Confrade de minhas relações costuma julgar as
pessoas nas dimensões física e
jurídica. A física diz respeito
aos atributos pessoais - caráter, personalidade, atitudes – e a jurídica ao
desempenho profissional – competência, entregas, relacionamento, comprometimento. Assim, não é raro se referir a outra pessoa
no condicional:
- Na física é uma rica de uma pessoa, mas, na
jurídica, um baita incompetente.
Também é recorrente a sentença inversa:
- Na jurídica é um grande profissional, mas, na
física um péssimo caráter.
Nesta minha jornada mais que sexagenária
sou tentado a concordar com o
confrade, eis que tenho convivido com gente de todas as espécies. Conheço perfis, especialmente entre as
chamadas pessoas públicas, que induzem a
grandes enganos com suas atitudes.
Fina flor da meiguice para efeito externo, nas internas são verdadeiros déspotas. E parece haver uma relação direta entre a
ascensão do sujeito e a incivilidade: quanto mais poderosos, mais autocráticos.
Os piores são aqueles que recebem um carguinho e acham que são deuses.
- Dá-lhe o látego e conhecerás o tirano, dizia, algo
solene, um diretor de rádio que conheci
no passado, ele mesmo um especialista em disseminar o terror entre os seus
colaboradores.
O látego, para
quem não sabe, é o chicote usado
pelo verdugo para flagelar suas vitimas.
As vitimas são todos aqueles obrigados a conviver com os opressores de plantão,
porque o sujeito mal avaliado na jurídica, mas de boa índole ainda passa, porém,
o contrario não é verdade. Do jeito que vai,
daqui a pouco seremos obrigados a imitar
Diógenes, que saia as ruas na Grécia
antiga carregando uma lamparina e alegando
que estava a procurar um homem honesto e íntegro. Detalhe: o filosofo era conhecido como
Diógenes, o Cínico, o que deve significar alguma coisa sobre o caráter dele.
Diógenes, puro cinismo
Na verdade, Diógenes procurava a virtude de uma vida
simples e natural, dessa simplicidade e
espontaneidade de que são feitas as
pessoas do bem, que prescindem do látego
porque são integras na física e na jurídica. Se me pedirem nomes dos outros,
nem com látego revelo.
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