*Publicado nesta data em coletiva.net.
Sou do tempo em que a previsão
do tempo no Estado era feita pelo Instituto Coussirat Araújo, vinculado à
Faculdade de Engenharia da Ufrgs. O pomposo nome do instituto homenageava Ladislau
Coussirat Araújo, nascido em Arroio Grande-RS em 1989 e pioneiro nos estudos
climáticos no Rio Grande do Sul. Lembro também que eram aproveitados os dados de
um certo Instituto Antares, do Uruguai e, mais recentemente, do AccuWeather,
serviço americano contratado pela RBS para as informações sobre o clima oferecidas
pelos veículos da rede.
Agora o que predomina é a
credibilidade do 8º Distrito de Meteorologia, no Jardim Botânico, órgão do Instituto
Nacional de Meteorologia, do Centro de Precisão do Tempo e Estudos Climáticos
(Cptec) e de serviços privados, como o Climatempo, MetSul Meteorologia e outros,
que interpretam e divulgam a profusão de dados disponibilizados pelos satélites.
Faço essa digressão diante
da maior relevância que a previsão do tempo assumiu entre nós por
conta dos recentes fenômenos meteorológicos classificados como Ciclones Extratropicais.
Também conhecidos simplesmente como ciclones, provocaram estragos, devastações
e interrupção de serviços em várias cidades e até mortes, como ocorreu na
primeira versão do fenômeno, em maio, e também, embora menos, na mais recente.
A incidência cada vez
mais frequente desses impactantes fenômenos catapultaram os meteorologistas à estrelas
de primeira grandeza na mídia, rivalizando com o pessoal da Defesa Civil, com as
moças e rapazes do tempo dos telejornais e até com o Cléo Kuhn. Os especialistas
climáticos são chamados a explicar por que estamos sendo assolados com tanta
assiduidade pelos tais ciclones e/ou temporais de maior ou menor intensidade.
Além disso, discorrem com naturalidade sobre frentes frias, zona de convergência
intertropical, vórtice ciclônico de alto nível e já começam a tratar dos
efeitos do El Ninho, próxima justificativa para muitas situações adversas nas
condições do tempo. Outro dia, ouvi um entrevistado falar várias vezes em “hectopascais”
e não ocorreu ao entrevistador perguntar do que se tratava, de onde vem e do
que se alimentava o termo, que tem a ver com unidade de medida de pressão, como
o bom Google ensina. Mas, de modo geral, os meteorologistas têm sido bem
didáticos, talvez porque lhes caiba apenas passar informações e não opinar,
como ocorre com os outros “especialistas” que a mídia procura para explicitar
alguma questão mais sensível ou controversa.
Precisão na previsão,
além de rimar, é fundamental para quem divulga as condições do clima que vão afetar
o nosso dia, para o bem ou para o mal. É assim que ganha credibilidade o serviço prestado.
A propósito, aproveito
para recordar uma história contada pelo premiado repórter Carlos Wagner. Pela
Zero Hora, ele produzia uma matéria sobre pessoas que dependiam diretamente do
clima para trabalharem, ouvindo pescadores, tropeiros, motoristas, agricultores
e indígenas. Queria saber como faziam a previsão antes do advento de toda a
parafernália tecnológica hoje disponível. O ponto alto da matéria seria a entrevista
com um indígena, que o Wagner encontrou na reserva caingangue em Charrua,
pequena localidade entre Passo Fundo e Erexim. No final de uma tarde fria de
agosto, os velhos da aldeia estavam reunidos ao redor do fogo de chão, quando o repórter indagou ao mais velho deles,
depois de uma conversa preparatória, que só o matreiro Wagner conseguia fazer, como o indígena sabia se ia chover ou fazer frio.
O velho caingangue sorveu
seu mate, deu uma longa tragada no cigarro e quando o jornalista imaginou que seria
contada uma história, com segredos herdados de seus antepassados, saiu-se com essa
resposta:
- Ouvindo a Rádio Gaúcha.
(A resposta foi tão
surpreendente que a matéria do Wagner mereceu depois uma nota na revista
Seleções).
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