*Publicado nesta data em coletiva.net
A Academia Brasileira de
Letras, ABL, acaba de eleger mais uma
mulher, a décima a ocupar uma cadeira, agora na
vaga de Nélida Piñon. Trata-se de Heloisa Buarque de Holanda, 83 anos,
que além de ostentar um sobrenome de peso no cenário cultural brasileiro, possui
uma sólida carreira literária e acadêmica.
A nova imortal,
certamente, tem muito mais legitimidade para ingressar na ABL do que Fernanda Montenegro, com a qual a
gestão de Merval Pereira abriu caminho para indicações de nomes distantes das
letras, os chamados “notáveis” ou do “poder “, como já ocorreu no passado,
inclusive com a indicação de Getúlio Vargas, de Ivo Pitanguy, de Santos Dumont
e até de um ministro do Exército do período militar, o general Aurélio de Lyra
Tavares, que se assinava com o pseudônimo de Adelita, vejam só . Merval, apesar
de ser ele mesmo um escritor de segundo escalão, deve ter muito peso nas
decisões da ABL, não apenas por ser o presidente, mas porque é também um valoroso
representante das Organizações Globo junto ao grupo de intelectuais que se
reúne para o tradicional chá com biscoitos e bolinhos das quintas-feiras. Assim, todos os atos envolvendo a ABL tem a
garantia de generosos espaços nos veículos da Globo, a começar pelo Jornal
Nacional.
Cada vez que se abre uma
vaga para o panteão desses luminares, lembro da frase, maldosamente talentosa,
de Millor Fernandes : “A Academia
Brasileira de Letras se compõe de 39 membros e 1 morto rotativo”. Lembro também a pouca representatividade dos
gaúchos na Academia. Seriam 11 no total desde a fundação da instituição em 1897,
quase o mesmo número de maranhenses com
10 e bem menos que os 23 pernambucanos e os 20 baianos. Lembro mais: que
a Academia rejeitou Mário Quintana e só mais tarde aceitou Moacir Scliar, que foi se unir a outro gaúcho, o poeta Carlos Nejar, hoje mais conhecido como pai do
Fabricio Carpinejar.
Para virar esse jogo da nossa participação na ABL, pretendo liderar um
movimento que visa pleitear para os gaúchos a próxima vaga rotativa. Mais do
que isso, a proposta é de que seja a inédita escolha de um coletivo para a tal vaga,
como já ocorre em alguns mandatos legislativos municipais. Participariam meus confrades dos encontros de
quinta-feira (olha a coincidência: mesmo dia dos chazinhos na Academia) no boteco
do Alemão, gente muito digna e afeita às letras, com obras publicadas de grande
repercussão. Convidaria, ainda, para completar um coletivo de 15 autores, o
Marino Boeira, porque, afinal, precisamos de um representante comunista na ABL,
como já foi Jorge Amado; o irrequieto e provocativo Caco Belmonte; o Arizinho
Teixeira, que está escrevendo cada vez melhor suas crônicas; o Auber Lopes de
Almeida, meu editor e um sonetista militante, e uma representante do naipe
feminino, para não acusarem o coletivo de misoginia. Seria a Indaiá Dillenburg,
também conhecida como Pérola Negra e minha parceira no livro ‘Dueto – a dois é
sempre melhor’.
Devo acrescentar que a maioria tem idade suficiente para integrar o
austero plenário e todos possuem qualidades literárias que vão ao encontro dos
valores que inspiraram Machado de Assise seus pares na fundação da Academia
Brasileira de Letras. Alguns até gostam de chá. Faremos rodízio para a presença
nas reuniões, dividiremos irmãmente os jetons e haverá sorteio democrático para
decidir quem terá direito ao sepultamento no mausoléu dos imortais no Cemitério
São Joao Batista, no Rio.
Ah, o senhor e a senhora dirão que estou debochando da mais que
centenária instituição brasileira. É
verdade, mas quem começou o deboche foi a própria ABL, com algumas
escolhas questionáveis, como a de Getúlio Vargas, de Ivo Pintaguy, de Santos
Dumont, do general Adelita e por que não ?, da Fernanda Montenegro.
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