Nós, jornalistas, estamos cada vez mais preocupados com o futuro da nossa atividade, especialmente agora que a Inteligência Artificial (IA) começa a impactar o Jornalismo e outras profissões. O ChatGPT é a ameaça do momento. Mas de quê futuro falamos, se a humanidade como a conhecemos hoje não existirá mais? Não haverá jornais circulando, nem rádios transmitindo músicas, notícias e futebol, sequer reality shows nas TVs ou oferta de streamings e podcasts, e as redes sociais não precisarão ser reguladas porque não haverá mais interação, nem consumidores para nada e para ninguém. Vem aí o fim dos tempos.
Essa antevisão
negativista do futuro tem sua justificativa e nenhuma relação com aquelas
previsões de videntes fajutos. Agora é sério: depois da advertência de especialistas
do calibre do historiador Yuval Noah Harari e do empresário Elon Musk sobre o
impacto da Inteligência Artificial no
nosso cotidiano e no nosso futuro, agora mais de 300 cientistas e líderes do
setor assinam declaração (em 30/05) alertando para a necessidade de mitigar
potenciais ameaças das novas tecnologias, ameaças equivalentes a uma guerra
nuclear ou uma pandemia devastadora.
O manifesto é
apocalíptico, indicando que a IA pode ser responsável pela extinção da raça
humana. Mas é também enigmático, pois não detalha os potenciais riscos e a
gravidade deles, nem sugere como mitigá-los ou a quem caberia essa tarefa. Há
somente vagas ideias do que pode ocorrer, como a possibilidade de humanos com
intenções malévolas instruírem a IA a fazer algo de perverso para a própria
humanidade, desencadeando, por exemplo, uma nova e fatal corrida armamentista.
O mal da civilização não será a desinformação, as fake News que tanto preocupam
atualmente, mas o excesso de informação, usado de forma errada.
A se confirmarem os
prognósticos alarmistas, não será o mundo que vai acabar, mas a humanidade que
habita a Terra. Também não será um novo Big Bang e, sim, uma lenta extinção,
como “um longo suspiro”, apontam os especialistas.
Vamos supor, entretanto e
apenas para efeito de amenizar a
abordagem de uma questão tão inquietante , que o fim dos tempos tenha data e
hora marcados, de modo a permitir até contagens
regressivas e grandes eventos preparatórios.
Como vivemos a era do espetáculo, a humanidade, enfim, vai se unir e
formar uma rede mundial de comunicação para a transmissão do fim do mundo no planeta.
Um grande show será programado com apresentações de artistas e bandas de
renome, interligando palcos de várias metrópoles. Outra atração será um coral
de milhares de vozes em vários idiomas para acompanhar a estreia e última
execução da Sinfonia do Fim do Mundo, com regência de famosos maestros em
orquestras de cinco continentes. O gran finale serão os acordes, em um arranjo sideral, de Il Silenzio e um show pirotécnico de fazer
inveja aos dos réveillons. Por óbvio não
haverá palmas ao final, nem cobertura da mídia no dia seguinte pela simples e
superior razão de que não haverá dia seguinte. Fecha-se o pano.
Dois sentimentos
antagônicos me afligem diante dessa perspectiva: lamento já não estar aqui para
assistir ao maior espetáculo da Terra, e ainda bem que não vou estar aqui para
assistir ao último espetáculo na Terra.
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