Hoje qualquer um vira fotógrafo, inclusive em
atividades profissionais e não apenas nas selfies do cotidiano. Basta um celular mais ou menos equipado e
clic: está feito o registro para a
posteridade. Claro que o que distingue
o amador do profissional não é o equipamento e sim o olhar de quem busca o instantâneo. Mas ai
já é outra conversa.
O que eu queria mesmo tratar é da abissal diferença entre o acervo de fotos de
hoje, com a incrível facilidade para obtê-las e, pelo menos no meu caso, e os escassos
registros fotográficos do passado, um passado não muito distante, coisa de 30,
40, 50 anos atrás.
Tenho enormes dificuldades
para encontrar fotos minhas da infância.
A mais distante no tempo é aquela em que, com pouco mais de
1 ano, apareço com minha irmã
Rosa, a seguinte em relação a mim na escadinha de oito irmãos.
Parecemos duas menininhas por
causa do meu cabelo comprido (seria uma promessa, o que até hoje é um mistério pra
mim), o que foi motivo de muito bullyng familiar e me traumatizou durante anos
como figurante de fotos.
O trauma foi alimentado por outras duas fotos. Uma foi
aquela tradicional dos tempos escolares, com o quadro negro ao fundo e o globo na mesa
onde o aluno ficava. Na foto fatídica, no primeiro ano do colégio Santa Inês, no bairro Petrópolis apareço todo pimpão com uma boneca na mesa,
adereço para as fotos das meninas, e não o porquinho dos meninos. A freira esqueceu
a boneca na mesa, justo na minha foto. Vocês
podem imaginar o que sofri na família por causa daquela boneca invasora. Acho que
foi naquele episódio que começou o meu ateísmo, reforçado por outro fato
ocorrido em ambiente religioso. Por
motivo que desconheço, fui o único garoto dos que faziam a primeira comunhão na
Igreja São Sebastião (também no bairro Petrópolis) que não tinha registro
fotográfico do momento. Mas dona Thelia, minha despachada mãe, não se conformou
com a omissão e no domingo seguinte contratou um profissional para uma foto exclusiva
de seu filhinho no batistério, enfatiotado
como convinha e segurando a vela da primeira comunhão.
Mais tarde.
herdei parte do álbum de fotografia que o meu pai, o mítico coronel Dastro, cuidava
e abastecia diligentemente. O detalhe é que o velho legendava as fotos, talvez para recordar seu tempo de revisor do Diário
de Notícias que desempenhava para reforçar os parcos ganhos de brigadiano. Era a
forma de expressar seu orgulho
pela ninhada de filhos ou para conectar
com a realidade da época, como aquela tradicional
foto colorida artificialmente, em que aparecem os filhos mais jovens,
devidamente legendados: “Cinco sorrisos francos. Eles não tem contas a pagar”.
Que saudades dos tempos em que as fotos eram tão raras
e tão preciosas! Que saudade das legendas do meu pai!
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