* Publicado nesta data em coletiva.net.
Uma das políticas públicas
da prefeitura de Santa Clara do Sul visa a promover ações que gerem felicidade
no pequeno município de cerca de 6.700 habitantes no Vale do Taquari-RS. O
objetivo do programa Santa Clara Mais Feliz é ampliar a sensação de bem estar
da comunidade, com caminhadas contemplativas, ioga, rodas de conversas e
piqueniques no parque. Corta para o reino do Butão, nome estranho para um país
encravado nos Himalaias, que preza a felicidade dos seus 700 mil habitantes,
tanto assim que criou uma inovadora política de Felicidade Interna Bruta.
A iniciativa foi apoiada
pela ONU, se espalha por vários países e já chegou ao Brasil, onde tramita no
Congresso uma proposta de emenda constitucional para incluir a “busca da
felicidade” na redação do artigo 6º da Constituição, referente aos direitos
sociais dos brasileiros, sem levar em conta que felicidade não se impõe por
decreto.
Assim o Brasil, novamente,
tenta implantar as boas práticas com legislação e não com ações concretas que
venham a melhorar a qualidade de vida da população e, com isso, melhorar nosso
Indice de Valores Humanos adotado pela ONU. O índice registra a satisfação dos
cidadãos nas áreas de saúde, educação e trabalho e a percepção deles sobre
situações vivenciadas no cotidiano.
Na interiorana Santa
Clara do Sul e no exótico Butão felicidade se expressa por convivência, compartilhamento
e cultuar valores, indo ao encontro, de alguma forma, ao que já ensinava Aristóteles
na Grécia Antiga. Para o filósofo, tal sentimento é o bem supremo que a
humanidade persegue e deseja. Já para o
filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) a felicidade é mera utopia, ou a
satisfação contínua dos nossos desejos. Avançando um pouco mais no tempo,
Thomas Jefferson ao escrever a Declaração de Independência dos Estados Unidos,
em 1776, incluiu entre os “direitos inalienáveis” dos homens a “busca da
felicidade”, junto com a “a vida” e a “liberdade”. Quase dois séculos e meio
depois, a ideia da felicidade como um direito já chegou ao Judiciário
brasileiro e tem embasado decisões dos ministros dos tribunais superiores.
A troco de quê um jaguané
inculto nos estudos filosóficos e jurídicos como eu, envereda para um tema
sensível, permeado de nuances, como a Felicidade, copiando espertamente o tio
Google?
É que a Felicidade está
on. É o imperativo da Felicidade, que virou
moda e modismo, temas de cursos, seminários, work shops, que fazem mesmo é a
felicidade e o faturamento de quem os promove. Tem até evento de nome pomposo,
como o Fórum da Felicidade, com recente edição em Porto Alegre, prenhe de
figurinhas carimbadas chegadas à autoajuda.
Certamente não vão faltar
por aí os coachs de felicidade. Virou
quase obsessão reivindicar uma vivência plena de felicidade, talvez para se
contrapor às incertezas e conflitos destes tempos pós-modernos. Parece que essa obsessão ganhou uma nova
dimensão pós-pandemia de Covid, que trouxe com o vírus a sensação próxima de
finitude aos humanos. Então, é preciso celebrar a vida, aproveitar ao extremo
cada momento e superar a atual “pandemia de infelicidade”, termo criado pela
psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa. Segundo ela, muitas pessoas não
sabem o que é ser feliz e estão lutando para encontrar um sentido na vida.
Óbvio, não?!
Só não pode ser uma
felicidade tratada com amargura, nem desconsolo pelos amores perdidos, como
canta Vinicius de Moraes em “tristeza não tem fim, felicidade sim”, ou o nosso Lupicínio
em “felicidade foi se embora e a saudade no meu peito ainda mora”. Também não
pode ser sinônimo ou decorrência de riqueza, se bem que “o dinheiro não dá
felicidade, mas paga tudo o que ela gasta”, de acordo com o impagável Millôr
Fernandes.
Felicidade rima com
simplicidade, que leva à longevidade, apontam os especialistas. São apenas momentos,
porque felicidade plena e permanente só no paraíso, mas infelizmente não temos
certeza de que ele existe.
Felicidade para mim,
neste momento, seria encontrar um desfecho mais feliz para a pretenciosa e infeliz
ideia de fazer um texto sobre felicidade.
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