* Publicada nesta data no Coletiva,net.
Semana passada neste
nobre espaço proporcionado pela
Coletiva.net indaguei de que forma determinadas ações viralizavam
nas redes. Usei como exemplo a #10yearchallenge. A questão permanece sendo um mistério para
mim.
Sucede, porém, que num momento de ociosidade, que,
como se sabe, é a mãe de todas as
bobagens, fiz uma provocação no Facebook, apelando para o saudosismo: “Sou do
tempo...em que protetor solar era conhecido por bronzeador!”.
Gente, a resposta foi
imediata e gerou uma avalanche de
comentários, acrescentando outras lembranças, todas elas positivas para quem postava, acredito eu. Dei
repique com mais postagens de minhas
recordações, na mesma linha (“Sou do
tempo em que tela grande era
Cinemascope”, “... que churrasco era temperado com salmoura”, “...que Biotônico
Fontoura era distribuído nos colégios,
junto com o Almanaque”), e aí virou uma brincadeira saudável e de saudades.
Como minha índole provocativa
é mais
forte que minha veia harmoniosa, fiz duas provocações que renderam. Numa
delas insinuei que “era do tempo em que o Fernando Albrecht era estagiário” e o
consagrado colunista da página 3 do
Jornal do Comércio aderiu à brincadeira, que rendeu 38 comentários e
95 likes. O José Luis Previdi, intriguento como ele só, colocou lenha
na fogueira, perguntando “quem era o coroinha do Padre Chagas”, se o
Albrecht ou eu? Os bandalhos da rede
adoraram.
Aí resolvi apelar e
postei que “era do tempo em que a Globo apoiava os presidentes da República”,
que mexeu com o pessoal apreciador e
incentivador de polêmicas na rede.
Falar mal da Globo sempre dá Ibope, à
direita, à esquerda e ao centro.
Mas o que gerou mais participações
foi a postagem “sou do tempo das balas
Embaré e do drops Dulcora”. O
pessoal se puxou e trouxe para o presente
suas doces lembranças, da bala Azedinha à gasosa, da quebra-queixo às
balas do Brocoió, do Torrão Gaúcho, o bastão de leite e o pirulito chupeta às
balas Mocinho e o chiclete Ploc. Não faltaram derivações para a Grapette e seu inesquecível slogam “quem bebe Grapette
repete”, tanto assim que é repetido
até hoje, e desencavaram até a
Cirilinha, um refrigerante produzido em Santa Maria.
No total, foram mais de
mil participações nas diversas postagens.
Diante do que considero
um fenômeno, minha tese é de que o presente está tão chato e o futuro tão incerto que as pessoas preferem
resgatar o passado, onde teriam sido mais felizes, sem as agruras de agora e a
preocupação com o amanhã. E ocorre assim apesar de todas as
inovações e comodidades do mundo moderno que, em princípio, deveriam
proporcionar mais qualidade de vida e
mais felicidade a todos nós, mas que cobram um alto preço em estresse e
desencanto pelo que deixam de entregar. É um paradoxo.
Também é verdade que, nas
antigas, era limitada a oferta de produtos, daí que ficava mais fácil
fixar e guardar na lembrança as poucas marcas que disputavam o
mercado, diferente de hoje, quando somos bombardeados por inúmeros e
variados apelos consumistas.
Vou consultar as
psicólogas da família - são cinco! - em busca
de respostas mais conclusivas para a questão proposta. Ou então apelarei
para o pensamento de Zygmunt
Bauman, segundo o qual vivemos tempos líquidos, tudo é efêmero e a vida se transformou numa experiência rápida e sem profundidade, como
expressou, com talentosa clareza, nas suas obras Vida Liquida, Amor Liquido
e Modernidade Liquida.
Autoindulgente que sou,
peço sinceras desculpas – está na moda pedir desculpas - por misturar Facebook, balas Embaré,
Biotômico Fontoura e outras prosaicas lembranças com o avançado pensamento do Bauman. Mas é que temos para o momento e a forma que encontrei
para marcar o Dia da Saudade, que se
comemora em 30 de janeiro. Sim, existe o Dia da Saudade, faz parte do
calendário oficial de datas do Brasil, mas poucas pessoas sabem ou lembram
disso e a celebração quase ficou na
saudade.
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