* Publicado em 11/03/19 em Coletiva.net
Algumas das principais
figuras publicas do país estão penando não pelo que fazem ou deixam de fazer, mas pelo que falam. Não me refiro apenas à turma do Bolsonaro que, a
cada dia, nos brinda com alguma pérola em termos de declaração, mas incluo no
time dos mal falantes e mal falados, o
técnico da seleção.
Com seu estilo
professoral e muita inspiração na neurolinguística, Tite sempre tem uma novidade nas coletivas, como na última convocação ao
elogiar o “torque” de determinado atacante. Conheço bem o pessoal da mídia
esportiva e já vou avisando que, de inicio,
ele reverbera positivamente as
novidades linguísticas, mas em seguida perde o entusiasmo com essas explicações
que fogem aos jargões do futebolês. E o técnico
passa a ser contestado, mesmo que
seu trabalho tenha sido superior,
até agora, em relação aos
seus antecessores recentes. Claro
que tudo muda em caso de vitória
na Copa América. Aí o Tite vai se
puxar nas coletivas.
No futebol, como na política,
somos movidos por resultados. De preferência, positivos a nosso favor. Mas
resultados ruins e declarações no mesmo nível não há o que
salve.
De outra parte, surge uma
surpresa no cenário de entrevistados importantes.
Outro dia assisti à participação
do vice-presidente Hamilton Mourão na Globo News e fiquei positivamente
impactado com a forma e os conteúdos do general, que tem provocado encantos até
mesmo em hostes esquerdistas. Mourão
fala claro, com uma lógica aprendida
na caserna e, assim, as respostas
tem começo, meio e fim e atendem aos questionamentos. É bem verdade que a bancada de entrevistadores
não era das mais
hostis, mas o bom general, com alguns momentos de humor castrense, não
deixou nada sem explicação, sempre sob o seu ponto de vista, as vezes com
direito a réplica e tréplica. Passou a ser o novo queridinho da mídia, uma vez
que Bolsonaro tem
conhecidas dificuldades para enfrentar entrevistadores em geral.
Mais tarde, soube que o
que contribuiu para a mudança de postura do vice, do general gênero linha dura, sem papas na
língua, para o papel de bem articulado e contido porta voz governamental, foi
um processo que está ao alcance de qualquer liderança: um media training. Sim, um treinamento para aperfeiçoar a capacidade
de se relacionar com jornalistas.
Mourão se deu conta de
que comunicação, sobretudo no âmbito do governo, requer profissionalismo e, vestindo as
sandálias da humildade, nas últimas três
semanas de 2018 frequentou o serviço de Comunicação do Exército. Lá submeteu-se à rigorosas sabatinas em sessões
com duração de 30 minutos, nas quais
nenhum tema era tabu.
Não se tem informação se
Bolsonaro participou ou mesmo cogitou de um processo semelhante. Precisaria, e
de forma urgente, pois do jeito como se
comunica em seguida estará empatando e talvez superando a ex-presidenta
Dilma em termos de bobagens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário