Cada vez que um órgão público é cobrado porque falhou
no cumprimento da sua missão, ou é provocado a
dar explicações sobre o inexplicável, juro que me compadeço dos
assessores de imprensa dessas instituições. Imagino os coitados
se debatendo, aflitos e desamparados, buscando formas para enfrentar a crise
do momento. Fico penalizado até mesmo
com a assessoria do Instituto Lula, a emitir
notas oficiais quase diariamente para contrapor às denuncias, tantas e tão frequentes, contra o ex-presidente. O Jornal Nacional chegou a criar uma vinheta
gráfica para demarcar as versões dos acusados e, assim, justificar que ouviu ou
tentou ouvir todos os lados, uma prática
ainda válida para o jornalismo.
Agora mesmo acompanho a tentativa do Detran do Rio de Janeiro de
explicar porque o sujeito que atropelou
os caminhantes do calçadão de Ipanema, mesmo com mais de 60 pontos em multas, abriu processo para ter uma nova carteira de motorista. Vão explicar,
explicar e não vai adiantar nada. Mesmo
que tivessem uma explicação convincente - e não é
o caso – a versão que vai ficar é de um órgão burocrático, ineficiente e
sem controle sobre os processos de sua responsabilidade.
Na raiz da minha solidariedade à aguerrida tribo dos
assessores de imprensa de órgãos públicas está o fato de que já frequentei esse lado do balcão. Na Prefeitura de Porto Alegre, no governo do Estado e na
Assembleia Legislativa tive experiências enriquecedoras, a maioria, mas
traumáticas muitas vezes. No âmbito
municipal, prestador de serviços
por natureza, um bico de luz apagado na frente
da sua casa pode virar crise, o que dirá
dos buracos nas ruas, da água que falta, da capina atrasada e das obras paradas. No governo
do Estado e na Assembleia a cobrança é direcionada mais para as questões políticas, terreno
igualmente minado. Os governantes
e os parlamentares são, permanentemente, grandes vidraças.
Confesso
que fico aliviado quando não estou
envolvido com os rolos que aparecem na mídia
dia sim, outro também. Pode ser um sentimento menor, mas é assim que funciona. Até tentei,
tempos atrás, contribuir com a
categoria, ao produzir um TCC no final do MBA em Jornalismo Empresarial,
na então Esade, que intitulei pretensiosamente de Vida real em assessoria de imprensa de gestão pública: pragmatismo em dez mandamentos.
Pra resumir,
diria que me agradam especialmente dois
mandamentos. Um deles é o sexto, mas deveria
ser o primeiro: "Tenhas
consciência de que se o governo é bem avaliado, o mérito é do governante; caso
contrário, a culpa é da comunicação". Esse mandamento foi inspirado numa frase
parecida, que ouvi de Ibsen Pinheiro, a quem tive a honra de substituir na
Comunicação do Palácio Piratini, no governo Rigotto. O outro é o quarto
mandamento: "Estejas sempre alerta porque alguém, em algum lugar, está
provocando problemas sobre os quais você terá que responder", dando conta de que serviço público tem
costas largas e responde por suas mazelas e, muitas vezes, por outras que lhe dizem respeito apenas secundariamente.
Mas a cobrança vem igual e é preciso estar
atento e forte.
Para
que este textão não vire um novo TCC, encerro como conclui o trabalho acadêmico:
caberia incluir o 11º mandamento, talvez
o mais importante - "No serviço público, de tédio não se morre".
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