* Publicada nesta data, no portal Coletiva.net
Recordo que admiti em
coluna anterior que sou um telespectador assíduo do horário eleitoral, de
preferência o noturno. Maledicentes dirão que , na verdade, só acompanho porque estou esperando o
capítulo da novela. Nada disso. Meu
interesse é focado em avaliar como os candidatos estão respondendo aos temas
que marcam a atual campanha.
Já transitei por todos os
lados dos balcões em campanhas eleitorais e me interesso particularmente
pelas formas e conteúdos desses períodos. A conclusão a que cheguei em relação ao processo deste
ano, nas
aparições dos candidatos
proporcionais, não me
surpreendeu: trata-se de um festival de mesmices. Para não ferir a severidade
da legislação, não vou, nominá-los.
Começo, porém, com a observação
sobre um candidato a cargo majoritário.
O sujeito, digno representante de um
partido nanico de extrema, propõe
no seu espaço a extinção do Senado, para o qual se candidata. É bem verdade que
pelos dados das pesquisas
eleitorais ele não tem a mínima chance
de chegar lá.
Por mais estranha e
contraditória que pareça a proposta, nem isso é novidade. Um dos nossos atuais senadores defendia com
veemência no passado o fim do sistema bicameral, até se eleger e reeleger para
a Câmara Alta, uma comprovação de que a
coerência não é e não tem sido a marca dos candidatos em campanha.
Mas é nos espaços dos
postulantes à Assembleia e à Câmara que ocorrem as mais criativas manifestações. Só que não. Em duas
ou três rodadas da propaganda política
obrigatória, de todos os partidos, contei quase uma dezena do impositivo “Vem
comigo”, outro tanto do suplicante “Preciso de teu voto” e, igualmente, dos
pretensiosos “Serei teu representante na...” ou “Juntos faremos a diferença” e
do duvidoso “Sou ficha limpa”, que vem superando o tradicionalíssimo “É hora da
mudança” e suas versões.
Pela “saúde, educação e
segurança”, não necessariamente nesta ordem,
é top10 entre as propostas defendidas, só que os que dizem que vão lutar
contra a criminalidade, a maioria com
formação policial ou militar, inflacionaram as nominatas de candidatos. Estão dando de goleada nos
defensores dos direitos animais, que
vinham ganhando espaço e elegendo representantes.
Observo, por outro lado o
surgimento de uma nova categoria de candidatos: o candidato com naming rights e não estou falando daquela bobagem de agregar Lula
ao nome, mas de uma espécie de
patrocínio ou vinculação empresarial/funcional. Juro que ouvi uma fulana se
anunciar como “a da Severo Roth”, outra a “do
Trem”, dois outros como o “da
locadora” e o ”da borracharia” , sem contar com aquele que se apresenta como o
do “ (primeiro nome do candidato) do (sobrenome do prefeito...)”. O “dono” do
candidato é um prefeito da Região Metropolitana.
E tem ainda os que abusam
das pobres rimas ricas, coisas do tipo “sim” com Jardim, “caminho” com Toninho,
“depois” com 22, “engane” com Rejane e
por aí
vai. Essas possibilidades de rimas é que me tiram qualquer pretensão, se
um dia tive, de me candidatar a cargos
públicos. A rima com Dutra
poderia resultar em...deixa pra lá.
Sei que não dá para fazer milagres em cinco segundos, mas
ficar repetindo os mesmos bordões de sempre não vai ajudar às candidaturas, que
precisam de diferenciais diante da
enorme quantidade de concorrentes. A questão é:
com mais tempo quantas bobagens
mais diriam nossos candidatos? Pensando bem, a lei eleitoral foi sábia neste sentido.
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