*Publicado nesta data em coletiva.net
Fosse eu um roteirista
medianamente talentoso adaptaria para o cinema um roteiro tipo o que produziu O
Planeta dos Macacos, mas agora como O Planeta dos Cães, ou The Pets Planet na
versão em inglês. A história seria mais ou menos assim: a cachorrada, graças ao
tratamento refinado recebido ao longo dos anos em alimentação, suplementos, cuidados veterinários, adestramento,
confortos em casa e muito carinho, evolui para um estágio superior, enquanto os
humanos, entretidos nas redes sociais e acomodados às modernidades, involuíram
cada vez mais, perdendo espaço e poder para os seus mascotes.
Só que os cães, um tanto agradecidos,
não tratarão mal seus ex-tutores, garantindo-lhes o mínimo para a sobrevivência:
comida, água e uma casinha no quintal para dormirem. Não haverá coleira para os
humanos, pois os cães não perderão tempo
em sair a passear com as pessoas. Mas os celulares ou similares serão
confiscados e a circulação humana ficará restrita, até porque os automóveis serão transformados em
habitações populares para os animais em situação de rua. Assim eles não
ficariam vagando por aí, a esmo, como os humanos.
Os gatos, entretanto,
serão discriminados e hostilizados porque concorriam com os cães na conquista
do planeta. Mais frágeis e menos combativos, ficaram um degrau abaixo na escala
evolutiva e agora pagam caro por esse retardo. A vingança dos gatos é miarem
todas as noites e a noite toda para
perturbar o sono dos cachorros, que revidam com uma severa repressão aos
felinos. Os macacos também estão na mira
da cachorrada, só que os espertos símios, que já comandaram o planeta e sabem
como a coisa funciona, ficam lá na copa das árvores, mexendo com os novos donos
do pedaço e defecando nas cabeças deles. Até por isso, é considerada ofensa
grave, passível de prisão por crime de racismo, um cão ser chamado de “macaco”.
O roteiro irá mostrar
também as dificuldades para a implantação do Regime Canino. Os cães mais
ferozes, dos clãs dos Mastiff, dos
Pitubull, dos Cães-Lobos, dos Bulldog passam se digladiando pelo poder e nem o
líder máximo, o autoritário Dobermann, conseguia neutralizar os briguentos. Os
cães mais representativos dos raças populares, liderados pelo Vira-lata
Caramelo, reclamavam que os animais das raças tidas como nobres, os Fox Terrier,
os Bichon Frisé, os Chow Chow, os Lulus da Pomerânia recebiam privilégios e se
assumiram como elites da sociedade canina. Criaram-se verdadeiras castas. “Continuam
sendo cachorros de madame”, acusava a turma do Caramelo . Os clãs de cães do
hemisfério Sul como o Fila Brasileiro, o Pila Argentino, o Pastor Australiano denunciaram que estavam sendo vítimas de discriminação do
europeu Dogue Alemão e do Buldog Americano. Já os primos Lobos, conhecidos arruaceiros,
formaram gangues que passaram a ameaçar os cães de bem, sem que fossem
combatidos nas suas investidas.
Enfim, a utopia canina
virou um mero canil, um mundo cão e, ainda, reproduzindo o que de pior havia na
sociedade humana. O Cãonselho dos Sábios, integrado pelo Pastor Alemão, o
Labrador Retrevier, o Border Collie, o Husk Siberiano
e o Rottweiller destitui o líder e decide devolver o poder aos humanos. Aí
acontece o inesperado: a raça que sucedeu os humanos, provida das necessidades
básicas, havia aderido a uma zona de conforto e, assim, continuou involuindo e ficou
inapta para retomar o status anterior.
Foi então que os ladinos
e ágeis macacos deram o golpe e reassumiram o poder que um dia fora deles, restaurando o Planeta dos
Macacos. E ainda desdenharam dos ex-senhores: “Aquele pessoal ainda andava de
quatro patas!”. Os de quatro patas perderam o poder e as mordomias de antes,
passando a dividir com os humanoides os espaços que restaram, os restos de
comida, uma tigela de água e a casinha no pátio. Uma cena dramática para finalizar
a o roteiro.Para efeito de produção cinematográfica pode começar na sequência
uma nova saga da franquia O Planeta dos Macacos, com várias continuações.
Alô, Netflix, alô
Spielberg. Podem me contatar. Não tenho agente, é negociação direta pelos direitos
do roteiro.
Claro que tudo isso é
ficção, mas por via das dúvidas vou ficar atento às reações e atitudes da Felícia
e do Godo, os pets aqui de casa. Vai que...
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