*Publicado nesta data em coletiva.net
Fico intrigado com
algumas expressões usadas com frequência, cuja origem pouco se sabe. É o caso
de “ está com a mão no trinco” e sua sequência “saiu do armário” para indicar
que alguém está assumindo publicamente seu lado gay. Mas por que sair do armário? O que o
utilitário móvel tem a ver com isso? Até então, no anedotário erótico, o
armário era o esconderijo preferido do amante quando o marido da parceira
chegava em casa de surpresa e não era possível
pular a janela porque a alcova ficava num andar muito alto. Pelo jeito o
armário passou a ter mil e uma utilidades, além de servir para deposito de
roupas ou de utilidades domésticas. O armário foi promovido.
Vale o mesmo para aqueles
ditados populares, que, na origem, tinham uma formulação. Depois, com o uso, passaram
a ser expressos de forma errada. Assim como
quem conta um conto, aumenta um ponto, quem repete um ditado, adita um
outro ditado, que passa a ser o verdadeiro ditado editado. Jogo de palavras a
parte, vamos aos exemplos.
“São ossos do ofício”
seria, na forma correta original, “são ócios do ofício” para explicar que o trabalho duro pode trazer
benefícios. Já “cuspido e escarrado”, na verdade, seria “esculpido em Carrara”,
cidade conhecida pela extração de mármore, que garantiria cópias bem fiéis das
esculturas, daí a analogia. “Quem não tem cão caça como gato”, de forma
solitária como os felinos, e não na versão modificada, que, pela ausência de um
“o”, ficou assim: “quem não tem cão, caça com gato”. Para “cor de burro quando foge” que, realmente,
não faz sentido, o correto é a cautelosa “corro de burro quando foge”. E a que
as nossas mães e avós usavam para justificar um contumaz irrequieto “este menino parece que tem bicho carpinteiro
no corpo” fica apropriada quando a advertência é “este menino parece que tem bicho
no corpo inteiro”.
Tem mais, mas vamos ficar
por aqui. Acho que misturei alhos com
bugalhos. Vale informar que bugalhos são
excrecências de forma arredondada que se formam em algumas espécies de árvores,
como os carvalhos. Agora já estou excedendo
na cultura inútil, que nada muda em nossas vidas. Para não ficar devendo o
significado de “sair do armário” e a relação com a causa LGTBQIA+ a explicação
é simples e vem da expressão americana “come out of the closet”. Lá como aqui, sair do armário
seria um ato de libertação.
(Os fiéis leitores, se é
que os tenho, devem estar pensando que o colunista está com falta de assuntos e
acho que eles têm razão).
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