Aos 6.5 tenho cuidados redobrados ao atravessar as
ruas e avenidas mais movimentadas. Meu grande temor é o vexame da manchete do
dia seguinte, algo do tipo “Sexagenário atropelado por ciclista”. Parece que o termo sexagenário está em desuso
na nossa imprensa e aí o editor maldoso vai apelar para uma solução mais
vexatória, se o acidente ocorrer num bairro mais distante do Centro Histórico: “Carroça atropela idoso na Aberta dos
Morros”. Convém lembrar que Aberta dos
Morros é um dos tantos bairros que aparecem nas minhas correspondências e,
independente dos nomes, por aqui ainda circulam carroças. E aí mora o perigo.
A preocupação que me leva a fazer essa advertência
tem a ver também com o pessoal que costuma pular a cerca: cuidado com a
manchete do dia seguinte. Vai que o
marido descornado resolva, como de dizia antigamente, lavar a honra e o faça
com um 38 carregado de balas. Aposto que
a manchete do dia seguinte vai falar em “crime passional”. Se você tiver a sorte de escapar vivo ainda
vai ter que dar muita explicação porque a humilhação já estará espraiada. Entretanto, podia ser pior caso o lavador da honra fosse você e
bem pior ainda se fracassasse na vindita.
A manchete do dia seguinte só poderia ser essa: “Traído, vingativo e ruim de pontaria”.
Penso que é inevitável associar essas divagações àquelas homenagens
que podem se eternizar e sobre as quais não teremos nenhum controle no futuro. Acredito mesmo que, se pudessem escolher, Rubem Berta e Mário Quintana,
por exemplo, evitariam batizar com seus afamados nomes duas comunidades de Porto Alegre
onde campeia a violência, com todo o respeito às famílias lá residentes que
também são vítimas da bandidagem local.
Fico imaginando - até já escrevi sobre isso - se algum puxa saco
resolver me homenagear quando eu partir
dessa para outra dimensão e batizar aquele beco perdido no cafundó do judas de
Travessa Flávio Dutra e vale também para outros espaços públicos. Já estou até
vendo as manchetes e títulos dos tabloides populares: “Traficantes
tomam conta do Beco Flávio Dutra”, ou
“Prostituição infesta praça Flávio Dutra”, ou
a pior - “Ninguém aguenta
mais o mau cheiro da Flávio Dutra”. Certamente
vou me remexer na cova. O
que me conforta é que ainda vai demorar muito até eu merecer uma placa em
logradouro público!
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