Se algo de bom aconteceu ao Inter neste ano foi ter
jogado fora de casa a última e decisiva partida que confirmou o descenso.
Imaginem se o jogo fosse no Beira-Rio: não haveria grade que segurasse a
torcida e os gomos do estádio correriam sérios riscos. Se bem que o time, diante da sua massa
torcedora, não seria passivo nem conformista como o que enfrentou o Fluminense.
Se...
Nada pode ser pior para um clube da grandeza do
Inter do que frequentar a Série B e seus adversários aguerridos e campos que
deixam a desejar, Brasil afora. Mas nada pode ser melhor para a coesão de uma
grande torcida do que o desafio de empurrar o time para voltar ao convívio dos maiorais. E vamos combinar que o rebaixamento não é o
fim do mundo, ainda mais se cotejarmos com outros acontecimentos trágicos deste
2016 e com toda a agitação do cenário político brasileiro durante o ano.
O que fica do episódio, além da inevitável busca dos
culpados pela derrocada – temos obsessão
por apontar culpados, como se isso resolvesse -
é que alguns dos principais
personagens do drama vivido pelos colorados ficarão marcados para todo o
sempre, assim como o foram Rafael Bandeira dos Santos e Flávio Obino nas quedas
gremistas.
Como a confirmar a máxima do velho Marx de que a
história só se repete em forma de tragédia e farsa, nem Celso Roth, nem
Fernando Carvalho conseguiram honrar seus currículos na hora do cai-não-cai. O
resultado esteve mais para tragédia
do que farsa. Pior ficou a situação de
Fernando Carvalho, o mais vitorioso dirigente colorado de todos os tempos, que
acabou sendo uma nova vítima de uma certa autofagia que tem contaminado o Inter
e que consome a reputação de personagens colorados icônicos. Ocorreu com Dunga e Falcão, antes e
recentemente, e com Fernandão, este felizmente já resgatado e agora imortalizado
no pátio do Beira-Rio.
Nesta hora vale para
o Inter e para todos os que amargam reveses no esporte e na vida, uma crônica
memorável do mestre Drumond, “Perder, Ganhar, Viver”, a propósito da inesperada
eliminação do Brasil para a Itália, na Copa de 82: “(...) chego à conclusão de
que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos
nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida.(...)
Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de
vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos
estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes.
Perder implica remoção de detritos: começar de novo.”
Fica essa modesta,
porém sincera, colaboração de um gremista que já penou duas vezes pela
Segundona.
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