*Publicado nesta data em coletiva.net
Havia
um restaurante no Centro de Porto Alegre que servia aqueles pratos tipo
bastantão, um Tudo pelo Social da época. O local era decorado em todas as
paredes com pinturas de bucólicas cenas pastoris, de situações bem antigas. Uma
forma de exaltação ao gauchismo, provável saudosismo interiorano do
proprietário do estabelecimento. Certa noite, a equipe da Editoria de Esportes da Zero Hora nos idos
dos anos 1970, foi jantar no tal restaurante e o nosso editor, o impávido Cói
Lopes de Almeida, olhou aquelas pinturas todas e revelou uma pertinente preocupação:
-
Imagina se num futuro distante fizerem escavações neste lugar e descobrirem o
que sobrou das paredes, com essas pinturas aí. Certamente vão pensar que
vivíamos assim em pleno século 20.
Esse
olhar para o futuro é instigante e o Cói, que fazia o gênero maluco-beleza,
antecipou o equívoco que poderiam incorrer os exploradores dos séculos
vindouros.
Hoje,
passados mais de 45 nos da quase profecia do editor, fico imaginando os ETs
chegando a Terra depois de a humanidade como a conhecemos hoje ter enveredado
para outra espécie (é o que pressagia o pensador Yuval Harari no livro Homo Deus)
e aqui decifrassem, como champollions futuristas, o acervo das postagens nas redes
sociais produzidas nestes anos controversos. Depois de pesquisar, os visitantes
extraterrestres recomendarão aos seus superiores:
-
Planeta de vibe ruim. Não vale a pena
investir aqui. Alô, base. estamos voltando.
Seria
tão mais amigável para os ETs se tivessem descido em Porto Alegre e
descobrissem nas ruinas de um prédio no Centro Histórico da cidade as paredes
ornadas com pinturas de cenas gauchescas. Provavelmente, o maior estranhamento dos alienígenas
seria quanto a um equipamento arredondado, com uma espécie de canudo na ponta,
que a maioria portava numa roda de terráqueos, em volta de um fogo, conforme
mostrava uma das ilustrações encontradas. Seria um aditivo, uma bebida
regenerativa, uma iguaria que circulava de mão em mão?
Os
intrigados visitantes pediriam a vinda de seu mundo distante de uma equipe de
especialistas, só para analisar o misterioso achado pictórico, que apareceria
em outras ilustrações, mas circunscrito a poucas regiões do planeta invadido. Depois
de descobrir do que se tratava e das propriedades da bebida que os humanos
sorviam com tanto prazer, os intergalácticos, já aquerenciados por aqui. adotariam
o mesmo hábito.
Passa
o tempo e, então, gerações futuras aportam novamente na Terra com uma nova leva
de colonizadores do espaço distante, que encontram em alguma superfície ilustrações
de seus antepassados segurando um equipamento redondo com uma espécie de canudo
na ponta, reunidos em volta de um fogo digital, e intrigados...
(Sei
lá, mas acho que este texto acabou virando uma “viagem” digna das elocubrações
do Cói)
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