*Publicado em coletiva.net em 22/07/2024
Se tivéssemos no Brasil o hábito de escolher a palavra
do ano, por certo haveria uma disputa forte em 2024 entre resiliência e narrativa? Resiliência leva
uma pequena vantagem, especialmente aqui no Estado, por conta da tragédia
climática, que banalizou o termo em entrevistas, reportagens e segue firme
sendo citada nos comerciais em todas as mídias.
O mais interessante é que a palavra passou a ser
sinônimo de resistência, embora, mesmo parecidas, signifiquem situações um
tanto diferentes. Para dar contexto e exemplificar, uma pessoa resistente
enfrenta bem as situações adversas, aguenta os desafios e a pressão. Já a
pessoa resiliente também supera os problemas, mas sempre
aprende algo a mais com as dificuldades enfrentadas e passa por elas com leveza
e sabedoria. A resiliência, portanto, é uma resistência turbinada
ou, ainda, a resistência em modo de boa.
Estudiosos da matéria identificam três tipos
principais de resiliências: a emocional, que tem a ver com a saúde
mental; a acadêmica, que diz respeito às questões do aprendizado e a
social, sobre a capacidade de manter relacionamentos positivos. Entretanto,
outro dia ouvi um importante ministro da República garantir que as pilastras de
uma nova ponte a ser construída no interior do RS seriam "muito mais
resilientes". Desse modo tranquilizou os usuários da travessia e acabou
criando a "resiliência estrutural". Por essa e por outras é que resiliência segue
na frente para a seleção da palavra do ano.
Narrativa,
porém, deve recuperar terreno logo que as campanhas eleitorais
esquentarem. O termo vai aparecer com frequência nos debates em rádio e TV.
Será mais citado que "estado democrático de direito" e
"fascista". Diferente da confusão que se faz com resiliência e
resistência, narrativa veio a substituir um quase sinônimo, a
versão. Além disso, narrativa ganhou uma certa conotação
pejorativa. Rimou e é verdade, pois é usada para desqualificar alguma
denúncia ou versão que depõe contra alguém. A defesa do denunciado vai alegar
que a narrativa do denunciante não corresponde à
verdade. É só narrativa, portanto, ou um roteiro marcado por
interesses questionáveis.
Outro vocábulo que despontou bem, mas perdeu força com
a volta à normalidade foi o gratidão, acompanhado na sua versão
gráfica por aquele emoji das mãozinhas juntas.
E assim narrativa e resiliência
seguem firmes na disputa, embora precisem tomar cuidado com outra
palavra, de apenas três letras, que está conquistando todos os espaços
esportivos e aparece com insistência nas mídias externas: KTO!
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