*Publicado nesta data em coletiva.net
Confesso que fico desnorteado
quando recebo pedidos do tipo “me traz água oxigenada 10 volumes”. Dois minutos
depois eu já esqueci a volumetria da água e esqueci também de perguntar se
compro no supermercado ou na farmácia. Escolho a farmácia, mas aí fico com
aquela cara de paspalho quando a moça pergunta se o produto é para curativo ou
para o cabelo e qual o volume da tal oxigenada. Agora vem a parte mais difícil,
a capitulação: ligar pra Santa e perguntar o que é mesmo que ela pediu pra
comprar.
Fico me maldizendo pela
histórica inaptidão para certas tarefas, o que se acentua e mexe com minha autoestima
quando preciso decifrar a lista de compras no supermercado. “Existe cogumelo
Paris ?”, pergunto ao rapaz que ajeita as verduras. “Sim , é esse aqui”, ele
mostra o bandeja que está a minha frente, com o nome bem visível. Agradeço, pego o produto e saio de fininho.
Pior é distinguir na feirinha a rúcula da radite ou do espinafre. Suspeito que
sou motivo de chacota do pessoal da banca, logo que viro as costas, depois de
ter perguntado pela enésima vez qual era uma ou outra. No dia em que mudei de
estratégia para evitar o constrangimento e fiz uma pergunta genérica, “essa rúcula está fresca?”, sucedeu-se mais
um vexame . “Hoje só temos radite, senhor...”, foi a resposta e aquele “senhor”
já saiu escandido, com entonação de deboche.
Na banca de frutas tento
bancar o esperto e quebro a cara de novo. “Bonitas essas melancias de
Montenegro”, elogio ao feirante, que faz uma cara de soberba para retificar. “Essas
aí vêm de Goiás, porque a safra gaúcha já acabou há tempos”. Vale o mesmo para os “maravilhosos pêssegos
da nossa Vila Nova”, que, na verdade,” vieram da Ceasa” e prefiro nem saber o
estado de origem. Só falta os moranguinhos não serem de Bom Princípio ou não
ter abacaxis de Terra de Areia, mas prefiro não me arriscar perguntando e
passar vergonha de novo,
Corta para o corredor dos
produtos de limpeza no supermercado e agora me sinto à vontade pois já consigo
diferenciar o detergente do desinfetante e da água sanitária e a serventia de
cada um. O detergente é para lavar a
louça, o desinfetante é para higienizar superfícies e a água sanitária é para a
limpeza mais pesada. Será que não
misturei as utilidades? Bom, a Santa sabe pra que servem. Só peço
encarecidamente aos fabricantes que não mudem as embalagens porque aí vai ser
difícil eu memorizar tudo de novo, inclusive também porque levei tempo para
identificar Clorofina como água sanitária.
Com a certeza de que não sou o
único homem que passa por essas desventuras em modo de compras, vejo misso um
nicho de empreendedorismo: quem se habilita a oferecer seus serviços
como personal customer aos senhores sem noção, que vão ao
supermercado ou feiras com listinhas de produtos indecifráveis na mão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário