terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O Sistema

Pouca gente se dá conta mas quem manda mesmo no universo é algo que conhecemos por O Sistema.  Para o bem e para o mal, de forma direta ou indireta, O Sistema rege nossas vidas.

Difícil estabelecer quando esse fenômeno começou, mas suspeito que a gênese esteja  associada à Revolução Industrial que deu vida às máquinas, evoluiu para a Informática e gerou o  que viríamos a conhecer como O Sistema.  Tem gente que confunde O Sistema com outro processo  que chamaríamos exatamente de O Processo.  Só que O Sistema é mais robusto, mais abrangente e mais impositivo que  O Processo,  um mero procedimento coadjuvante, ou um dos modos de comandar o mundo que o chefão utiliza.

Todo o dia nos deparamos com O Sistema, nos espreitando e se fazendo presente quando menos esperamos ou quando mais precisamos dele.

- Desculpe, senhor, mas O Sistema está com problemas.

Quantas vezes você já ouviu essa desculpa.  Mas não é nada disso.  O Sistema jamais apresentará problemas, ele apenas esta se fazendo e mostrando quem é que manda.

Também não acredite quando a moça informar que “O Sistema está fora do ar”.  Na verdade, O Sistema deixou todo o mundo na mão apenas para se valorizar  e voltar mais prestigiado do que nunca, iluminando o rosto das atendentes, que anunciam:  “Pessoal, O Sistema voltou, O Sistema voltou”. Outras mentiras comuns são do tipo “Não trabalhamos com este sistema”  ou “Nosso sistema é outro” – O Sistema é único e não tem este ou aquele,  mas O.  Certos estão aqueles que já esclarecem: “Tudo vai depender dO Sistema”. 

Quer acarinhar O Sistema? Use expressões do tipo “Não sei o que está havendo com O Sistema hoje, ele está tão instável”.  É que O Sistema adora que as pessoas pensem que ele é imprevisível, quando na real é apenas manhoso.  E  muito vaidoso.  Vale também apelar para um pouco de coitadismo diante das pressões:  “Assim não há Sistema que aguente”.

O Sistema é, enfim, a materialização do Grande Irmão (Big Brother)  anunciado por George Orwell em  1984.  Presente em tudo, interferindo em tudo, mandando e desmandando no cotidiano das instituições e das pessoas.  E antes que me perguntem, nada a ver com aquela pouca vergonha do BBB da Globo.  O Sistema não é reality show, mas vida real.



domingo, 29 de dezembro de 2013

Te aprochega 2014

2013 já vai tarde, 2014 está logo ali e como sempre faço nesse período antecipo meus pedidos ao novíssimo ano e assumo os compromissos de contrapartida para equilibrar a relação.

Em tese, mas só em tese por enquanto, não quero paz, mas as provocações que constroem e não as que desqualificam. Quero emoções novas e desafios que eu mesmo me imponha. Quero um pouco de desarmonia, que não é sinônimo de conflito, mas uma forma de mostrar outros matizes e semitons onde pode estar contida a verdade verdadeira.

Sigo reiterando o apelo feito em anos anteriores: encarecidamente,  livrai-me dos chatos; vale repetir, livrai-me dos chatos. E reforço os outros pleitos: mantenha longe de mim também os mordedores em geral, os picaretas de todos os matizes e os pedintes de favores que não estão ao meu alcance. Se possível, afaste os hipocondríacos, com suas doenças e seus remédios para todos os males. Quero distância igualmente dos baixo astrais, dos angustiados, dos obsessivos porque tenho medo de contrair uma deprê. E mais, se não for abuso, suplico: mande para longe os duvidosos de caráter, os falcatruas, os descompromissados e os sugadores de energia. Coloque em fuga, por especial gentileza, os arrogantes, os prepotentes, os invejosos e todos da mesma laia.

Repito igualmente  outros pedidos, porque não dá para postergar. Apelo para o teu anunciado espírito harmonioso para reaproximar-me dos que ofendi e se apartaram, e dai-me o dom da tolerância para aceitar e receber os que se desgarraram. Faça pousar em mim a deusa da paciência e que venham juntas as amazonas altivas da fé e da esperança. Com isso, serei fortaleza que não se dobra, terei coragem para enfrentar as adversidades e energia para novos desafios, mas que sejam bem menores e menos intensos do que os do já decrépito 2013.

No repeteco, salve-me das filas, as dos bancos e dos supermercados, e todas as outras onde corra o risco de ser interpelado por desconhecidos que me tiram para confessionário e interrompem minhas ruminações. Não admita, por compaixão, que a guria bonita me pergunte a idade antes de distribuir a senha, se a maldita fila for inevitável. Guarde uma boa vaga de Idoso pra mim nos supermercados.  Abusando da compaixão, não permita que as bonitinhas me chamem de tio e muito menos de vô, chamado que reservo apenas para a Maria Clara e a Rafaela.

E tem mais uma listinha facilzinha e repetida, meu imberbe 2014. Não deixe faltar uma boa carne na minha mesa, saladas variadas, cerveja gelada, um vinho encorpado para as noites de inverno e um espumante para acompanhar o gosto feminino. E se não for pedir muito, que eu reencontre aquele doce de abóbora, de comer ajoelhado e o pudim que justifica nossa ida frequente aquele restaurante.  Ah, e aquela berinjela, a carne de panela com batatas e uma caixa de Bis só pra mim. Pode ser de Ferrero Rocher também.  Se não for contraditório, aproxime de mim essas tentações. E que sempre possa dividir a boa mesa com companhias agradáveis, brindando os bons momentos da vida que não são muito e até por isso precisam ser valorizados. Conceda-me, de vez em quando, jogar um pouco de conversa fora, curtir mais a minha gente, vagabundear sem culpa, experimentar o novo e, por que não?, me entregar a alguma extravagância. E dá uma forcinha e inspire os médicos para que receitem menos remédios e exijam menos exames.  


Em contrapartida, Novíssimo Ano, prometo continuar sem fumar , me exercitar com regularidade, comer menos fritura e beber moderadamente, cometer menos infrações no trânsito, voltar a ler e fuçar menos na internet, ouvir mais e falar menos, enrolar menos nas aulinhas,  respeitar mais e debochar menos, lembrar o aniversário de casamento e outras datas importantes e não desejar a mulher do próximo, nem a do distante, porque os outros pecados não os cometo. A não ser que um pouco de rabugice seja pecado, dos veniais, mas até isso pretendo corrigir. Nesses termos peço sua compreensão e deferimento, jovem e bem-aventurado Novo Ano.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Apesar de tudo é Natal.

As duas moças passam alegres, abanando com máscaras de Papai Noel e saudando todas as tribos que transitam no calçadão de Ipanema nos primeiros  horários da manhã: “Feliz Natal, Feliz Natal”. Mais adiante, o jovem corredor corre distribuindo “boa dia” a todos os passantes. E difícil não se contagiar pela espontaneidade das manifestações e eu, sempre tão recatado, fico com vontade de também sair cumprimentando e abraçando a todos e a todas, com prioridade para o gênero feminino.

No primeiro momento achei que os gestos eram resultado da proximidade do Natal, que tende a amolecer corações e nos tornar mais afetivos, mesmo que um tanto melancólicos. Mas já tinha observado as duas moças compartilhando alegria em outras oportunidades e recebo cumprimentos  de um número cada vez maior de caminhantes nas minhas deambulações matinais.  Estaria ocorrendo uma nova onda  para espargir gentilezas e convocações à alegria?

Gostaria de pensar que , de fato,  os melhores valores humanos estão se sobressaindo neste início de terceiro milênio, mas logo vêm a dúvida diante de uma atitude que está grassando nos EUA| e já chegou aqui. Funciona assim: um grupo de jovens escala um deles para a missão de agredir alguém, normalmente um cidadão desavisado, o cara vai lá, dá um cacete na vítima e volta para receber os aplausos da turma, que segue para outro “desafio” do gênero.

Outro dia, em frente ao Shopping Praia de Belas, um pacato ciclista foi agredido ao amanhecer com um taco de beisebol por um jovem saído de um carrão importado, que depois arrancou cantando pneu. Por sorte e por estar de capacete, o agredido escapou sem maiores consequências. Nos EUA as forças policiais simplesmente não sabem como lidar com essa onda malévola e aqui o temor é que essa agressividade se propague sem controle.

Não sei quanto a vocês, mas esse contraponto desqualificado ao  espírito de Natal me traz de volta a melancolia, uma quase depressão, quando deveria estar celebrando o renascimento da alegria, da gentileza e da solidariedade.


Apesar de tudo, desejo a todos um Natal em que a sensibilidade se afirme e se sobressaia.


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O Mega

Entre todos os tipos inesquecíveis que cruzarem pela minha vida um em especial se destaca:  o megalômano.  O mais recente exemplar até conseguiu me enganar por um tempo, fantasiando viagens que nunca fez,  contatos importantes que não aconteceram,  relações com poderosos que não existiam, grandes fortunas que viria a ganhar e  que nunca se materializaram.  Mas como ninguém consegue enganar todo o mundo todo o tempo, um dia a ficha caiu e o sentimento que passei a nutrir em relação à figura foi de compaixão porque evidentemente essa megalomania era doença. E doença exige tratamento.

Pensando bem,  o tipo não merecia meus nobres sentimentos, primeiro porque parecia extremamente feliz com o mundo fantasioso que criava e depois porque as invencionices que aplicava serviam também para escapar dos seus deveres funcionais.  Pra ser claro: fugia do batente. Hora a desculpa era uma viagem a um estado distante para tratar de um convite  para importante cargo oficial, hora uma negociação crucial com investidores estrangeiros interessados em empresas que dizia representar, hora até mesmo um delicado tratamento médico a que precisava se submeter. 

Nem sei se a classificação é mesmo como megalômano e admito que sentia uma pontinha de inveja com a capacidade criativa e ficcional do sujeito, mas com o tempo desenvolvi uma forte rejeição a toda e qualquer história dele.  É que meu  HD mental  não precisa de muita coisa para ficar  lotado e o Mega, com seus feitos,  estressava logo meu limitado equipamento.  Assim,  para que os megas se afastem de mim, roguemos.



domingo, 8 de dezembro de 2013

Dia do profissional da adrenalina

Militei (gosto do termo) mais de 25 anos na chamada crônica esportiva. Comecei na Zero Hora, passei pela Folha da Tarde, trabalhei na Rádio e  TV Difusora (hoje Band), nas rádios Guaíba e Gaúcha, duas vezes em cada veículo e encerrei esse ciclo na RBS TV/TVCom. Fui repórter e editor de jornal, editor e coordenador de rádio e TV, mas nunca me aventurei no microfone nem no vídeo. Achava que não tinha perfil pra isso, o que foi uma bobagem porque até a desenvoltura diante do público a gente aprende. Mas preferi me especializar nas ações da retaguarda da operação que envolve a cobertura esportiva, no dia a dia e nos grandes eventos.  Muito me orgulho também de ter atuado por um bom período na Associação Gaúcha de Cronistas Esportivos (Aceg), da qual só não fui presidente.

Aprendi muito neste período, até porque tive mestres inspiradores. Gente como o Armindo Ranzolin, um gigante ao qual presto meu reconhecimento; ao Ari dos Santos, que parecia ter a fórmula das polêmicas; e nos jornais meu guru Nilson Souza e um grande editor, ao qual devo minha reciclagem, o Emanuel Mattos. Claro que aprendi muito com outros companheiros e pra mim o aprendizado é permanente, mas faço questão de destacar os quatro profissionais porque realmente representaram muito na minha carreira. E em nome deles saúdo todos os que fazem da cobertura do esporte sua vocação e missão no jornalismo neste 8 de dezembro em que se celebra o Dia do Cronista Esportivo.

Comemorado no mundo inteiro, registros nada confiáveis creditam a data a Aulus Lépidis, que seria o primeiro cronista esportivo ao descrever num  8 de dezembro  um duelo entre escravos e leões no jornal Acta Diurna, de Roma. Aulus  acabou ele mesmo devorado por animais famintos, jogado às feras por Marcelus Brunos, o domador dos leões, cuja esposa teria um caso amoroso com o primeiro mártir do jornalismo esportivo., que coisa, hein!

Fico pensando em como essa história seria contada pela imprensa esportiva da época e tenho certeza de seria uma cobertura ágil, detalhada, emocional e opiniática, com muita adrenalina, portanto,  porque esses atributos – positivos ou negativos – fazem a essência da atividade. A verdade é que a crônica esportiva já nasceu sob o signo da controvérsia e isso é inevitável em se tratando de uma editoria que envolve competições e rivalidades – vide o nosso Grenal.

Não conheço cronista esportivo que não seja apaixonado por seu trabalho e aos que ficaram e aos que virão meu reconhecimento e um abraço parceiro. Boa adrenalina  pra vocês!


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A propósito de Mandela: as lições de Invictus

* Publicado originalmente em julho de 2010.

Em boa hora chega às locadoras o DVD de Invictus. A Copa na África do Sul coloca em evidência a história narrada com a competência e o talento de Clint Eastwood.

Uma rápida sinopse do filme: eleito presidente, Nelson Mandela (Morgan Freeman) tinha consciência que a África do Sul continuava sendo um país racista e economicamente dividido, em decorrência do apartheid. A proximidade da Copa do Mundo de Rúgbi, pela primeira vez realizada no país, fez com que Mandela resolvesse usar o esporte para unir a população. Para tanto chama para uma reunião Francois Pienaar (Matt Damon), capitão da equipe sul-africana, e o incentiva para que a desacreditada seleção nacional seja campeã, o que de fato ocorre.

Invictus é uma ode ao perdão e à reconciliação, mas, sobretudo, à grandeza. A grandeza que se expressa na direção de Eastwood que produziu mais um épico, embora Invictus não seja o seu melhor filme. Grandeza também na interpretação de Morgan Freeman. Só ele poderia interpretar, em todas as suas dimensões, o gigante Mandela. Um Mandela, marcado por 27 anos de cárcere, mas que não hesitou em enfrentar as resistências dos mais próximos para atingir um grande objetivo: unir seu povo por meio do esporte.

Não é a primeira vez que a força do esporte é utilizada como instrumento de coesão social. Mas, diferente da nossa experiência com o Brasil Prá Frente, ou Ninguém segura este país, da era Médici, que visava validar uma ditadura, Mandela assumiu claramente o rúgbi como um meio para chegar ao objetivo maior de reconstituir uma nação. A grandeza de uma nação está diretamente vinculada à grandeza de intenções e dos sonhos de seus líderes e essa é a principal lição que fica de Invictus.

Extra filme, algumas constatações. O rúgbi, mistura de futebol e futebol americano, é um jogo muito estranho. É um tal de agarra, agarra, chatissimo, sem contar que a bola oval, jogada com as mãos, só pode ser passada para trás. Menos mal que na época retratada pelo filme as detestáveis vuvuzelas ainda não haviam invadido os estádios sul-africanos. Por fim, a reflexão que não quer calar: já pensaram se o Mandela dependesse da seleção do Parreira para unir o povo? Coitada da África do Sul.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Nilton Santos e eu

Nem Pelé, nem Garrincha. Meu ídolo nas copas de 58 e 62 era Nilton Santos, um tanto pelo nome composto e elegante, um tanto pela sua categoria em campo, que alguém inspirado comparou com uma enciclopédia. E ainda jogava, como Garrincha, no Botafogo que era meu time de botão panelinha, aqueles de plástico, com a bela estrela solitária em preto e branco. 

Para o menino que estava descobrindo a magia do futebol tudo isso era importante e fascinante. O menino cresceu e virou lateral direito, como o ídolo, mas ainda bem que Nilton Santos não tinha a mínima noção do que acontecia nos campos varzeanos do bairro Petrópolis – a praça Tamandaré e o Ararigbóia, em especial – porque a falta de qualidade,  mediocridade mesmo, do atleta amador que um dia fui causaria grande decepção ao maior ocupante da posição em toda a história do futebol brasileiro.

Passam-se os anos e o varzeano virou jornalista das editorias de Esportes. E lá pelos anos 70 do século passado, acompanhando a delegação do Grêmio numa viagem a Salvador, eis que aparece na frente do repórter no saguão do hotel,  ele, Nilton Santos. Foi preciso conter a veneração para chegar até o ídolo, afetando profissionalismo, para pedir uma entrevista que foi aceita com cordialidade e marcada para mais tarde.

Conversamos por quase duas horas, o que rendeu uma boa matéria para a Folha da Tarde (sim, eu trabalhei na Folha da Tarde). A repercussão também foi boa,  me informaram da redação e eu fiquei ainda mais faceiro depois do encontro com o idolatrado ex-jogador. Repórter novo, em busca de afirmação, com matéria diferenciada e elogiada, era tudo o que eu precisava na ocasião. Da reportagem,  lembro apenas da incisiva defesa que Nilton Santos fez do técnico Vicente Feola que era acusado de dormir durante os jogos e treinos. Para o craque, Feola era um grande e injustiçado treinador.

Agora Nilton esta, com Feola,  junto aos Deuses do Futebol que podem ser divindades, mas nem por isso menos invejosos - afinal, não tem o talento da Enciclopédia. De onde estiver, só peço que me perdoe por desonrar a posição que o consagrou e fez dele um ícone. 

* Onde se leu lateral-direito, leia-se esquerdo. Sorry.

domingo, 24 de novembro de 2013

Ouvido na mesa ao lado


Como vocês sabem tenho mania de ouvir conversas alheias na mesa ao lado.  Herança dos tempos de repórter que um dia fui e ter ouvidos aguçados era preciso.  Pois noite dessas, entre um bolinho de bacalhau e outro, à espera do meu linguado à portuguesa , fui apanhado por uma frase da mesa ao lado:

-...e o cara me disse que estava há 10 anos sem transar!

De imediato, liguei todas as antenas e me detive no relato que o rapaz fazia para a assistência da mesa ao lado.  Pelo que entendi, a história é mais ou menos assim:  uma cunhada do relator enamorou-se de um jovem extremamente religioso e isso mudou sua vida e o cotidiano de toda a  família.

-Até meu sogro teve que mudar os hábitos, parar de dizer palavrões, para não atrapalhar o relacionamento, explicou o rapaz da contação.

Ato seguinte, mostrou no celular a foto da moça e pela reação dos circunstantes deduzo que se trata de um belo espécime da raça humana no seu naipe feminino. Apesar dos atributos físicos e de um passado, digamos, festivo e diversificado, a moça estava enfeitiçada pelo namorado a ponto de dedicar parte do seu tempo para, juntos, lerem e refletirem sobre as lições dos capítulos e versículos bíblicos.

Só que, passados seis meses de seca, a jovem já não aguentava mais a falta de iniciativa do moço e, certa noite na casa dos pais na praia, ficou nua em pelo no quarto sobre a cama, simulando que estava dormindo.  Ao abrir a porta do quarto para um beijo de boa noite e uma última oração, o namorado entrou em pânico diante daquele quadro erótico on line.  Tratou então de sacudir a jovem, exigindo que se vestisse. Como ela continuava fingindo sono profundo,  começou a vesti-la da calcinha ao pijama, ao contrário do que era de se esperar do verdadeiro amante, que retiraria roupa por roupa – foi o pensamento malicioso que me ocorreu ao ouvir o relato.

A tensão entre eles aumentou e decidiram casar para que pudessem consumar a união, conforme os preceitos religiosos do rapaz.  Casaram e a primeira noite foi também a ultima: a moça, ansiosa pela espera da pegada do namorado, decepcionou-se com o desempenho e os dotes do rapaz.  A paixão evaporou-se em apenas uma noite, uma noite frustrante.   E no dia seguinte  a moça já estava procurando um ex, confiável na pegada e nos dotes, enquanto o marido despejava pragas e previa o ” fogo eterno” para a infiel.

Sucede que depois de 10 anos sem praticar, o moço estava sem empuxe,  tinha desaprendido o pouco que sabia, sem contar que estava desapetrechado no principal equipamento.  Até para casar tem que ter treino, conclui eu, ao retornar aos acepipes e à conversa mais trivial na minha mesa.

A mesa ao lado havia rendido!




domingo, 17 de novembro de 2013

Eu acertaria Kennedy

Li com atenção a matéria de ZH Momentos finais de John Kennedy, do competente Léo Gerchmman, que tenta trazer novas luzes sobre o assassinato do jovem e charmoso presidente dos EUA, em 1963. A matéria remete ao livro os Últimos dias de John F.Kennedy , de Bill O’Reilly e Martin Dugant que vendeu mais de dois milhões de exemplares e virou filme assinado por Ridley  Scott, com Rob Lowe no papel do presidente.  Tirante os infográficos que mais atrapalham do que ajudam,  a edição de ZH mostra as várias relações que podem se estabelecer no caso, um quem é quem de suspeitos e, naturalmente, resgata as teorias conspiratórias sempre presentes nesses episódios.

Tenho certo fascínio pelo tema desde que fui  impactado pela notícia da trágica morte de Kennedy.   Tinha, então, 13 anos e já era ligadíssimo em politica internacional. Acompanhara preocupado a crise dos mísseis e confesso que fiquei decepcionado com  o fracasso da invasão de Cuba pela baia dos Porcos.  Eram tempos nebulosos aqueles também no Brasil.  Em 1961 ocorreu a renuncia de Jânio e o movimento da Legalidade que Brizola comandou, vergando os que se opunham a posse de Jango. E eu acompanhava tudo pelo noticiário das emissoras de rádio, eis que adornava nossa sala, em tempos de pré-aquisição da TV, um enorme aparelho Philco, com 10 ou 12 ondas.

Mesmo sem TV em casa, lembro bem a cena repetida à exaustão da morte de Lee Oswald dentro de uma delegacia de Dallas por um tal de Jack Ruby ,diante do olhar espantado dos policiais texanos. São esses personagens que se perderem na história, tipo Jack Ruby ou a ex-esposa de Oswald, Marina e a filha Jane, dos quais não mais se ouviu falar, que me intrigam.  Que destino tiveram?  Ainda vivem?  E, afinal, quem pagou Ruby para matar Oswald?  Só o que ganhou destaque em primeiro plano foram as tragédias que devastaram os Kennedy .

Quis o destino que eu passasse mais de 50 dias em Dallas durante a Copa de 94, a serviço da Rádio Gaúcha.  Entretanto, foi só na  véspera da decisão que o Holmes Aquino, o Gilberto Kussler e eu que conseguimos agendar um tour pelo Depósito de Livros, junto ao descampado da praça Dealey.  Lá chegando, o americano que distribuía os gravadores  para acompanharmos todas as etapas da visita, ao descobrir que éramos brasileiros, deixou de cobrar pelo equipamento e ainda garantiu que torceria pelo Brasil no dia seguinte contra a Itália.

Durante todas as estações que descrevem o episódio e seus desdobramentos, andar por andar, fica a impressão que tudo foi  montado para justificar as conclusões da Comissão Warren, do legislativo dos EUA, segundo a qual Oswald agiu sozinho na morte de JFK.

Aí chegamos ao sexto andar e  surge o local protegido por vidros blindados,  junto a janela, reproduzindo o que teria sido o cenário de onde foram disparados os tiros mortais, inclusive com a espingarda de 6,5mm – desconheço se era a original.  Para meu espanto e dos companheiros constato que a distância daquela janela ao ponto onde passava o carro com a comitiva presidencial era não mais de cinco metros, diferentemente do que se imagina nas imagens que temos visto em filmes e na TV.   Com um pouco de treino até eu acertaria o presidente daquela posição, que dirá um experimentado ex-mariner como Oswad.  Faço o registro, mas não contem comigo pra qualquer empreitada do gênero.

Na verdade, sai do Depósito de Livros com as mesmas dúvidas de sempre.  De positivo, a constatação de que os americanos enfrentam as feridas de sua história com maturidade e naturalidade, sem espetaculosidade, mesmo tentando impor a versão oficial.  E aí a comparação com o recente episódio da exumação de Jango mostra que ainda temos um longo caminho a percorrer.




sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Annus horribilis

A exemplo de vários conhecidos estou contando os dias, as horas, os minutos e os segundos para que o ano de 2013 acabe. Inspirado na Rainha Elizabeth nomeei 2013, por todos os contratempos que produziu, como annus horribilis.

Vale lembrar que a expressão latina foi usada no discurso real no final de 1992, quando a soberana acusou o golpe representado pela separação de Charles e Diana, pelo topless de sua ex-nora Sarah exibido nos tabloides britânicos (sem contar que mostram a moça tendo os dedões do pé chupados por parceiro da hora; confesso que desconhecia este fetiche!), e outras estripulias da realeza, além de um incêndio no Palácio de Buckingham.

Ora, ora, com todo o respeito a veterana rainha, isso aí é fichinha com os ocorridos por aqui e acolá  em 2013. Incêndios, inundações, chuvas torrenciais, árvores mortais, manifestações que desandaram, crimes passionais como nunca, acidentes e incidentes, o imprevisto e o previsível, o que provocaram e o que provocamos.

A culpa de tudo seria o azarento 13 acoplado ao ano, o que nem assim salva os mensaleiros de terem neste o pior dos annus horribilis. Na astrologia chinesa 2013 é o Ano da Serpente que, diferente do sinistro réptil, representaria um período positivo e de muita sorte, mas muito imprevisível, com ocorrência desastres e calamidades!

Já a numerologia indica que se trata de um ano em que as divergências e atritos são potencializados. A astrologia já previa um 2013 regido por Saturno, geralmente considerado uma referência de algo sombrio, rígido e austero. E por ai vai.

Enfim, nem as ciências ocultas conseguem explicar suficientemente porque tanto tumulto em tão pouco tempo, que fizeram de 2013 o verdadeiro ano da Besta, vade retro!

Apesar de tudo, o que mais me preocupa agora é que depois de todas essas explicações não vai faltar quem ache que annus horribilis  tem a ver com aquela parte do corpo humano. Termina logo, 2013.