Resgatei de novo esse conto despretensioso de 2010 na esperança de que alguém ajude a encontrar um final adequado para a história. Quem se habilita?
Ele sempre sonhara em ter nos braços e depois na cama as
mais belas mulheres. Nas caminhadas pela cidade, já fazia uma seleção das que
lhe interessavam e buscava a diversidade na quantidade. Altas, baixas, magras,
mais cheinhas, loiras, morenas, mulheres com cabelos chapinhados ou crespos,
ninfetas e trintonas. Na dúvida se escalaria para seu elenco fictício,
dava preferência para as de bumbum bem torneados. Cada uma das selecionadas
merecia um enredo e aí a imaginação corria solta. Com a loira de jeans apertado
e cintura baixa, sonhou com uma transa naquelas praias paradisíacas do Caribe.
Com a morena de lábios carnudos, imaginou mil situações à beira de uma piscina
e depois o clímax dentro da água. A baixinha seria personagem de grandes contorcionismos
no banco de trás do carro. A mais gordinha teria o privilégio de um pernoite no
motel, onde ele poderia percorrer com calma toda a geografia daquele corpo mais
avantajado. Para a moça com carinha virginal, reservava os jogos eróticos menos
convencionais e para aquela outra, com jeito de safadinha, se entregaria sem
pudores, deixando que ela comandasse a brincadeira.
Estava virando obsessão e eram recorrentes os sonhos de
conquistas que, na real, jamais aconteceram. Ele achava mesmo que tinha pouco a
oferecer: não era bonito, para atlético não servia e ainda penava com o salário
magro que o impediria de fazer uma presença às deusas escolhidas. Faltava-lhe,
sobretudo, coragem para abordá-las porque não saberia o que dizer depois do
primeiro contato. Assim, sem outros predicados, ele queria ser ungido com os
poderes mágicos, como os do Rei Midas, o personagem da mitologia grega que
recebeu do deus Baco o dom de transformar em ouro tudo o que tocava. Mas seria
um Midas moderno porque o ouro de seu desejo seriam as belas garotas que faziam
parte da sua galeria de conquistas potenciais. Bastaria um toque, um aperto de
mão, um beijo mais carinhoso, e elas se prostrariam aos seus pés, prontas para
se transformarem em escravas sexuais, ávidas para satisfazer todos os seus
desejos e fantasias, incondicionalmente suas, e sem muito dispêndio de
energia na conquista.
No verão, na véspera do seu aniversário, ele passou a
noite sonhando que seu desejo se tornara realidade. Foi um sonho contínuo, onde
desfilaram todas as mulheres dos seus desejos e mais algumas que o inconsciente
ofereceu – celebridades, amiguinhas de adolescência, primas interessantes,
atrizes pornôs e até representantes da realeza européia. Acordou banhado
em suor e exausto, como se tivesse compartilhado a cama com todas elas, uma de
cada vez, é claro. Foi um prazeroso, mas cansativo presente de aniversário,
pensou. E ainda havia aquela estranha criatura interferindo no sonho, que se
apresentou como Eros e que se vangloriava, porque fora deus na antiguidade, de
poder mudar a vida dele para melhor.
O sonho fez dele um homem perturbado a caminho do
trabalho. Ele queria entender o significado das imagens que povoaram seu sono e
nas divagações de uma manhã num ônibus lotado nem percebeu que sua vizinha de
banco passou a pressionar suas coxas e se insinuar por olhares e mais
movimentos corporais invasivos do seu espaço. Quando percebeu a movimentação da
moça, diferente do usual, ficou constrangido e procurou se afastar. Mas a moça,
bonitinha nos seus presumíveis 25 anos, insistia em se aproximar mais e mais e
ele começou a ficar preocupado. Temia ser acusado de assédio, logo ele que era
a timidez em pessoa. E a moça se achegava cada vez mais e ele estava quase fora
do banco quando decidiu descer para evitar maiores problemas. Ao levantar, a
vizinha de banco veio atrás e desceu junto do coletivo. Agora ele já estava
assustado, certo de que estava sendo vítima de um assalto, na pior das
hipóteses, ou de uma pegadinha dessas que ridicularizam as pessoas na tv, na
menos pior das hipóteses. A moça veio decidida ao encontro dele no ponto de
ônibus, mas ele saiu em disparada e entrou no primeiro táxi que encontrou.
Chegou esbaforido ao escritório e foi direto ao banheiro
para molhar o rosto e enxugar o suor. O que viu no espelho foi um homem a beira
de um ataque de nervos e precisou de alguns minutos para se recompor.
A saída do banheiro esbarrou na estagiária do
Departamento Jurídico e antes que pedisse desculpas foi arrastado pela moça
para a sala do arquivo. O local era pouco freqüentado naquele horário e a moça,
uma belezinha de 21 aninhos, não demorou muito para despir-se completamente e
avançar sobre ele. Acuado e atônito ele ficou sem reação e se deixou levar pela
voracidade da parceira. Entre arquivos e pastas de documentos se entregaram a
uma transa rápida mas intensa. Ao final, sem dizer uma só palavra ela recolocou
as roupas e, parecendo plenamente saciada, se despediu mandando beijinhos. “Que
loucura foi essa”, ele se perguntou, enquanto recolhia suas roupas e tratava de
se ajeitar minimamente para enfrentar o dia de trabalho.
O episódio logo se espalhou, não por iniciativa dele, mas
porque a moça não resistiu em compartilhar as emoções do encontro transgressor,
logo ela sempre tão recatada. O resultado é que ele passou a ser requisitado
para experiências semelhantes por todo o naipe de estagiárias, dos Recursos
Humanos às da diretoria, passando pelo Marketing e os Serviços Gerais. A fama
de garanhão corria solta e já não havia mais hora nem lugar vedado às
peripécias sexuais. Sem dúvida era uma nova fase na vida dele e ele estava
gostando até porque seu horizonte de conquistas começou a se alargar. As
secretárias da diretoria e de outros setores exigiram espaços na sua agenda e
ele os concedeu com prazer. Eram moças e senhoras mais sofisticadas e dotadas
de bons conteúdos, mas quem disse que elas queriam conversa. Tudo o que elas
desejavam era desfrutar dos prazeres que ele proporcionava e para isso não
poupavam recursos, proporcionando ótimos jantares, locações nos melhores motéis
e viagens e maratonas sexuais nos fins de semana. Ele dava um jeito de atender
a todas, inclusive de outras empresas, além das vizinhas e eventualmente de
alguma desconhecida, já a fama estava cada vez mais disseminada..
Envolvido nesse reino de fantasias e prazer, ele já não
questionava mais porque tudo aquilo estava acontecendo. Achava que devia se
conceder o máximo desfrute, afinal, o que antes era obsessão e sonho, agora se
tornara realidade. A única preocupação era manter distância de insinuações
indesejadas, como a do diretor financeiro, gay assumido, que propôs trocar seus
favores sexuais por um carro zero quilômetro. Aí já era demais, como excedeu
também a investida da mulher do presidente da empresa, uma matrona plastificada
dos seus 60 anos, que passou a persegui-lo de todas as formas e com todas as
propostas. Foi difícil desvencilhar-se dela, mas aos encantos da filha, uma
loira desinibida beirando os 30, ele não resistiu, até para ter um ponto de
apoio familiar na casa do presidente, caso a mãe, despeitada, resolvesse
intrigá-lo.
Eram tantas as pretendentes ao seu toque mágico que ele
passou a ser mais seletivo nas suas escolhas. Já não havia diversidade nas que
compartilhavam a sua cama . Ele claramente optou pelas mais jovens e mais
exuberantes, deixando de lado as maduronas, sem os mesmos atrativos das
garotinhas escolhidas, mas mais generosas nas contrapartidas materiais. A
seletividade - e ele só se deu conta mais tarde - trouxe dissabores. As rejeitadas
passaram a hostilizá-lo. Na seqüência, começaram a espalhar boatos e
maledicências a respeito dele e do seu desempenho sexual.
- Aquilo? Foi uma decepção: é muito pequeno.
- Dá apenas uminha e já quer dormir.
- Ouvi dizer que agora está pegando rapazes.
- Achei estranho ele estar usando uma calcinha feminina.
- Só sabe fazer “papai e mamãe”.
- Olha, cheguei a ficar com saudado do meu ex.
A confraria das rejeitadas era formado exclusivamente por
mulheres já com boa quilometragem, experientes nas tramas que só as mulheres
sabem urdir, casadas, descasadas e recasadas, enfim, senhoras a que se deve dar
crédito e, sobretudo, temer. Ele não fazia ideia da energia negativa gerada
pela rejeição e o estrago na sua reputação que isso provocaria. A injusta má
fama logo se espalhou, mas ele não estava nem aí porque ainda tinha uma missão
a cumprir. Faltava conquistar a recepcionista da empresa que o evitava,
mantendo prudente distância física. Era uma morena sem maiores atributos
físicos, mas o fato de ela se manter invicta passou a desafiá-lo.
Só que agora ela era um homem determinado e
autoconfiante, por isso direcionou seus esforços para vencer a resistência da
moça. Até que um dia precisou trabalhar além do horário para compensar as
escapadas e...
- Fazendo hora extra?
Quem perguntava era a morena da recepção, livros à mão
indicando que estava de saída para a faculdade.
- Não, já estou de saída também.
Saíram juntos do escritório e no elevador os dois tocaram
ao mesmo tempo o botão para o térreo. Foi o suficiente para que a
recepcionista, a exemplo de suas outras colegas, começasse a despir-se enquanto
fazia o mesmo com ele, beijando-o de alto a baixo. Dessa vez ele não reagiu e
se entregou a transa com prazer, sem se importar com a câmara espiã que
espreitava o casal em êxtase no sobe e desce do elevador. Sempre sonhara
em transar no elevador e agora estava realizando o desejo, por isso curtiu cada
momento. Quando finalmente decidiram que era hora de chegar ao térreo, o
guarda da portaria, mais preocupado em jogar paciência no computador do que
vigiar as câmeras de segurança, não prestou maior atenção a eles. Despediu-se
da moça e ficou com gostinho de quero mais.
Mas não houve uma segunda vez, nem terceira nem outras. O
seu toque parecia não funcionar mais, pelo menos com a recepcionista. E olha
que ele bem que tentou, cercando-a de todas as maneiras. Mas a moça se mantinha
irredutível, erguendo uma barreira intransponível entre eles. Tornara-se
obsessão para ele reconquistar aquele corpo e repetir os prazeres que o sobe e
desce do elevador proporcionara naquele dia do primeiro e único encontro.
O Midas erótico estava perdendo o encanto e ele mesmo já não sentia
prazer nas conquistas, tão fáceis e tão descartáveis. Em paralelo, enfrentava a
pressão das rejeitadas, que tratavam de miná-lo de todas as formas. O
emprego dele agora estava por um fio porque a filha do presidente passou a
integrar, junto com a mãe, o clube das rejeitadas e pedira o cargo dele ao pai.
Envolvido nesse turbilhão, ele maldizia o sonho que o empoderara com o toque do
prazer. Como no Midas da mitologia queria voltar a ser o que era antes.
(...)
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