* Publicado nesta data em coletiva.net
“Mas eu também sei ser careta
De perto, ninguém é normal
Às vezes, segue em linha reta
A vida que é meu bem, meu mal”
(Meu Bem, meu Mal, de
Caetano Veloso)
Tenho um amigo que, como
um dom Quixote redivivo, investe contra tudo, moinhos de vento em forma de
pessoas ou instituições que sejam consideradas intocáveis pela opinião pública
mas representam hipocrisia ou que sejam
superestimadas em seus feitos na visão dele.
As opiniões contrárias e contundentes desse guerreiro das redes
sociais são publicadas tão logo uma celebridade
de ocasião se sobressaia em nosso cenário contemporâneo de tantos destaques
efêmeros. “Só falo verdades”, justifica este justiceiro da reputação alheia,
que não poupa também os serviços públicos ineficientes e onerosos para os
cidadãos. Justiça seja feita: ele não escolhe desafetos, quanto maior, mais se
sente desafiado a expor a face oculta dos falsos ídolos, pode ser vivo ou morto.
Vou omitir exemplos para não causar constrangimentos
A verdade é que de perto
ninguém é normal, como canta Caetano que, se vivesse por aqui, talvez também
fosse alvo da sanha crítica do iconoclasta gaudério.
As reações às posições
dele não tardam e, as vezes, são tão ou mais incisivas do que as que emite. Aí
vira queda de braço, ou melhor, duelos verbais que por pouco não descambam para
a ofensa pessoal, o que não seria surpresa no ambiente conturbado das redes
sociais.
Confesso, porém, que me
associo ao amigo iconoclasta em suas perorações críticas ao deparar com a falsidade
evidenciada em determinados episódios. É
comum surgirem do nada os rebeldes de ocasião, as falsas ovelhas negras (ainda
se usa o termo?) cada vez que uma celebridade de vida e carreira menos convencional
falece, como ocorreu recentemente com Rita Lee. O que se viu foi uma enxurrada
de novos e inflamados insurgentes contra a caretice geral, especialmente nos
costumes. É mais do que ser fã da obra
da artista. Tinha que louvar a rebeldia da Rita Lee, porque é isso o que movia aqueles que gostariam de se espelhar
no comportamento passado dela, viver na vida real cada estrofe de suas músicas
inspiradoras ou transgressoras. Suspeito, no entanto, que a maioria não passa
de rebeldes de roupinhas de grife, conservadores disfarçados de contestadores.
Mas é só suspeita sobre o comportamento desses que fazem o gênero
iconólatras, pessoas que adoram imagens
ou ícones. São conhecidas também pela aderência
a qualquer onda, especialmente as mais fáceis de surfar. Efeito boiada é com eles mesmo.
Ora, direis que sou demasiadamente
cruel nas minhas avaliações quando também
assumo minha porção iconoclasta, mas pego leve e não chego a ser um degenerado dos relacionamentos como o
amigo que inspirou este texto. E, como nos versos de Caetano, eu também sei ser
careta.
Eu me sinto cansado na maioria das vezes com esses tipos. Depois, passa. É uma boiada de pouco pasto e, por isso, busca o do vizinho para alimentar sua pança faminta por visibilidade. Mais um texto exemplar, meu chefe.
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