E o que o
bom Diogo tem a ver com isso? Muito pouco, a não ser o fato de que ele tem sido vítima
constante dos distribuidores dos tais prospectos eróticos, tanto assim que já
se questiona se não passa a impressão de que está com saudade da coisa ou, o
que é pior, aparenta ser uma pessoa devassa, ávida para desfrutar
momentos de luxuria nesses mal afamados locais. Homem de boa índole,
marido amoroso, cidadão de conduta exemplar, o coitado do Diogo se martiriza
com a situação.
O
martírio dele, diante das tentações, se agrava quando desempenha outra atividade,
recepcionando delegações do exterior, autoridades ou empresários que aqui
aportam em busca de negócios. O trabalho é gratificante, mas coloca
nosso amigo em cada saia justa que vou te contar. Recentemente ele precisou
reservar acomodações para cinco estrangeiros e como todos os hotéis estavam lotados a
solução foi contratar apartamentos em um motel da zona leste, depois de muita
conversa com o gerente explicando a origem dos hóspedes e a emergencialidade da
hospedagem. Tudo acertado, à noite Diogo voltou ao motel para
apanhar os estrangeiros e levá-los para jantar. À saída do estabelecimento
, com a sua van carregada dos estrangeiros, um grupo de homens altos, fortes,
quase gigantes de ébano, foi surpreendido por um casal de idosos que
passava pelo local. Diogo ainda tentou afetar naturalidade, mas pode ouvir
claramente quando o homem comentou com a mulher:
- Pouca
vergonha, como permitem uma coisa dessas aqui na vizinhança?!
Pior foi
a resposta da senhora:
- Como
ele aguenta esse montão de homem?!
Apesar do
reconhecimento dos visitantes ao acompanhante, expresso em animados
discursos durante o jantar, Diogo estava transformado em um farrapo
humano, lembrando o casal de idosos e suas insinuações sobre o que teria
acontecido no recôndito do motel.
De outra
feita, igualmente recebendo um grupo de estrangeiros, o mais saliente dos
visitantes insinuou que gostaria de conhecer uma casa noturna cuja fama chegara
a sua terra, transmitida por viajantes que o precederam. Num inglês
enrolado deu a entender que era o Gruta Azul,
conceituado estabelecimento que, eventualmente, permite que as belas
moças que transitam pelo local sejam cooptadas para programas, como direi...,mais
movimentados.
Pedido
insinuado, pedido realizado e lá se foi nosso amigo ciceronear o grupo no Gruta
Azul. Antes, deixou claro que não ficaria para a noitada, porque, como já
sabemos, não era homem dado a frequentar
esses lugares. A desculpa para os gringos foi outra, mas antes de deixá-los
instalados num camarote vip, fez mil recomendações ao gerente, exigindo que
fossem tratados como realezas e recebessem do bom e do melhor.
Diogo
confessa que foi pra casa com aquela ponta de desassossego a perturbá-lo.
Aquele bando de estrangeiros soltos no Gruta, bebida à vontade, as moças
rondando e ninguém para controlar...Margem de risco enorme.
O sono
custou a vir e, quando chegou, foi entrecortado por despertares em
sobressalto. Até que o telefone tocou na madrugada e ele prontamente
atendeu. Do outro lado da linha, ouviu um coro:
- Diogo,
Diogo, Diogo! Thank you, Diogo. Obrrrigado, Diogo. Diogo, Diogo, Diogo!
O nome
dele, pronunciado daquela forma e com sotaque estrangeiro, foi um momento
emocionante, embora o coro fosse poluído por gritinhos femininos ao
fundo. Pelo jeito, era uma fuzarca e tanto!
Pelos
serviços prestados e a atenção dispensada aos visitantes, Diogo assumira a
condição de ídolo, só que estava bloqueado para aproveitar as benesses
decorrentes das suas relações internacionais. Por isso, consciente das
suas aflições, lamentava-se no dia seguinte, repetindo uma frase que já está
virando bordão:
- Agora
só me resta aderir à massagem tântrica.*Nome fictício, por razões óbvias.
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