*Publicado nesta data em Coletiva.net
Primeiro para conhecer ou
mesmo por entretenimento, depois por
dever de ofício, já fui um assíduo frequentador do Acampamento Farroupilha, da
Expointer e do Carnaval no Porto Seco, entre outros acontecimentos do nosso
rico calendário. Agora, por rabugice ou
falta de paciência para muvucas, passo ao largo desses locais e dos eventos ali
realizados. Já enfrentei toda a sorte de
provações nas três manifestações que, reconheço, são caras para a média da
população.
No Acampamento
Farroupilha enterrei o pé no barro não foram uma nem duas vezes, nos setembros
chuvosos, que são todos e quando o Parque da Harmonia ainda não tinha recebido
melhorias nas suas vias internas. Na Expointer, o primeiro desafio é chegar lá,
depois conseguir lugar para estacionar e tentar se locomover pelo parque sem
esbarrar em outro visitante desgarrado. No Porto Seco, depois do desfile da
terceira escola, lá pela madruga, ainda têm mais três ou quatro pela frente. Haja
ânimo carnavalesco.
A cobertura jornalística
desses eventos, pelo que constatei e ouvi depoimentos, provoca dois tipos de
reação nos envolvidos. Nas primeiras escalas, tudo é festa, depois vira um fardo
pesado. É bem verdade que tem quem goste dessas indiadas, com o perdão dos
povos originários pela citação. Conheço gente que entra em férias, muda-se literalmente para o Acampamento
Farroupilha e se orgulha de estar cultivando as tradições gaúchas ao custo de
dormir mal, pouco banho e comer carreteiro quase todos os dias.
Todo esse enrolation para
dizer que, certamente, não tem ninguém que goste mais dos eventos do nosso
calendário de festas do que os departamentos comerciais das emissoras de rádio
e tv. A programação delas está recheadas das chamadas “coberturas especiais” e
equipes inteiras são deslocadas para onde ocorrem os eventos, prontas para louvações
às festividades e a seus organizadores. O roteiro é sempre o mesmo: entrevistas
com autoridades, a corte escolhida e personalidades da terra, às vezes com os
assistentes e sempre tem um visitante que veio de longe só para prestigiar a festa;
não faltam apresentações musicais com artistas locais e logo aparecem os pratos
típicos e as receitas das senhoras que preparam as iguarias. Confesso que fico
com inveja do pessoal que lá está e é submetido ao sacrifício de degustar as
comidinhas oferecidas.
Não me tomem por um
inflexível corregedor da mídia, pois reconheço que os veículos precisam buscar a sustentabilidade financeira, que garantirá
os empregos dos profissionais e os investimentos necessários. Também não sou contra as festas pelo interior,
que promovem as cidades e o turismo interno, movimentam as economias locais e
até tem lá seus atrativos. O que incomoda
são os excessos e a transformação de jornalistas em garotos-propagandas de
empresas, serviços e produtos, como está ocorrendo em todos os veículos, dos
pequenos aos líderes de mercado.
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