Na mesma turma que se reunia na mesma mesa, do mesmo bar, nas mesmas quintas-feiras, Ronaldo chamou a atenção para um anúncio:
- Gente, preciso fazer
uma confissão pra vocês!
De imediato, os amigos cessaram
as conversas paralelas e ficaram à espera da revelação que viria. Não havia
segredo entre eles, embora os feitos de cada um sempre fossem vitaminados
quando eram relatados à mesa, principalmente as conquistas amorosas. Agora
esperavam de Ronaldo, um bem sucedido empresário, uma história picante, vivida
com alguma musa de ocasião. Entretanto, Ronaldo assumiu um ar grave e tomou um gole espichado da cerveja já morna,
como se precisasse de aditivo para o complemento do seu anúncio.
- Nem sei como começar. O
problema é com meu filho. O rapaz agora parece estar convivendo com uma prática
que nem tenho como explicar.
Deu o gole final na
cerveja, serviu-se de mais meio copo, como a ganhar tempo para as revelações que
ainda precisaria fazer.
- Eu tento conversar com
ele, acho que o diálogo entre pai e filho é importante, quero ajudar, mas não
adianta. Ele gosta mesmo é de estar com aquela nova turma de amigos que são
todos do mesmo jeito que ele, usando umas roupas diferentes e umas sacolas
suspeitas quando saem não sei pra onde.
Nessa parte do desabafo,
os amigos viram que os olhos do companheiro estavam marejados. Quase soluçando,
ele deu um longo suspiro e continuou:
- O pior é que a minha
ex, a mãe dele, dá força para as esquisitices do Junior e ainda tem a coragem
de me dizer que o importante é que ele seja feliz, que não vai deixar de amá-lo
por isso e que não está nem aí pra minha
vergonha, ou melhor, a vergonha da família. Tenho até evitado os almoços de
domingo na casa dos velhos, pra não ter que dar explicações.
O fato de o filho ter o
mesmo nome do pai, agravava a situação, foi o entendimento unânime da mesa.
Ronaldo voltou à carga:
- Não sei onde eu errei.
O Junior sempre teve do bom e do melhor, escola particular, celulares de última
geração, roupas de grife e tênis da moda, curso de inglês e até intercâmbio na Inglaterra.
Sei lá se não foi nesse intercâmbio que ele voltou assim, diferente. Agora, o
que eu faço? O que vocês me aconselham?
Antes que viessem os
conselhos, Ronaldo despejou a angustiante revelação:
- O Junior agora é adepto
do beach tênis. Imaginem, do beach tênis!
Caiu um silêncio
constrangido sobre a mesa, até que o primeiro parceiro falou:
- Beach tênis, como assim?-
exaltou-se o contabilista,
- Bah, essa nova
geração..., acrescentou outro, o funcionário público,
- Nem sei o que faria se
fosse meu filho, - resmungou o terceiro, o comerciante.
- O governo tinha que
fazer alguma coisa com essa gente. No meu tempo...- interveio o ex-delegado.
- Minha solidariedade,
Ronaldo e acho que falo em nome de todos os companheiros, - propôs o aspirante
a político.
- Sim, é isso mesmo, tamo
junto, amigo - acrescentaram todos.
Ronaldo saiu confortado
do encontro. Mas a solidariedade dos parceiros durou só até o final da rodada,
porque ele nunca mais foi convidado para a mesma mesa, no mesmo bar, só quem em
novo dia, porque já não havia mais ambiente para conviverem com ex-amigo em
desgraça.
- Onde já se viu ter um
filho adepto do beach ténis? Que pôca vergonha! - foi a justificativa para o
seu cancelamento, em mais um momento de unanimidade naquela mesa.
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