segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Enriquecendo o vocabulário além do juridiquês

*Publicado nesta data em Coletiva.net

Veteranos como eu lembram que as edições antigas da revista Seleções tinham uma secção intitulada Enriqueça Seu Vocabulário. Uma palavra menos conhecida era acompanhada de três possíveis significados e, ao final, se conhecia o sinônimo correto. No Brasil, a cada crise, a cada magno acontecimento - e são frequentes -  temos uma versão nacional  do Enriqueça Seu Vocabulário, quando ganham destaque na Imprensa certas palavras ou termos que a média da população não entende e não utiliza.

Suponho  que esse processo funciona mais ou menos assim:  um especialista qualquer, uma autoridade graduada ou  mesmo um comentarista  da mídia usa pela primeiras vez, repete, repete e a palavra ou expressão acaba “pegando” ou fica agendada.

Assim, empatia era protagonista na pandemia, resiliência nas enchentes e  no contencioso Brasil x EUA,  sanção e soberania se sobressaem. A Globo fala em chantagem dos americanos, enquanto o grupo Hammas sempre é taxado de terrorista.

Antes, tivemos uma profusão de golpismo e estado democrático de direito por causa do 8 de janeiro.  Já narrativa e fascista tem frequentado várias narrativas, assim como empoderamento, relevância e os modernosos subiu a régua e fora da curva. Ah, tem também os preferidos dos palestrantes: pensar fora da caixa e fora da bolha. Potente e robusto ganharam notoriedade para situações positivas, valorizando ainda mais a ocorrência, enquanto severo fica restrito às negativas; sendo muito usada atualmente para efeitos climáticos.

O frege de deputados na Câmara Federal virou motim, e adultização começou a aparecer mais por políticos que queriam aparecer – a repetição é proposital -  com projetos contra a exposição erótica de menores, após o célebre vídeo do Felca, que ganhou popularidade como se fosse uma palavra da moda.  Já no tocante, digamos, é um dos legados do bolsonarismo, enquanto bazófia é o que restará das discurseiras de Lula contra as indevidas ameaças do Trump.

Nada, porém, como um julgamento do STF, como o  da trama golpista,  para espraiar termos do juridiquês para uso corriqueiro.  É jurisprudência pra cá. persecução penal pra lá, passando pela volta da dosimetria, pelo devido processo legal, muitos embargos infringentes e declaratórios, sem contar os  “vossa excelência” pra cá  e os  “eminente” pra lá, em meio aos não tão iminentes desfechos dos votos. Pudera, com votos que mereceriam  citação no Guiness pela  duração, é evidente que o vocabulário deveria ser variado, até para compensar a aridez do tema e manter a plateia minimamente atenta.

Depois do massacre do juridiquês no STF, resultado do julgamento a parte, me bateu uma saudade infinita do palavreado simples, que usávamos e repetíamos pela sonoridade que nos agradava. Só falta me dizerem que não existe mais a Seleções, que foi descontinuada a edição brasileira em mais uma retaliação do Trump ao Lula e ao Xandão.

 

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