Encontrei outro dia um antigo companheiro daquelas tantas confrarias que um dia frequentei. Por razões que desconheço, e já referi essa situação aqui, meus confrades de outrora me tiram para confessionário e com o parceiro desse encontro não foi diferente. Depois da sessão de cinismo inicial, em que cada um jurou que o outro estava em grande forma ("Me dá tua receita pra não envelhecer", insisti, como sempre faço), o ex-confrade abriu um largo sorriso e com um jeito ligeiramente blasé, disparou:
- Estou de namorada nova e a moça é uma máquina, uma máquina, repetiu.
Ao invés de celebrar a conquista do velho companheiro de tantas batalhas etilicogastronômicas, confesso que fiquei com inveja. Ainda bem que ele não percebeu o meu sentimento perverso, porque logo em seguida desandou a falar em tom queixoso:
- O problema é que na hora do bem-bom tenho sido sistematicamente interrompido por telefonemas de colegas nesta praga que é o celular.
Homem de responsabilidade na firma em que atua profissionalmente, o parceiro não resiste, e no terceiro toque já está atendendo o celular, independente do estágio em que esteja da saliência.
- Sabe como é, pode ser alguma coisa urgente, justifica ele.
Mas completa, pesaroso: “O problema é que a retomada é tão mais difícil....”
Aí fiquei com remorso por causa da inveja anterior. O parceiro estava sendo vítima de uma nova categoria: Os interruptores, agentes de uma forma de bulling sexual, também conhecidos como “os empatadores”.
Na real, são pessoas do bem, mas incluídos na categoria que mais cresce no mundo moderno: os Sem noção.
- O campeão em interrupções é o chefe do jurídico, que me liga sempre quando já consegui engrenar. Acho que como ele não pratica mais agora esta atrapalhando a transa dos outros.
O ranking dos maiores interruptores inclui o vice-presidente, o diretor de marketing e meia duzia de colegas do mesmo nível, incluindo aquela moça mais expansiva também do marketing.
A nova namorada estranha a insistência com que ele é procurado, mas tem sido pacenciosa mesmo com as interrupções. "Mas até quando?", angustia-se ele.
Foi nessa fase da conversa que me comovi e assumi uma atitude solidária com o amigo. Deveria haver uma punição severa para os interruptores. Algo como assistir na primeira fila ao show do Luan Santana ou participar da Dança dos Famosos com a Suzana Vieira ou ser obrigado a torcer para o Ibis. Interrupção já, aos interruptores.
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