*Publicado nesta data em Coletiva.net
Já não se fazem mais
campanhas e coberturas eleitorais como antigamente. Sim, sou um saudosista dos
dois processos em tempos pretéritos e nem faz tanto tempo assim. Já participei
de várias campanhas eleitorais, como profissional ou voluntário, e inúmeras
coberturas, especialmente quando atuava em rádio. Neste caso, a primeira foi em
1978, pela Rádio Guaíba, que montou uma grande estrutura e mobilizou uma enorme
equipe sob o comando de Antonio Brito, que anos mais tarde se elegeria
governador do Estado. A principal disputa foi para o Senado entre Pedro Simon (MDB) x Mário Ramos,
Mariano da Rocha e Gay da Fonseca (Arena). Simon superou os três. Ainda
vigorava o regime militar, e os governadores eram escolhidos indiretamente.
Foram muitas eleições e
coberturas desde então. O pessoal do esporte sempre era chamado a integrar e
reforçar a equipe envolvida nas transmissões que varavam os dias e as noites
para registrar os votos, urna a urna em todo o Estado. E lá estava eu, lépido e
faceiro, normalmente coordenando a
cobertura do interior. A movimentação
durava de cinco dias até uma semana, à espera de fechar a última urna, pois as
emissoras promoviam a contagem paralela dos votos, concorrendo com a Justiça
Eleitoral e sempre anunciavam os vencedores com antecedência. E sempre, também,
se vangloriavam de que a margem de erro em relação aos números oficiais era
ínfima, o que, de alguma forma, era a gratificação pelo investimento na contratação
de dezenas de pessoas para receberem as informações – por telefone – das zonas
eleitorais. A concorrências entre as emissoras, Gaúcha Guaíba principalmente, era tão ou mais acirrada que os enfrentamentos
eleitorais da época.
A disputa pelo anúncio do
primeiro voto era feroz e lembro que nas eleições de 1982 o saudoso Edison Moiano, da Guaíba,
que acompanhava em Canoas a abertura de uma das primeiras urnas,
transmitiu do ginásio onde ocorria a apuração: “Atenção,
saiu o primeiro voto no Estado. É para Alceu Collares!” . Foi uma vibração incontida na Central de
Eleições da então Caldas Junior e aquela “vitória” diante da concorrência
serviu de emulação para toda a cobertura. Indagado mais tarde como
conseguira o furo, o esperto Moiano teria confessado que viu de relance o voto
que seria de Collares caindo da urna para a contagem e decidiu antecipar o tal
primeiro voto. “E, afinal, um voto para Collares teria que ter
naquela urna”, justificou.
Volto bem mais no tempo
para lembrar que minha iniciação política começou muito cedo, lá pelos 10 anos,
quando meu pai instalava perto de casa, no bairro Petrópolis, uma banquinha
para distribuirmos material de meu tio que disputava uma cadeira na Câmara
Federal - foi um dos mais votados e mais tarde elegeu-se senador e depois
virou biônico. Éramos muito politizados
a escadinha de oito irmãos, tanto assim que na disputa pelo governo do Estado , em
1958, meu irmão Telmo instalou em casa um comitê para o Brizola e
minha irmã Silvia um para o Peracchi, com farto material de campanha que
buscavam nos comitês de verdade. Os dois não tinham mais de 15 anos!
Consta que, na época, eu
teria me atritado e até chegado as vias de fato com um primo querido, que apareceu
lá em casa em uma Kombi totalmente adesivada com material de um candidato que
não era o de preferência da minha família. Não lembro do episódio e, como
sempre fui um devoto juramentado da paz e da harmonia, afirmo que a tal briga
não ocorreu.
Fake news a parte, hoje,
graças a votação eletrônica, poucas horas após o fechamento das urnas já se
sabe o resultado da eleição. As raras emoções das jornadas eleitorais ficam por
conta dos casos em que a decisão passa para o segundo turno ou de situações
peculiares, como o candidato que venceu por um voto no município de Gentil, a disputa
entre dois irmãos em Capão da Canoa ou
em que cidade o eleito conquistou o maior índice. Sim, sou um saudosista das campanhas e
coberturas eleitorais de antigamente.
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