segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O Desculpante

* Publicado nesta data em Coletiva.net.

Sempre que me envolvo em eventos tenho lidado com um tipo peculiar: o Desculpante. É aquela pessoa que arranja toda a sorte de desculpas para não comparecer ao evento para a qual foi convidada e cuja presença, é importante frisar, seria voluntária. São viagens inesperadas, consultas médicas de urgência, compromissos familiares impostergáveis, reuniões de trabalho em horários tardios. Aparece de tudo, até o sincero “esqueci”.  Tem ainda uma subcategoria que já avisa que fará “o possível para comparecer” e isso, na verdade, é a senha para a ausência certa e para acionar o modo desculpa.

Como já estou acostumado com esses procedimentos e não sou de guardar ressentimentos com  os faltosos – afinal, repito, os convites não implicam obrigatoriedade – acho até divertida a situação. Gostaria apenas que o pessoal fosse mais criativo e ampliasse o leque de justificativas.

De minha parte, que não tenho muita paciência e disponibilidade para tantos eventos que se oferecem, especialmente em finais de ano, sou seletivo nas presenças. Quando compareço,  dou meu prefixo no local e depois de ser bem notado e cumprimentado saio à francesa.

Sessão de autógrafo são um martírio para mim, eu que deveria ser condescendente porque pelo menos duas vezes por ano estou colocando meus garranchos em livros que produzo. Só que desenvolvi uma técnica que dá celeridade ao processo: é autógrafo, foto e um rápido diálogo. Se for uma caldável, ainda tem direito a um gracejo respeitoso. 

Para os lançamentos dos amigos, procuro sempre ser o primeiro a chegar e receber o autógrafo. Se a fila é inevitável começo a dar recados  para os da frente, a fim de  que evitem as resenhas com o autor. Nem sempre funciona e acho que tenho colecionado alguns desafetos com essa atitude incivilizada, reconheço. É que a minha intolerância à filas é mais forte do que  minhas amabilidades, diferente da maioria dos meus iguais veteranos, que adoram uma aglomeração para colocar as conversas em dia, criticar os governos, falar das artes dos netos, dos achaques da idade e das novidades em  receitas de remédios. Nesses casos, nem preciso de desculpa para passar longe dessa chacrinha.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário