Placa em Portugal e a travessa em Porto Alegre
O jornalista Antônio Goulart, como interino do meu primo Kadão
Chaves na bem frequentada página Almanaque Gaúcho, da Zero Hora, começou uma
série de matérias resgatando ruas de nomes curiosos em Porto Alegre. Vale a
pena a leitura e também a colaboração dos leitores de todas as cidades,
conforme convocação do próprio editor. Pois bem, me antecipei a esse
chamamento e reeditei uma crônica de março de 2003 sobre uma das artérias de
nome mais curioso – e que se presta a interpretações dúbias – da Capital dos
gaúchos. Aí está:
O saudoso Carlos Urbim, em uma de suas viagens à Europa, postou no Face a foto da placa de uma rua de
Lisboa, que segundo o talentoso escritor, dá medo de passar. Pudera, o
logradouro lisboeta chama-se Rua do Capado.
São coisas assim que atiçam a minha imaginação. Quem seria o pobre
sujeito que teve extirpado seu órgão? O que teria feito para merecer esse
infortúnio? Deve ter sido algo de magnitude para ganhar uma rua só pra ele. É o
tipo da homenagem da qual eu abriria mão, primeiro pelo motivo que deu causa ao
tributo – o único órgão que admito perder e já perdi é o apêndice; e depois,
como bem disse o nosso Quintana, “um engano em bronze é um engano eterno” – no
caso do Capado, um engano em azulejo português, menos mal.
A postagem do Urbim remeteu-me quase de imediato para
o nome de um espaço público em Porto Alegre que sempre me intrigou e
não poucas vezes foi motivo de piadas de baixa extração. Trata-se da Travessa
Mário Cinco Paus! Fica no centro, entre a chamada Prefeitura Nova e um prédio
do INSS, ligando o final da avenida Borges de Medeiros ao terminal de ônibus da
rua Uruguai. Em tempos idos, já foi um beco, mas recebeu um trato,
foi ajardinado e hoje é local de grande circulação.
Isso posto, eis a pergunta que não quer calar: quem foi Mário
Cinco Paus, o homem que sempre invejei desde a adolescência, quando só pensava
naquilo? Teria mesmo o nosso Mário cinco órgãos genitais? Como
funcionariam: em paralelo, se completando, como pistões de um carro, uns
subindo outros descendo? Era um homem realizado e de bem com a vida com seu
instrumental diferenciado? E as parceiras do bom Mário como reagiam diante de
cinco espetáculos do crescimento? E as pobres filhas do Mário, com esse
sobrenome invulgar, como devem ter sofrido com
brincadeiras de mau gosto, o antigo nome do bulling, nas escolas e outros
locais que frequentavam?
Essas indagações, pertinentes e profundas acerca de um personagem
da cidade, me acompanharam até os dias de hoje, quando resolvi pesquisar para
saber quem foi Mário Cinco Paus. Aí todas as bobagens que imaginei
caíram por terra. O Mário Cinco Paus nada mais era do que um rábula, advogado
não formado, que viveu na cidade no século passado. Ficou famoso pelos júris
que defendeu e era apreciado pela classe jurídica de Porto Alegre. A alcunha
que acompanha o sóbrio nome de Mário seria derivada de sua
maestria no popular jogo do pausinho, que reunia intelectuais,
frequentadores da Livraria do Globo e jovens advogados em animadas
rodadas no Chalé da Praça XV. O dr.Mário costumava limpar seus oponentes no
jogo do palitinhos. No primeiro governo do prefeito Loureiro da Silva (1937 a
43) esta figura quase folclórica foi homenageada com o pequeno trecho de pouco
mais de 30 metros.
A placa de identificação do trecho revela que foi um filantropo,
talvez por falta de outros predicados para ser em destacados, além de algo como
O Rei do Pausinho ou O Mestre do Palitinho. Convenhamos, não ficaria bem.
E lá se foi minha inveja e meu complexo de inferioridade.
Março/ 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário