*Publicado nesta data em Coletiva.net
Veteranos como eu lembram
que as edições antigas da revista Seleções tinham uma secção intitulada
Enriqueça Seu Vocabulário. Uma palavra menos conhecida era acompanhada de três
possíveis significados e, ao final, se conhecia o sinônimo correto. No Brasil,
a cada crise, a cada magno acontecimento - e são frequentes - temos uma versão nacional do Enriqueça Seu Vocabulário, quando ganham
destaque na Imprensa certas palavras ou termos que a média da população não
entende e não utiliza.
Suponho que esse processo funciona mais ou menos
assim: um especialista qualquer, uma
autoridade graduada ou mesmo um
comentarista da mídia usa pela primeiras
vez, repete, repete e a palavra ou expressão acaba “pegando” ou fica agendada.
Assim, empatia era
protagonista na pandemia, resiliência nas enchentes e no contencioso Brasil x EUA, sanção e soberania se sobressaem.
A Globo fala em chantagem dos americanos, enquanto o grupo Hammas sempre
é taxado de terrorista.
Antes, tivemos uma
profusão de golpismo e estado democrático de direito por causa do
8 de janeiro. Já narrativa e fascista
tem frequentado várias narrativas, assim como empoderamento, relevância e
os modernosos subiu a régua e fora da curva. Ah, tem também
os preferidos dos palestrantes: pensar fora da caixa e fora da bolha.
Potente e robusto ganharam notoriedade para situações positivas,
valorizando ainda mais a ocorrência, enquanto severo fica restrito às negativas;
sendo muito usada atualmente para efeitos climáticos.
O frege de deputados na
Câmara Federal virou motim, e adultização começou a aparecer mais
por políticos que queriam aparecer – a repetição é proposital - com projetos contra a exposição erótica de
menores, após o célebre vídeo do Felca, que ganhou popularidade como se fosse
uma palavra da moda. Já no tocante,
digamos, é um dos legados do bolsonarismo, enquanto bazófia é o que
restará das discurseiras de Lula contra as indevidas ameaças do Trump.
Nada, porém, como um
julgamento do STF, como o da trama
golpista, para espraiar termos do juridiquês
para uso corriqueiro. É jurisprudência
pra cá. persecução penal pra lá, passando pela volta da dosimetria,
pelo devido processo legal, muitos embargos infringentes e
declaratórios, sem contar os “vossa
excelência” pra cá e os “eminente” pra lá, em meio aos não tão
iminentes desfechos dos votos. Pudera, com votos que mereceriam citação no Guiness pela duração, é evidente que o vocabulário deveria
ser variado, até para compensar a aridez do tema e manter a plateia minimamente
atenta.
Depois do massacre do
juridiquês no STF, resultado do julgamento a parte, me bateu uma saudade
infinita do palavreado simples, que usávamos e repetíamos pela sonoridade que
nos agradava. Só falta me dizerem que não existe mais a Seleções, que foi
descontinuada a edição brasileira em mais uma retaliação do Trump ao
Lula e ao Xandão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário