segunda-feira, 10 de junho de 2019

Inimigo #1


* Publicado nesta data em coletiva.net

Os cães são o inimigo número um dos amantes. A afirmativa não é gratuita. Os holandeses, sempre muito avançados nas questões dos costumes, já sacaram que os simpáticos dogs  e a  prática sexual são incompatíveis, tanto assim que liberaram uma praça de Amsterdã para encontros amorosos completos, ao mesmo tempo que em proibiram a circulação de cães pelo local.

Será que não é má vontade com os aparentemente inocentes animaizinhos? Os holandeses podem ter lá suas razões que não devem ser muito diferentes das que colhi em vários depoimentos de vítimas de nefasta interferência canina nas suas relações. Todos reclamam que, nos tempos que correm,  número expressivo das mulheres disponíveis, solteiras ou descasadas,  já estão emocionalmente envolvidas. Cães e gatos passaram a ocupar lugar de destaque em seus corações e mentes, o que explica a disseminação e a prosperidade do comércio dedicado a produtos para pets.   

Algumas moças e senhoras, inclusive, tem o hábito pouco saudável de permitir que seus animais domésticos durmam na mesma cama, impregnando-a de pelos e odores. O mesmo leito que depois será compartilhado para práticas mais saudáveis. Um conhecido conta que, submetido a uma situação assim, dava um jeito de só transar na banheira. Outro preferia o sofá, até se dar conta de que o móvel também era hospedaria de cães e gatos. Mas aí já era tarde e depois de um constrangedor acesso de espirros na hora H, decidiu romper com a namorada. Desde então dedicou-se a conquistar mulheres sem animais de estimação.

Mesmo com o excesso de pelos, os gatos não devem ser motivo de preocupação  porque eles não se fixam tanto nas pessoas e sim no habitat, portanto não veem o amante de sua dona como um rival, a disputar espaço e atenções. Com os cães é diferente. Cães são obsessivos, ciumentos.

Pós-graduado em psicologia de mesa de bar, também observo esse crescente apego das mulheres aos animais domésticos, adotados como se fossem filhos.  Constato ainda a preferencia feminina para batizar os animais com nomes estrangeiros, talvez para conferir a eles um status que seus pedigrees não autorizam. Nomes retirados, com frequência,  de séries televisivas ou do Netflix, tipo  Greys, Mirror, Gilmore, Merli, Seinfeld e barbaridades do gênero. 

E tem cada história! Amigo do colunista revela que a maior humilhação que sofreu foi quando uma parceira trocou um promissor happy hour pela compra de rações para seus cães. Até hoje ele não se recuperou da desfeita. Outro amigo conta uma situação que mostra até que ponto a espécie pode ser ardilosa.. Nos primeiros encontros na morada  da amante, o cãozinho de estimação não o hostilizava, ao contrário, fazia festa e se refestelava com ele, doce e meigamente. Mas isso ocasionava problemas quando voltava para casa e o cão da família ficava eletrizado, não largava do pé dele, e ele não sabia explicar o porquê. Só descobriu mais tarde: a amante, na verdade, tinha uma cadela e ela - a cadela - estava no cio, fazendo nosso amigo de portador da química que atiçava o cão  dele.  

Outro companheiro de confrarias se queixa de um cachorrinho voyer, que conheceu na casa da filial. O danado do bicho ficava à espreita na hora do rola-rola do casal e demonstrava todo o seu entusiasmo com o que assistia. O que mais irritava o sujeito era que, assim que colocava os pés na casa da outra, o cãozinho já subia para o quarto, rabo abanando freneticamente, para presenciar o espetáculo. Menos mal que era um animalzinho de pequeno porte, já que o nosso amigo temia que um dia o excitado cão saltasse sobre eles. Imagina o estrago, se o bicho fosse grande.

Ao expor essas situações só espero não ser execrado pelos adoradores de pets, nem sofrer retaliações da Felícia e do Godo, os discretos yorkshire aqui de casa.



segunda-feira, 3 de junho de 2019

Memórias da Fabico II


* Publicado nesta data em coletiva.net

A saga continua, com foco na universidade. Por enquanto, na base da nostalgia.  O texto a seguir é uma reedição do que encaminhei em 2010, a pedido do amigo e professor Flávio Porcello para os eventos que celebrariam o aniversário da  Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação:

A Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Ufrgs comemorou 40 anos na sexta-feira, 24 (setembro de 2010). Tinha me programado para comparecer ao jantar dançante no Clube Farrapos e rever os companheiros da primeira turma, dos idos de 1969, que deixou a Escola de Jornalismo, ligada a Filosofia, para constituir a Fabico, no prédio da gráfica da universidade, na Ramiro Barcelos. Mas outro compromisso atropelou a incursão nostálgica e só me resta participar das comemorações por meio deste depoimento, recordando fatos pitorescos de uma era que deixou saudades. (Vale registrar que em 2012 a colega Mirian Bravo liderou o movimento que resultou no Fabicaço, um exitoso reencontro de todas as gerações de fabicanos).

Lembro, por exemplo, do esforço que fizemos para promover no início da década de 70 o Salão de Arte e Comunicação, o Saco. Foram duas edições, a primeira dentro do prédio e a outra no canteiro, hoje urbanizado e na época uma espécie de território livre, na frente da faculdade. Isso porque a direção proibiu as manifestações, alegando que o pessoal estava fumando maconha (sim, já se fumava maconha naquele tempo; eu fora) e bebendo muito durante o evento (eu dentro).O grupo do qual eu fazia parte apresentou no primeiro ano um trabalho sobre Poesia Concretista, na base de slides e sons.  Ficou uma bosta, ninguém entendeu, nem nós. (Consta que durante uma das apresentações alguém correu pelado entre espectadores, mas acho que é lenda acadêmica. A ser verdade, fica a evidência de que este negócio de nudismo nas universidades não é novidade).

Lembro com saudade também das viagens que a turma fazia sob qualquer pretexto. Participei de uma para Brasília e outra para a Bahia, ambas de ônibus, dos antigos.  No grupo tínhamos mulheres, nossas colegas, especialistas em surrupiar artigos de lojas de souvenirs. Nunca vi gente tão habilidosa para enganar os atendentes das lojas. Na viagem de volta da Bahia (era um congresso de jornalistas) voltamos – o Félix Valente, ex-consultor de prefeituras do PT,  e este que vos fala – na maior pindaíba, com o equivalente a R$10 reais de hoje para comer e hospedarmo-nos no CEU (Centro dos Estudantes Universitários, no Rio, um pulgueiro,  ao equivalente R$ 1,00 o pernoite. A recomendação era de que a gente não descuidasse da bagagem). No Rio conseguimos comer uma mini pizza e uma guaraná para os dois. Voltamos em ônibus de linha, com transbordo no Rio, e chegamos a Porto Alegre mortos de fome.

E tem ainda a história do primeiro jornal que fizemos denominado Ernestão, homenagem-sacanagem ao professor Ernesto Correa e que constava de uma folha, tipo mural. Até hoje busco quem tenha um exemplar.  O Ernestão  ficou faceiríssimo. O mesmo Ernestão, diretor à época e muito gozador, pregou uma peça no professor Abrelino Rosa, que lecionava literatura brasileira e era um profundo conhecedor de Fernando Pessoa. Pois bem, na falta de professor para a cadeira de Redação Jornalística, convencido pelo Ernesto, o professor Rosa topou assumir a cadeira e começou a dar aula com um livro texto tipo “Jornalismo sem mestre”. Foi um gritedo do pessoal, até ele se dar conta do ridículo da situação, excomungando o Ernestão.

A Fabico era o patinho feito da Ufrgs, mas sempre nos orgulhamos dela.  Nossa turma foi a primeira da faculdade, com currículo novo, de 4 anos, prédio novo, depois de um semestre como Escola de Jornalismo, ocupando o terceiro andar do prédio da Filosofia. Então, isso moldou muito a turma, que superava a falta de condições estruturais com muita criatividade.  Não tínhamos laboratórios de rádio, nem de tv e equipamentos nem pensar.  E a máquina de fotografia era uma velha Roleiflex, compensada pela presença do professor Santos Vidarte.

Conviver com o Santos Vidarte, com o Ernesto Correa, com o professor Marcelo Casado de Azevedo, este um gênio, muito adiante do seu tempo, foi o melhor legado, pelo menos para mim, do anos de Fabico.  Recebíamos aulas de matérias não técnicas de professores de outras unidades da Ufrgs e sempre eram caras do primeiro time, Brochado da Rocha, o pai, Helga Picollo, entre outros.

O grupo de trabalho, quase permanente do qual eu fazia parte (Maria Wagner, Oscar Flores Junior, Silmar Muller,  Jaures Palma, Maria de Fátima, a Nossa Senhora, entre outros- onde anda essa gente?) era pretensioso e um dos trabalhos na cadeira de Rádio foi sobre Histórias em Quadrinhos - quadrinhos em rádio!!! O roteiro previa uma sonoplastia caprichada, com sons que expressassem onomatopeias (sock!, poff!!). Ficou uma porcaria e ainda foi censurado, em parte, pelo professor porque, entre outras coisas, criticava o Capitão América, que acusamos de ser símbolo do colonialismo americano. O argumento para a censura foi prosaico: a Rádio da Universidade, onde gravávamos o programa, tinha convênios de cooperação com o Consulado Americano, que poderia não gostar do nosso programa.

Enfim, levei oito anos para me formar, porque esqueci uma rematrícula e fiquei fora três anos. Consegui voltar em 76 e a formatura foi a coisa mais informal da qual já participei: na sala de aula, com alguns professores, os alunos e uns poucos pais, incrivelmente orgulhosos.  Eu estava de sandália porque tinha interrompido as férias em Florianópolis e minha santa mãe,  dona Thelia,  jamais me perdoou por não tê-la convidado para a minha formatura (história contada em https://viadutras.blogspot.com/2010/05/formartura.html). Um dos alunos tentou fazer um discurso (estávamos em plena ditadura) e o diretor Guerreiro, pra não de incomodar, deu por encerrada a sessão. (Qualquer dia desses resgato o texto que cometi a respeito).

Esperava voltar este ano(2010) à Fabico em grande estilo para a formatura da minha filha Mariana, em RP.  Mas que sina: interrompi uma reunião,  me toquei para a Ramiro Barcelos e adentrei apressado no auditório lotado...de alunos de uma disciplina qualquer. A formatura fora em gabinete, em outra sala, e tão informal que já terminara. E Mariana já havia fugado. Era a história da formatura – sem os pais - se repetindo em forma de drama e farsa.

Assim mesmo, ficam na memória as melhores lembranças da Fabico, especialmente daquela primeira turma, muito integrada, muito festeira e pouco politizada, o que era uma incoerência para a época.

(Voltaremos)


segunda-feira, 27 de maio de 2019

Memórias da Fabico


* Publicado nesta data em Coletiva.net

Recebi da minha irmã  Rosa Maria um mimo que estava perdido nos baús  da  família: uma carteirinha estudantil do DCE da UFRGS, do ano  de 1971. Lá aparece o retratinho do jovem sem barba que um dia fui e as informações básicas do documento, dando conta de que se tratava de um estudante de Jornalismo.  Logo vieram as lembranças da minha vida acadêmica, num período em que as universidades públicas estavam amordaçadas, o que  remete para o momento atual de forte questionamento sobre a atuação das mesmas por parte do Ministério da Educação. Por enquanto, vou me limitar ao resgate de  bons momentos, outros nem tanto,  vividos naquele  período, e para isso resgato um  texto publicado em outubro de 2010. Voltaremos. 

Foi em 1969, ainda no prédio da Filosofia, que a primeira turma da nova Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) começou, deixando de ser Escola de Jornalismo e passando no ano seguinte, com currículo novo, para o prédio onde funcionava a gráfica da universidade na Ramiro Barcelos. Os burocratas da academia decidiram unir duas unidades que estavam perdidas na estrutura universitária da Ufrgs e assim nasceu a Fabico. De um lado, uma fauna variada que  queria ser jornalista e de outro as gurias bem comportadas, futuras senhoras bibliotecárias.  Com duas tribos tão diferentes convivendo era difícil a integração, mas pelo menos não havia hostilidades. O interessante é que a cada ano trocava o diretor da Faculdade, revezando-se um professor da Comunicação e da Biblioteconomia.  E aí o curso que estava na liderança, recebia melhorias em detrimento do outro.

A verdade é que éramos do bem. E um tanto despolitizados, apesar - ou por causa de – vivermos o período mais fechado da ditadura. Não lembro de adesões mais expressivas às manifestações estudantis da época. O pessoal da comunicação parecia mais interessado na Contracultura, que ainda estava na moda.

Um episódio, entretanto, ficou marcado. Foi quando parte da turma resolveu dar uma prensa no falecido Aldo Schmidt , suspeito de ser informante do DOPS, o que ele desmentiu veementemente.  Havia essa paranoia na época, porque a universidade estava infestada de dedos-duros.  A situação foi constrangedora e humilhante para o colega – que  dá o nome a sala de imprensa do Aeroporto Salgado Filho; ainda existe? - e uma das poucas más lembranças da nossa Fabico de então.  E também uma exceção porque eu era sobrinho do então ministro de Educação, Tarso Dutra, em pleno regime militar (ele votou pelo AI-5), e jamais me foi cobrado qualquer posicionamento à esquerda ou à direita e nunca fui hostilizado devido ao parentesco.

Outro episódio, menos traumático, envolveu este que vos fala e um jornalista que se tornaria famoso nacionalmente na comunicação e na política. Sucede que ambos trabalhávamos na mesma empresa e, falando honestamente, não éramos muito assíduos às aulas. Ao final do semestre, nossas ausências em determinada matéria eram grave impeditivo para concluirmos a disciplina. O companheiro, que chefiava o departamento de jornalismo de uma rádio, convidou-me para fazer um apelo ao professor que vinha a ser, no período, o diretor da Fabico. Lá fomos nós para a sala do diretor, tentar passar a conversa no homem. Nem foi muito difícil. O diálogo que se estabeleceu, com ligeiras alterações, foi assim:

- Professor, como o senhor sabe, eu e o Dutra trabalhamos na rádio X e tivemos muita dificuldade para assistir as suas aulas. Nós queríamos saber se tem alguma forma da gente compensar as faltas, fazendo algum trabalho...

- Não se preocupem , conheço bem o trabalho de vocês e vou levar isso em consideração. Agora estou precisando de uma ajuda da rádio de vocês. Temos um projeto de Biblioteca Volante que precisamos divulgar...

O diretor nem precisou completar a frase e já foi atalhado pelo porta-voz da dupla de infrequentes:

- Pode deixar, amanhã nosso programa de maior audiência vai fazer uma entrevista com o senhor para divulgarmos esse importante projeto da nossa Fabico!

No dia seguinte o prometido foi cumprido e, graças à entrevista, conseguimos ser catapultados para o semestre seguinte.  É bem verdade que a Biblioteca Volante, uma velha Kombi, prestava um bom serviço, levando livros à periferia – o que diminui meu complexo de culpa.

Parte da turma gostava mesmo era de viajar e ficava um semestre inteiro percorrendo, como mochileiros, países da América Latina. A moda era Machu Picchu, no Peru, e coisas do gênero. Em uma dessas jornadas, um companheiro decidiu sair do armário, assumindo sua homossexualidade. A iniciação, pelo que soubemos, foi com um estrangeiro, o que provocou protestos na turma, essencialmente nacionalista e contrariada com aquela preferência por um parceiro do exterior. E ficou por isso mesmo, até porque o assumido veio juntar-se a outros dois ou três já incluídos na nossa cota de gays.

E mais não conto. Apesar de insistentes pedidos dos meus poucos,  mas fiéis seguidores, vou frustrá-los omitindo situações que testemunhei ou me relataram das célebres festas da Fabico. É que temo pela minha integridade física, uma vez que as pessoas envolvidas estão todas bem vivas, algumas em posições de projeção. Fico devendo essa.

Semana que vem tem mais.



segunda-feira, 20 de maio de 2019

Ah, essas pesquisas!


Publicado nesta data em Coletiva,net

Com frequência, meus perfis  nas redes sociais são infestados por pesquisas ditas científicas. Nesta era de fakenews desconfio de  tudo, sobretudo das pesquisas eleitorais e mais ainda daquelas que tratam de temas comportamentais. Exemplo recente é a que chegou à conclusão de que as mulheres mais jovens preferem os homens mais velhos, repetida à exaustão no twitter. Os veteranos mais assanhados aproveitaram para se vangloriar de façanhas inexistentes com moçoilas ou torcer para que isso se confirme no futuro, o que vai ocorrer com a mesma probabilidade de que eu ganhe a megasena da virada – nenhuma!

Aos desavisados, informo que, na verdade,  nem se trata de pesquisa, mas de uma plataforma que conecta mulheres jovens com homens maduros.  Uma espécie de Tinder da terceira idade. Não é estudo acadêmico, é negócio e parece promissor. Desde já antecipo: eu fora.
A criadora  da plataforma - sim, é mulher  - explica a atração das jovens pelos homens mais  velhos: elas procuram segurança. Sem me posicionar para não ser alvo de patrulhamento indevido, reproduzo literalmente a explicação: “ Os homens mais velhos têm uma aura de experiência, sabem o que querem e têm a quantidade certa de domínio que as mulheres mais jovens estão procurando – especialmente quando se trata de sexo. As mulheres jovens podem realmente explorar sua feminilidade pela primeira vez com homens mais velhos (...). Por outro lado, os homens maduros podem recuperar um pouco de sua juventude e se sentir como o protetor. “  Repito, eu fora.
Mais explicações ainda necessitaria a pesquisa que aponta uma série de nomes de homens ruins de cama. Também estou fora dessa, pois  meu nome não consta da lista, o que condiz com a realidade. Manifesto minha solidariedade aos 20 nomes listados, alguns de amigos  e de parentes próximos, que não  reproduzirei para evitar constrangimentos. Mesmo “beneficiado” pela omissão do nome Flávio, (se o nome aparecesse aí mesmo é que a pesquisa não teria credibilidade) dou pouco ou nenhum crédito à inusitada pesquisa, que teria sido realizada  pela Universidade de Campinas, Unicamp. Consta que os pesquisadores da Unicamp foram às ruas e perguntaram as mulheres qual o nome do sujeito com a qual tiveram a pior experiencia sexual e  alguns nomes se repetiram mais do que os outros. Daí surgiu a fatídica lista de 20  nomes.

A ser verdade que a  Unicamp usou recursos públicos para essa pesquisa vou dar razão ao Bolsonaro quando anuncia cortes nas pesquisas acadêmicas.

Pois é, fui cornetear a Unicamp e já  me questionava se a coluna não estava muito erotizada quando me deparei com a matéria da revista digital Donna, com o sugestivo título “Por que os adultos estão transando cada vez menos”, baseada em  pesquisa do acatado Jornal Britânico de Medicina. Uma das causas constatadas seria a atenção  demasiada que temos dado às redes sociais em detrimento dos jogos da cama.  Ou seja, muita rede e pouco enrosco. O restante confiram lá na matéria, que é mais uma a revelar a  verdadeira obsessão atual pela temática do sexo, inclusive no meio acadêmico. Reveladora ainda da preferência pelo sexo oral, mais falado do que praticado. (Desculpem, não resisti ao jogo de palavras.)

A propósito de pesquisas, começam a surgir as que mostram o potencial de candidaturas à  Prefeitura de Porto Alegre. Os resultados publicados, inflando os percentuais de nomes altamente rejeitados, me levam uma afirmativa categórica:  isso, sim, é obscenidade!

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Varig, patinete e bilboquê


* Publicado hoje em Coletiva.net

Se viva fosse, a Varig festejaria 92 anos no dia 7 de maio. A data provocou uma onda  nostálgica e ainda mexe com os brios dos gaúchos mais veteranos, que tinham na Pioneira motivos para  se orgulhar de um tempo em que as nossas façanhas serviam de modelo a boa parte de toda a terra. “Estrela brasileira em céu azul” a  “Varig, Varig, Varig” chegou  a voar com “pontualidade e  competência” para 795 destinos internacionais em associação com a Star Aliance. Era “a maneira  elegante de voar”, como destacou o comercial para TV que marcou seus 80 anos, justo em 2006 quando se acelerou a fase final da companhia.

Consta que, além de sua incompetência gerencial, a Varig foi vítima de uma manobra de José Dirceu, então todo poderoso dos governos petistas, para favorecer a TAM, hoje Latam, repetindo, aliás, o que na década de 60 o governo militar fez em relação à Panair para beneficiar  a  Varig.  Mas essas são outras histórias.

Sou do time dos veteranos, muito desfrutei das mordomias dos voos da Varig, mas não entro nessa  de culto ao passado pela voadora aqui nascida. Foi-se o tempo em que “andar de avião” era um charme, precedido do anúncio da nominata dos passageiros pelo serviço de som do aeroporto. Hoje as viagens aéreas foram democratizadas e, diferente do desfile de trajes elegantes de homens e mulheres nos voos em décadas passadas, hoje é comum encontrar passageiros de bermuda e  chinelo de dedo em roteiros nacionais  e internacionais. Acho uma chinelagem esse figurino despojado, mas não faço cara feia quando as moças de shortinho percorrem os apertados corredores dos aviões. Sinal dos tempos, assim como o fato de que meu neto de 3 anos e  minhas netas de 7 e 9  têm hoje muito mais milhas voadas do que eu aos 20 anos.  

Nada a ver com a Varig, mas tudo a ver com o resgate de alguns ícones do passado a ascenção do patinete como nova modalidade de transporte individual.  Outro dia assisti a um senhor todo engravatado patineteando entre  os carros na Borges de Medeiros que, como sabemos, é uma movimentada avenida central de Porto Alegre. Em algumas cidades - e logo vai ocorrer aqui - os patinetes elétricos tornaram-se verdadeiras pragas ao competir pelos espaços nas calçadas e espaços públicos com os  pedestres. Eis aí outra situação que não contará com minha adesão.  Não consigo me ver, descordenado que sou, pilotando um patinete, ziguezagueando e colocando em risco os  circunstantes.

O  que eu gostaria mesmo é de resgatar alguns brinquedos do passado, como aquele carrinho de lomba em que, meus irmãos e eu,  descíamos a  avenida Bagé, no bairro Petrópolis. Ou o  tabuleiro que de um lado era para o jogo de  damas (ou xadrez) e no outro a configuração para o ludo com seus peões de plástico.  Em algumas boas casas do ramo ainda se encontram esses tabuleiros e suas peças. Já não posso garantir o mesmo em relação ao bilboquê. A afirmação está baseada no ocorrido com um dileto amigo que, para atender pedido de sua lucida mãe de 96 anos, saudosa do  brinquedo da sua infância, saiu à procura de um bilboquê.  Na loja de brinquedos, a moça sorridente  foi surpreendida com o pedido:

- Por  acaso vocês tem aí bilboquê?

- Bil o quê? -, rimou e trocadilhou a moça.

- É tipo uma coisa onde um pauzinho a gente sacode para entrar num buraquinho -, tentou explicar meu amigo.

É evidente que ele  foi mal interpretado.
- Me respeita, seu safado, semvergonha. Pauzinho, buraquinho... Vou te denunciar por assédio -, reagiu a moça  diante do perplexo interlocutor.
Posso assegurar que meu dileto amigo é pessoa de ilibadíssima conduta, mas por via das dúvidas e evitar novos mal entendidos ele suspendeu a procura do bilboquê.
Apelar para a nostalgia  pode  ser perigoso às vezes. Pior que isso só a misturança de assuntos reunida neste texto...
                                          Eis  o bilboquê



segunda-feira, 6 de maio de 2019

Praga televisiva


*Publicado nesta data em Coletiva.net
O “este especialista” virou figurinha carimbada nos principais telejornais, verdadeira praga televisiva, embora  batam ponto também nas rádios e jornais.  Não é novo o expediente das editorias de  apelar para um expert a fim de  dar  embasamento e credibilidade à determinada matéria, mais ainda se o tema tratado é de natureza técnica. O que mudou foi a intensidade com que o “este especialista” passou a ser acionado agora.  Economia e finanças, educação, cultura, segurança pública, política internacional, logística e  infraestrutura, sexo dos anjos, para todos os temas sempre existe um especialista de plantão, pronto para despejar suas verdades sobre nós.

Especialmente na Rede Globo, que está em guerra aberta contra o governo Bolsonaro, o “este especialista” aparece em uma  matéria sim e em outra  também quando se trata de questionar alguma politica governamental. No caso, o “este especialista” acaba fazendo o papel de laranja do editorial da Globo. Não acredito que a maioria  deles se preste conscientemente a esse papel, mas é assim que funciona. Penso mesmo que o governo Bolsonaro tem se mostrado tão errático, tão confuso, tão despreparado   que nem precisaria do “este especialista”  para desqualificar o que vem sendo anunciado como propostas de governo.

Recrutados  na academia ou nas ONGs,  o “este especialista”,  acostumado a longas dissertações, acaba vítima das edições nos telejornais, que reservam poucos segundos – preciosos segundos televisivos – para aquela solução que vai se contrapor à pauta oficial  origem da reportagem. E o resultado é um festival de obviedades e de soluções inviáveis, pois os doutos senhores estão descompromissados com a realidade. Entre o pensar da academia e o fazer da vida real vai uma enorme distância, que os vaidosos opiniáticos não levam em conta.

Durante o período eleitoral, vários deles – cientistas políticos, sociólogos e afins - circularam nos espaços da mídia, tentando explicar o comportamento do eleitor com teses que não sobreviveram à abertura das urnas. O pior é quando passam a dar opiniões sobre coisas mais concretas, obras públicas por exemplo. O “este especialista” consultado sempre tem a solução mais fabulosa e arrojada para os problemas, não importando se existem recursos e viabilidade para a execução do faraônico projeto. Mas a ideia proposta passa a ser definitiva, inquestionável e ai de quem ouse pensar diferente. O nome desta postura chama-se desonestidade intelectual, pecado dos sectários e donos da verdade.

A responsabilidade primeira sobre esse processo, vale reprisar, não é dos tais consultores, mas de quem os contrata e aciona. A mídia parece envergonhada de assumir determinadas posições e busca respaldo na opinião do “este especialista” para reforçar o que, na verdade, pretende passar. Em outros casos, procura dar um verniz erudito a determinados temas, de forma a valorizá-los. E o que constatamos, na maioria das vezes, repito, é um festival de obviedades, o primado do achismo, nivelando-se aos piores debates esportivos. Nestes, pelo menos, permite-se o contraditório.



segunda-feira, 29 de abril de 2019

Livre pensar


*Publicado nesta data em Coletiva.net

Inspirado pretensiosamente no mestre Millor Fernandes (“Livre pensar é  só pensar”) resgato algumas postagens que cometi nas redes sociais ou copiei de outros sem que lembre os autores:
- O Facebook despertou um monte de filósofos, cientistas  sociais, políticos, juristas...
- Nada irrita mais um imbecil do que deixá-lo sem resposta.
- Não tenho medo das perguntas, tenho medo é das respostas.
- A grande tensão do sexo na terceira idade é que sempre pode ser a última vez.
- Aposentado detesta feriado porque não tem filas  para bater papo.Parte superior do formulário

- Da série Grandes Invenções da Humanidade: vaga de estacionamento para idoso e vacina de grátis!

- No futuro, todas as novelas terão um núcleo hetero.

- Lógica vigente: Imparciais são todos aqueles que estão a nosso favor...
- Lógica vigente II : toda a decisão judicial que contraria nossos interesses é uma arbitrariedade!
- Alerta: Deus e as câmeras de monitoramento estão vendo vocês.

- Tempos atrás as mulheres falavam sobre criação dos filhos, hoje trocam ideias sobre criação de cães e gatos!

- Como bom capricorniano, não acredito em horóscopos.

- Aceito críticas, mas prefiro elogios.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Desde os tempos do fax


* Publicado nesta data no Coletiva.net

Parece que foi ontem.  Dessa forma bem tradicional para iniciar um texto memorialístico é que estabeleço minhas ligações  histórias com o Coletiva.net A verdade  é que parece mesmo que foi ontem que o Fuscaldo, o Vieirinha e o LF Morais  começaram a editar um boletim de informações sobre a indústria da comunicação, o embrião do portal que celebra agora 20 anos.  Inicialmente  distribuído em fax (consulta rápida ao Google para saber do que se trata) evoluiu tecnológica, editorial e empresarialmente, até o estágio atual sob o comando da Marcia Christofali e  equipe.

Foi no Coletiva que cometi minha primeira crônica (“Quase lá”, acho que em 2008 ). Foi no Coletiva que publicaram um exagerado perfil meu, quando assumi a Comunicação do governo Rigotto. Foi no Coletiva  que se noticiaram minhas idas  e vinda profissionais – e não foram poucas no período. Foi no Coletiva  que me envolvi em uma ou outra polêmica, nos tempos em que as redes sociais ainda engatinhavam antes de assumirem os bate-boca digitais. Foi no coletiva que tive  espaço para  divulgar os livros que publiquei, graças ao embalo motivado por  aquela primeira crônica. Foi por uma iniciativa do Coletiva, junto com a Esade, que tomei coragem, já sessentão,  para voltar aos bancos escolares e cursar uma especialização em Jornalismo Empresarial.

Nossos laços  se  estreitaram ainda mais  quando fui convidado  – intimado, seria o termo mais  adequado, né Márcia – para ocupar uma das vagas de colunista semanal, o que faço com imenso prazer às segundas-feiras, desde setembro do ano passado. Trato o espaço  com carinho, tanto assim que fico lapidando o texto até domingo de manhã quando aviso a redação sobre o envio do que considero a edição final. Agora me dou conta de que já  postei  quase 30 colunas  nesse  período de convivência com companheiros num espaço  de pluralidade de posições. Essa é outra característica do Portal, eu  diria um predicado e tanto nestes tempos de pouca tolerância com o contraditório: todos se manifestam livremente  nas colunas e nos artigos.

Mais recentemente, a edição anual da revista Tendências passou a  prestar mais uma valiosa contribuição à Comunicação ao apontar caminhos futuros  e desenhar  inovações para essa área. Cada edição dá vontade de ler do começo ao fim numa sentada.

Penso que uma comemoração como os  20  anos do Coletiva mereceria um texto mais épico, mas  eu já me considero de casa e preferi resgatar o melhor, pela parte que me toca, da  relação nessas duas décadas de convivência. Agora fico à espera da boca livre festiva, para o qual certamente serei convidado e onde proporei um brinde, com votos de pelo menos mais 20 anos, mais 20, mais 20 para a nossa Coletiva.




segunda-feira, 8 de abril de 2019

HISTÓRIAS CURTAS PARA PEQUENOS CONTOS


*Publicado nesta data em Coletiva.net

O revisor
Ele era o revisor da editora. Mas inconformado em apenas corrigir os erros -  muitos  – gramaticais, passou a modificar – para melhor – o estilo do texto do autor iniciante. Cortou e acrescentou em todos os capítulos. Ficou satisfeito com as mudanças.  O autor logo percebeu que a obra não era a original que escrevera, mas até ele reconhecia que o resultado era tão melhor em forma e conteúdo que silenciou sobre o novo texto.

A obra, uma ficção que se pretendia inédita, conquistou sucesso imediato, virou best seller, frequentando por  muito tempo as listas dos mais vendidos e as premiações do gênero. Considerado revelação literária  do  ano, o autor cometeu outras obras, todas elas revisadas, ou melhor, reescritas pelo mesmo especialista e todas elas de sucesso garantido. Graças a isso, assinou contratos fabulosos, cedendo direitos para  a TV e o cinema, acabou eleito para a Academia Brasileira de Letras e passou a sonhar com o Nobel de Literatura. Seria o primeiro brasileiro com essa láurea.

Tudo transcorria bem para o autor, agora famoso e rico, até que...

Tele salvação
O robô do telemarketing completou para a moça  da posição 15 a trigésima ligação naquela tarde. Ela contabilizava 25 nãos  e cinco que nem  atendidas foram. A surpresa agora é  que já  na primeira chamada o telefone foi atendido.

- Boa tarde, meu nome é  Lisandra e estou ligando para lhe oferecer  uma oferta excepcional da nossa operadora de telefonia. Para  sua segurança esta ligação está  sendo gravada.

A segunda surpresa foi que a ligação  não  foi cortada  e , mais do  que isso, houve uma calorosa receptividade da voz  feminina do outro lado:

- Que  bom que tu ligaste, minha querida. Eu estava me sentindo tão só.

- Senhora, nossa oferta é realmente excepcional...

-  Sabe que ninguém  liga mais aqui pra casa. Nem meus filhos, estes ingratos, nem meus netos, que eu amo tanto.

- A senhora gostaria de ouvir nossa oferta e as condições especiais...

- Fico sozinha em casa, eu e meus  gatos. A Piruska e o Galileu. São  umas gracinhas.

A moça  do telemarketing, acostumada aos maiores impropérios dos potenciais clientes, decidiu mudar o rumo da  conversa, pensando em mais adiante retomar a proposta e tentar fechar pelo menos uma venda naquele dia. Foi quando do outro lado veio uma revelação que a deixou muito preocupado com aquele contato.

- Olha, minha filha, já pensei até em acabar com tudo... Essa vida  de isolamento não é vida.

Neste momento a supervisora aproximou-se  da  posição da moça  e...

 Venda casada
O apartamento de andar inteiro num bairro elegante da cidade ficara grande demais para o casal que chegara aos 60 anos e mais. Os filhos estavam criados, encaminhados profissionalmente e cada um com sua parceria.  Agora havia dois quartos desnecessários no amplo imóvel. A solução foi a mudança para outro  apartamento, menor, mas mais aconchegante, num prédio recém construído,  ali perto porque não abriam mão do status que o bairro lhes  conferia, ele medico de clientela cativa e abonada e ela funcionária pública de muitos avanços.

A solução foi vender o apartamento antigo  e é  aí que aparece um novo personagem nessa história: o corretor de imóveis.

-  Olha, doutor, gostaria de ter exclusividade por  pelo menos dois meses para a venda do imóvel.

- Como assim? Já tens alguém em vista?

- De certa forma tenho. Uma tia que ganha uma boa pensão pode se interessar.

O proprietário ficou a imaginar a idade da tal tia, já que o corretor rivalizava em idade com ele. Foi então que fez uma proposta ao corretor:

- Tenho um túmulo no cemitério que também quero vender. Será que tua tia não se interessa?

E acrescentou outro argumento de venda:

- Se ela for gremista, explica que a sepultura tem vista para o Estádio Olímpico, ou o que restou dele.

-  Doutor, o senhor está me propondo uma venda casada?

Como sou desapegado dos meus  textos, essas três ideias  ficam disponíveis para  quem quiser dar  seguimento. Podem, inclusive, trocar os  títulos. Garanto que não vou cobrar os direitos autorais.


segunda-feira, 1 de abril de 2019

A crueldade do tempo


* Publicado nesta data em Coletiva.net

Minha amiga Cilene não cozinha na primeira fervura, mas ainda dá um caldo e foi com esses atributos que se apresentou na sua cidade natal para uma festa de confraternização da escola onde cursou o ensino médio. “Foi um choque”, confessou mais  tarde quando divagávamos sobre os reencontros com nosso passado. “Aquelas bonitinhas, filhinhas de papai, que eu invejava, agora estavam viradas em matronas. E os garotões que eu gostaria de namorar e não me davam bola, estavam quase irreconhecíveis:  carecas, barrigudos  e cheios  de rugas”, revelou.

A observação parecia conter com uma pontinha de ressentimento pelas desfeitas do passado, mas relevei a percepção  ao me dar conta de que já tinha enfrentado situações semelhantes mais de uma vez. A guria cobiçada da juventude, objeto de muitas homenagens, agora mais se parece como algumas daquelas estátuas volumosas de Buda. Temo por novos encontros porque não consigo esconder meu  olhar de decepção pelas marcas do tempo em amores não correspondidos. Pior quando vem a indagação: “Não estás me reconhecendo? ”  Sou obrigado a admitir que não.

Porque é fato, ou por puro cinismo, tenho merecido elogios pela boa forma e aparência  jovial nos encontros com amigos de antanho e ex-caldáveis.  O mesmo ocorreu com a amiga Cilene no seu reencontro redentor. Foi tão elogiada  que se viu obrigada a  procurar um espelho, para honrar sua representatividade feminina e se certificar de que realmente os elogios tinham lá seu fundo de verdade.  “Espelho, espelho meu, tem alguém mais bem conservada do que eu”, confessou, durante nossa divagação, a conversa  unilateral que manteve com o espelho.

Não chego a tanto, não sou tão vaidoso, mas costumo perguntar às pessoas da mesma faixa etária e em boa forma qual o segredo de se manterem assim. Certa vez ao fazer este questionamento a um ex-governador gaúcho, firme e forte nos seus 80 ou mais , recebi dele uma resposta direta, sem titubear:

- Sexo, meu filho, muito sexo.

Quem sou eu para duvidar de uma liderança politica que conduziu os  destinos do Rio Grande! Desconfio que seja o mesmo segredo da amiga Cilene.