos. E foi assim que
Neni havia se transformado num mestre e alvo de minha confessada inveja, eu que
nunca mereci ohhs da mesa ao lado.
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