*Publicado no Coletiva.net em 10/09/2018
Conheci o CEO de uma
importante empresa que mantinha um relacionamento em paralelo com a vistosa assistente
dele. Ao ser questionado sobre as implicações do caso, aliás, de conhecimento geral,
saiu-se com essa justificativa:
- Ela transa é com a instituição , - dando a
entender que a moça oferecia seus
favores sexuais mais à pessoa
jurídica que ele representava do que à
pessoa física. Era uma alpinista social, se bem que
a pejotização sexual já não é mais novidade nos ambientes corporativos.
Desde então o bilao
(também apelo para os apelidos, de vez
em quando) do referido CEO ficou
conhecido como “ a instituição”. O código logo passou a ser compartilhado por
outros diretores, também bandalhos, da
instituição, digo, da empresa, nos seus relacionamentos extraconjugais.
É bem brasileira essa mania de usar eufemismos e
epelidos ou mesmo expressões tidas como sofisticadas para tudo e para todos. Gourmetizaram a linguagem muito
além do natural dinamismo da língua. Isso ocorre sobretudo na imprensa
esportiva. Cada vez mais observo o uso de termos que no meu tempo de aplicado repórter setorista soariam como pedantes. As entrevistas do
técnico Tite na Copa eram recheadas dessa gourmetização e até hoje estou
tentando descobrir, por exemplo, o que
é, do que se alimenta e onde habita o tal “externo”. Acredito que seja o antigo ponta, mas vá saber!
A reportalhada acaba
adotando os termos e de tanto repetirem,
eles, os termos, se incorporam ao linguajar do dia a dia. Um
exemplo clássico é o tal “desconforto muscular”, que ouço num programa
esportivo sim, noutro também. Não
resisto novamente a cotejar com a forma
que usávamos no passado, quando existiam duas gradações de lesões musculares,
dependendo da quantidade de fibras rompidas: a distensão, que era um problema
sério e sua versão menos grave, o estiramento. Todo o resto era contusão.
E as novas funções nas
comissões técnicas, que fazem a alegria dos
cronistas mais eruditos? Eles adoram falar na importância dos
fisiologistas ou dos analistas de desempenho, símbolos da modernidade do
futebol. Bandeirinha virou “assistente” e aqueles auxiliares que ficam atrás do gol atendem pelo pomposo título de “adicionais”,
embora para estes eu prefira a definição do
Pedro Ernesto Denardin, que batizou os sujeitos de samambaia – apenas
enfeitam o ambiente. Já o antigo
marrecão agora é gandula e os aspirantes
do passado se transformaram no “time
alternativo”. Gourmetizaram as funções
no futebol! Suspeito, mas não tenho certeza, de que seja mais um efeito do
politicamente correto.
Pode parecer
conservadorismo, mas ainda prefiro simplicidade nas terminologias, nas
definições e nas explicações, para que
sejam mais substantivas e menos adjetivadas. Isso me remete a resposta
de um conceituado escritor ao cronista estreante, sedento de elogios e
falsamente modesto, que pediu uma “critica severa” sobre seus textos.
- Um influente líder
politico brasileiro, de minhas relações, considerava sem sentido quando alguma
autoridade anunciava que ia instaurar “um rigoroso” inquérito. Para ele o
inquérito devia ser apenas um inquérito,
isento e sério. O rigor não caberia.
E completou, direto ao
ponto, num exemplo de como uma única
palavra muda tudo:
- Posso te assegurar que
vou seguir a linha dele e fazer uma crítica sincera, pois severo não combina
muito comigo...
Pois é, severo e sincero
rimam, mas não combinam. Até concordo em latitude e longitude com a assertiva, mas conhecendo a natureza
humana e a qualidade dos textos em análise, acredito que o tal cronista preferiria a forma do elogio fácil. Afinal, um pouco de cinismo nunca fez mal a
ninguém.
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